Guerra comercial

Lula defende soberania do Brasil ao NY Times: "Seriedade não exige subserviência"

Em primeira entrevista ao NYT em 13 anos, presidente brasileiro critica tarifas de 50% anunciadas por Trump e diz que país não aceitará intimidação política. Ainda segundo o petista, retaliações estão em estudo

"Não estamos pedindo favores. Estamos pedindo respeito mútuo entre nações soberanas", diz o presidente - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com indignação à ameaça do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir desta sexta-feira (1º/8). Em entrevista ao The New York Times, publicada nesta terça-feira (29/7), o petista acusou o republicano de tentar intimidar uma nação soberana e afirmou que o Brasil não aceitará ser tratado com desrespeito.

“O presidente Trump está tentando intimidar uma nação de 200 milhões de pessoas, ameaçando com tarifas de 50%”, declarou Lula. “Saibam que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência.”

A declaração de Trump — segundo a qual as tarifas seriam uma resposta ao processo judicial movido no Brasil contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe após as eleições de 2022 — elevou a temperatura entre Brasília e Washington. Lula, em sua primeira entrevista ao NYT em 13 anos, disse que decidiu falar diretamente ao povo norte-americano por estar “profundamente frustrado” com o que classificou como uma violação da soberania brasileira.

“Talvez ele não saiba que, aqui no Brasil, o Judiciário é independente”, afirmou o chefe do Executivo ao rebater a exigência de Trump de que as investigações contra Bolsonaro sejam arquivadas. “O Estado democrático de direito, para nós, é algo sagrado. Porque já vivemos ditaduras, e não queremos mais isso.”

Ainda segundo Lula, o governo brasileiro tentou abrir canais de diálogo com Washington, mas foi ignorado. Ele reforçou que está disposto a conversar, mas alertou que o país não cederá à pressão. “Trato todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”, reforçou o presidente, que aparece de boné na imagem que ilustra a entrevista com os dizeres “O Brasil pertence aos brasileiros”, símbolo de sua campanha recente em defesa da soberania nacional.

A dois dias do tarifaço, o Palácio do Planalto estuda, agora, medidas de retaliação comercial caso Trump avance com as tarifas, que, segundo analistas, estariam entre as mais altas já impostas pelos EUA a outro país — e com motivações claramente políticas, não econômicas. “Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno diante de um país grande”, declarou Lula. “Conhecemos o poder econômico, militar e tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos causa medo. Nos causa preocupação.”

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Ao longo do último mês, o presidente Lula tem elevado o tom contra as declarações de Donald Trump em discursos pelo país, reforçando a defesa da democracia e da independência dos Poderes. As redes sociais do petista passaram a dar ênfase quase diária à soberania nacional. E interlocutores do governo indicam que o Brasil pode levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), caso as altas taxas entrem em vigor.

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Trump vem atacado abertamente o governo Lula em defesa de Bolsonaro. Em discursos recentes, inclusive, comparou sua situação judicial à do ex-mandatário brasileiro, ambos investigados por tentativas de reverter os resultados eleitorais.

Na entrevista à publicação dos EUA, Lula foi direto: “Se a invasão ao Capitólio tivesse ocorrido no Brasil, Trump estaria enfrentando um processo judicial, assim como Bolsonaro”. Procurada pelo NY Times, a Casa Branca não comentou as declarações. Nos bastidores, diplomatas brasileiros avaliam que o tom eleitoral do republicano e e sua associação pública com Bolsonaro dificultam uma solução diplomática de curto prazo.

Ainda assim, o presidente Lula diz confiar na força das instituições democráticas — no Brasil e nos Estados Unidos. “Não estamos pedindo favores. Estamos pedindo respeito mútuo entre nações soberanas”, concluiu.

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postado em 30/07/2025 14:43 / atualizado em 30/07/2025 17:04
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