Cúpula do Brics

Em discurso nos 10 anos do NDB, Dilma defende novo modelo de cooperação global

Presidente do banco de desenvolvimento fundado pelos Brics critica sistema financeiro internacional e cobra investimentos em infraestrutura verde e inclusão digital

Dilma Rousseff:
Dilma Rousseff: "A criação do NDB foi a declaração de que o Sul Global deixaria de ser apenas receptor passivo de modelos de crescimento impostos, para tornar-se arquiteto do seu próprio futuro" - (crédito: Reprodução Youtube)

Em discurso durante a cerimônia pelos dez anos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), nesta quinta-feira (3/7), a presidente da instituição, Dilma Rousseff, defendeu um novo modelo de cooperação internacional. 

Para ela, a instituição — criada em 2015 pelos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) — vai além de uma alternativa institucional: representa uma afirmação política e econômica de soberania, equidade e justiça social no desenvolvimento global.

“A criação do NDB foi a declaração de que o Sul Global deixaria de ser apenas receptor passivo de modelos de crescimento impostos, para tornar-se arquiteto do seu próprio futuro”, afirmou Dilma. Ela destacou que o banco nasceu com a missão de financiar infraestrutura e modernização sem impor modelos uniformes, priorizando as realidades locais e respeitando as escolhas nacionais.

Segundo a ex-presidente, os últimos dez anos mostraram que é possível construir uma instituição multilateral eficiente, transparente e sensível às necessidades dos países em desenvolvimento. “Não temos o objetivo de substituir quem quer que seja, mas queremos provar que há mais de uma forma de promover o desenvolvimento”, disse.

Um mundo mais desigual e fragmentado

Dilma alertou para o agravamento das crises globais desde a fundação do banco: “O mundo de hoje está mais fragmentado, mais desigual e mais exposto a crises sobrepostas — climáticas, econômicas e geopolíticas.” Ela denunciou, ainda, o uso crescente de sanções, tarifas e restrições financeiras como instrumentos de pressão política, e criticou a manutenção de um sistema financeiro internacional “profundamente assimétrico”.

Diante desse cenário, a presidente do NDB defendeu uma revalorização do multilateralismo e a necessidade de instituições que reflitam as realidades atuais. “Esse é o motivo pelo qual o NDB é tão importante. Nossa missão continua não apenas relevante, mas essencial”, disse.

O futuro, segundo Dilma, exige que o NDB esteja na vanguarda dos investimentos em infraestrutura verde, energia limpa, tecnologias climáticas e inclusão digital. Para ela, o financiamento climático deve deixar de ser uma promessa e se transformar em instrumento real de adaptação e resiliência, especialmente nos países mais vulneráveis.

Dilma também enfatizou a necessidade de que a revolução digital seja conduzida de forma estratégica e inclusiva: “Sem políticas adequadas, a transformação digital pode aprofundar a exclusão. Queremos que ela seja ferramenta de empoderamento, não de marginalização.”

Governança horizontal

A presidente do NDB destacou, ainda, a estrutura de governança da instituição, baseada na igualdade entre os membros — sem países dominantes ou vozes silenciadas. “Operamos com base na parceria horizontal. O desenvolvimento é mais eficaz quando está ancorado nas prioridades nacionais e pertence àqueles a quem se destina”, declarou.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Ainda em discurso, Dilma reforçou o compromisso do banco com um desenvolvimento “sustentável, inclusivo, justo, resiliente e soberano”, e conclamou os países do Sul Global a manterem a cooperação como ferramenta central para enfrentar os desafios da próxima década.

 

postado em 04/07/2025 11:51
x