O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, chamou de "covarde" a atitude do governo dos Estados Unidos de suspender os vistos da mulher e da filha dele, de 10 anos, e culpou a família Bolsonaro pela ofensiva americana. A família do titular da pasta foi avisada da decisão pelo Consulado Geral dos EUA em São Paulo, via e-mail. Padilha não foi alvo da decisão por não ter visto — o dele expirou em 2024.
"Estou absolutamento indignado. É uma atitude de covardia, um ato covarde que atinge uma criança de 10 anos e a minha esposa", afirmou, em entrevista à Globonews. "As pessoas que fazem isso e o clã Bolsonaro, que orquestra isso, têm de explicar, não para mim nem só para o Brasil, para o mundo inteiro qual é o risco que uma criança de 10 anos pode ter para o governo americano", acrescentou.
Segundo o comunicado, o cancelamento ocorreu porque "surgiram informações" indicando que a esposa e a filha do ministro não são mais elegíveis para o documento, que autoriza a entrada no território norte-americano.
Padilha acusou a família do ex-presidente pela decisão dos EUA e enfatizou que "o clã Bolsonaro montou um verdadeiro escritório do lobby da traição nos Estados Unidos". "Eles (autoridades americanas) devem achar que eu queria viajar para os Estados Unidos o tempo todo. Minha família não vive em Miami às custas de vaquinha de apoiadores, como está parte do clã bolsonarista", frisou. "Devem ter procurado um visto meu, viram que não tinha e resolveram atacar a minha filha de 10 anos de idade, minha esposa. Minha filha sequer era nascida quando criei o Programa Mais Médicos, e com muito orgulho."
Na quarta-feira, o Departamento de Estado americano, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, anunciou a suspensão de vistos de autoridades brasileiras responsáveis pela criação do programa Mais Médicos, em 2013. Na nota, foram citados os servidores Mozart Sales e Alberto Kleiman, que eram diretores do Ministério da Saúde à época. Padilha, por sua vez, também era ministro da Saúde, nomeado pela então presidente Dilma Rousseff.
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Para o governo dos EUA, os alvos da sanção teriam ajudado a "enriquecer" o governo de Cuba. Na época da criação, o Mais Médicos trouxe profissionais do país caribenho para suprir a falta de profissionais em regiões remotas. "Nossas ações mandam uma mensagem inconfundível de que os Estados Unidos promovem a responsabilização daqueles que possibilitaram o esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano", disse o órgão.
Com a revogação de vistos, os alvos da medida não podem viajar aos Estados Unidos — se já estiverem em território americano, os documentos serão revogados assim que deixarem o país. Na quinta-feira, Padilha saiu em defesa dos servidores citados pelo Departamento de Estado e reiterou o orgulho de seu trabalho na criação do Mais Médicos.
Críticas
Após o anúncio da sanção contra a família de Padilha, a titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, saiu em defesa do ministro. "Punir uma criança, a família do ministro Padilha, como fez o governo Trump provocado por Bolsonaro, é muita covardia. É assim que agem a extrema-direita e seus cúmplices", escreveu nas redes sociais. "Mas o Brasil se orgulha do ministro que fez o Mais Médicos e de toda sua equipe. Salvaram vidas, ao contrário do que Bolsonaro fez na pandemia", acrescentou.
Pouco antes de a informação vir à tona, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também defendeu o programa. "É desinformação ou provocação premeditada? Mais um ataque infundado do presidente dos Estados Unidos contra o Brasil — desta vez, mirando o programa Mais Médicos", disse Rui. Ele destacou que, atualmente, mais de 90% dos profissionais inscritos no programa são brasileiros. "O discurso norte-americano, além de falso, é mal-intencionado", frisou.
Em julho, os Estados Unidos também suspenderam o visto de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo Alexandre de Moraes e o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso; e do procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet. As medidas são atribuídas à articulação feita pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) junto a autoridades americanas, assim como a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Trump.
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