
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, argumentou nesta segunda-feira (30/6) que o "andar de cima", a camada mais rica da população, também precisa contribuir para o ajuste das contas públicas. Para ela, o país está "cansado" de discutir o corte de programas sociais e outras restrições orçamentárias que prejudicam quem ganha menos.
Gleisi postou um texto nas redes sociais defendendo as medidas fiscais adotadas pelo governo nas últimas semanas, incluindo o decreto presidencial que aumentou alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — derrubado pelo Congresso Nacional.
O posicionamento ocorreu após a publicação de um vídeo pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendendo a derrubada e negando que tenha traído o governo e descumprido acordos feitos nos bastidores ao pautar a matéria de surpresa.
"O que está faltando nesse esforço para equilibrar as contas é a contribuição do chamado andar de cima, que não paga imposto pelo rendimento de aplicações financeiras, pelos lucros e dividendos distribuídos aos acionistas, que goza de isenções fiscais injustificáveis e são os que lucram com a escandalosa taxa de juros", escreveu a ministra.
Ela argumentou que a gestão federal quer cobrar mais Imposto de Renda (IR) dos mais ricos para financiar a isenção para quem ganha salário de até R$ 5 mil por mês, projeto que já está em tramitação no Legislativo, mas que foi atrasado pela escalada da tensão entre o Congresso e o Planalto. Gleisi disse ainda que o Executivo quer começar a rever os benefícios fiscais, que custaram cerca de R$ 600 bilhões no ano passado.
O Brasil está cansado dessa conversa de cortar políticas sociais, congelar o salário-mínimo e sacrificar os aposentados. Isso não é debate sério sobre política fiscal; é defesa de privilégios e injustiças. Este país tem sim distorções históricas que precisam ser corrigidas, mas…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) June 30, 2025
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Para a ministra, o governo Lula já apresentou resultados no ajuste das contas públicas, reduzindo o deficit primário de 2,3% em 2023 para 0,09% em 2024, e as despesas primárias de 19,6% para 18,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Ela culpou ainda o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo crescimento da dívida pública.
"Não são os investimentos do governo, sociais e em infraestrutura, que pressionam a dívida pública. É a política monetária que herdamos do governo passado, com juros estratosféricos que vão levar essa conta a R$ 1 trilhão este ano", disse.
Rejeição a cortes em programas sociais
Gleisi criticou ainda a cobrança de parlamentares e investidores por corte de gastos do governo, especialmente os voltados a programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.
"O Brasil está cansado dessa conversa de cortar políticas sociais, congelar o salário-mínimo e sacrificar os aposentados. Isso não é debate sério sobre política fiscal; é defesa de privilégios e injustiças. Este país tem sim distorções históricas que precisam ser corrigidas, mas jogar a conta nas costas da maioria só vai agravar o problema e aumentar a desigualdade", enfatizou.
Sem o decreto do IOF, o governo terá que aumentar o contingenciamento de 2025 em cerca de R$ 10 bilhões. Há uma outra Medida Provisória (MP) também em tramitação, que aumenta o IR de investimentos como a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), entre outras mudanças. Caso esse texto também seja derrubado, o prejuízo será de mais R$ 10 bilhões para o orçamento federal.