
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta segunda-feira (15/9) a 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir). Em discurso, o presidente celebrou avanços conquistados em políticas afirmativas, mas alertou que o Brasil "ainda está muito longe" de superar o racismo.
"O racismo é crime e é também uma doença que precisa ser erradicada do nosso país", declarou o petista em discurso realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
O presidente destacou programas sociais do governo como iniciativas de combate ao racismo. Segundo ele, 73% dos beneficiários do Bolsa Família são famílias chefiadas por pessoas negras.
O presidente também citou conquistas no ensino superior, lembrando que a Universidade de São Paulo (USP), "que era uma universidade de pessoas brancas", hoje tem maioria de estudantes negros e da periferia. "Esse é o dado mais extraordinário que eu tenho falado. Eu frequentei muito tempo a USP e hoje, se você for na USP, a maioria são pessoas negras e muita gente da periferia frequentando aquela que é considerada a mais importante universidade desse país", afirmou o presidente.
Preconceito enraizado
Apesar dos avanços, Lula foi enfático ao dizer que o preconceito racial permanece enraizado na sociedade brasileira. "O preconceito ainda é muito forte no nosso meio e vocês sabem que o preconceito é uma doença. O preconceito a gente não resolve apenas colocando na Constituição que é crime inafiançável, porque o preconceito, na verdade, está na massa encefálica de muita gente que não quer aprender", declarou.
O presidente citou exemplos do racismo cotidiano: "Um negro dirigindo um carro de luxo só pode ser o motorista ou a serviço do patrão ou alguém que roubou aquele carro. Uma mulher negra numa estação de trabalho na frente de um computador só pode ser secretária. Se tiver de pé, deve ser a que serve cafezinho".
Lula ainda citou o recente caso envolvendo a escritora paulista Lilia Guerra, que relatou ter sido acusada de furtar um lençol e uma manta de uma pousada dias depois de ter voltado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
"Não podemos naturalizar esses absurdos. Não podemos achar normal que uma escritora negra, convidada de um festival literário, seja injustamente acusada de furtar objeto da pousada em que se hospedou. É inconcebível que a sociedade brasileira esteja ainda nesse lugar de preconceito e discriminação. É inaceitável que um ser humano tenha oportunidades limitadas ou esteja sempre sob suspeita por causa da cor da pele", pontuou Lula.
Ministra destaca "revolução sem volta"
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, declarou aberta a conferência destacando que as políticas de cotas representam "uma revolução sem volta". Emocionada, ela pediu para que todos os cotistas presentes no auditório se levantassem para receber uma salva de palmas.
"Minha mãe sempre me diz que o nosso conhecimento ninguém tira e não tem governo autoritário, não tem tentativa de golpe que seja capaz de tirar a consciência política de quem já adquiriu", afirmou a ministra, que é cotista e professora desde 2017.
Anielle apresentou números dos investimentos do governo atual: mais de R$ 120 milhões humanizando o SUS; R$ 100 milhões para a saúde de famílias quilombolas; mais de R$ 700 milhões no programa Juventude Negra Viva; e mais de R$ 600 milhões em centros de cultura em territórios periféricos e comunidades tradicionais.
Conapir
A 5ª Conapir tem como tema Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial. Durante as discussões, delegadas e delegados participarão de grupos de trabalho, plenárias e de eixos e xirês (roda ou dança, em Yorubá) de discussão.
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