
O Congresso Nacional prepara suas ações para a crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos — que tem como pano de fundo a situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), afirmou que o colegiado prepara uma missão institucional a Washington, com apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin, para dialogar diretamente com o parlamento norte-americano. O objetivo é evitar prejuízos ao setor produtivo diante da decisão dos presidente dos EUA, Donald Trump, de sobretaxar os produtos brasileiros em 50%. "É preciso deixar claro: essas são medidas de contenção. A resposta definitiva virá do restabelecimento da confiança internacional no Brasil", disse Nelsinho ao Correio.
Como o senhor avalia a decisão de Donald Trump de vincular diretamente a nova tarifa às críticas do Brasil ao Judiciário e às plataformas digitais?
As relações comerciais precisam ser construídas com base em previsibilidade e confiança mútua. O Brasil tem um papel estratégico na economia global. Decisões que geram insegurança jurídica ou instabilidade institucional acabam afetando a imagem do país no exterior. É preciso maturidade para separar divergências políticas internas da condução da política externa e comercial. As diferenças políticas entre os países devem ser tratadas com serenidade pela política externa, buscando preservar o que Brasil e EUA construíram ao longo de mais de dois séculos de parceria.
A carta enviada por Trump ao presidente Lula menciona o julgamento de Jair Bolsonaro. O senhor considera que essa taxação tem um viés político?
Existe, sim, um componente político, mas o Brasil precisa responder com equilíbrio e foco nos resultados. Não podemos permitir que disputas internas comprometam a credibilidade do país como parceiro comercial. É hora de proteger empregos, investimentos e exportações com responsabilidade, sem ampliar tensões desnecessárias.
O senhor mencionou que a diplomacia parlamentar será a principal resposta do Senado. Qual será o foco dos encontros em Washington?
A proposta surgiu em conversa com o encarregado de negócios dos EUA e já conta com apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin. Nosso foco será técnico e institucional. Vamos mostrar aos parlamentares americanos que o Brasil é parceiro confiável nas cadeias globais de alimentos, energia e tecnologia. O objetivo é construir pontes, reforçar a confiança e garantir que decisões políticas não prejudiquem setores produtivos que geram riqueza para ambos os países. Também convoquei uma reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores com o Itamaraty e o MDIC para alinharmos uma estratégia nacional.
Há algum plano emergencial sendo discutido no Congresso para mitigar os efeitos econômicos dessa medida nos estados exportadores?
Sim. Desde o anúncio do aumento das tarifas, coordenamos ações emergenciais como ampliação de crédito à exportação, instrumentos de proteção cambial e suporte técnico às cadeias produtivas mais afetadas. Mas é preciso deixar claro: essas são medidas de contenção. A resposta definitiva virá do restabelecimento da confiança internacional no Brasil — e isso só acontece quando o país transmite previsibilidade e segurança nas decisões.
* Estagiária sob a supervisão de Luana Patriolino
Política
Política
Política