Congresso

CPMI do INSS se reúne nesta terça para aprovar novas convocações

Ausência de Antônio Carlos Camilo frustra CPMI do INSS, mas parlamentares integrantes do colegiado intensificam ofensiva. Eles querem convocar seis testemunhas, incluindo esposa, filho e o advogado Nelson Willians

A ausência de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como "Careca do INSS", à sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, nesta segunda-feira (15/9), provocou uma reação imediata dos parlamentares. O presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), anunciou que a comissão votará, em sessão extra nesta terça-feira (16/9), seis requerimentos de convocação em regime de urgência. A medida é vista como resposta ao descumprimento de acordo firmado pela defesa de Camilo, que havia assegurado sua presença.

Entre os convocados estão Tânia Carvalho dos Santos, esposa de Camilo, o filho Romeu Carvalho Antunes, e os sócios Rubens Oliveira Costa e Milton Salvador de Almeida Júnior. Também foram chamados a depor a advogada Cecília Montalvão, esposa do empresário Maurício Camisotti, e o criminalista Nelson Willians, alvo de operação da Polícia Federal e citado em movimentações financeiras ligadas ao esquema. Todos comparecerão na condição de testemunhas, o que torna obrigatória sua presença.

O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), ressaltou que a inclusão de familiares não é iniciativa da comissão, mas consequência da própria atuação dos investigados. "Não foi a CPMI quem expôs essas pessoas, foram os próprios réus que as colocaram no sistema criminoso. Eles trouxeram os familiares para o esquema, e agora eles precisam testemunhar", afirmou. Segundo ele, Tânia teria movimentado R$ 3 milhões em espécie para a compra de um imóvel em Brasília, enquanto Romeu aparece como sócio em empresas suspeitas de receber recursos desviados de aposentadorias.

Gaspar enfatizou ainda a convocação de Nelson Willians como um dos pontos centrais. O advogado, embora alvo de buscas da PF, não é formalmente investigado. "Vamos dar esse crédito a ele. Terá a oportunidade de explicar sua atuação e os indícios que envolvem seu nome. Como testemunha, não poderá faltar", disse o parlamentar. A advogada Cecília Montalvão, esposa de Camisotti, também deverá esclarecer movimentações bancárias que, segundo a comissão, superam R$ 300 milhões.

A defesa de Camilo justificou a ausência ao afirmar que o investigado dará prioridade ao inquérito da Polícia Federal, alegando que, diante do "clima político" da CPMI, a oitiva "seria improdutiva". O Supremo Tribunal Federal (STF) havia garantido a ele o direito de não comparecer. A decisão frustrou parlamentares que aguardavam um dos depoimentos mais aguardados da comissão. "Perdemos a oportunidade de ouvir hoje um dos principais investigados no escândalo que desviou recursos dos aposentados. É lamentável, mas a comissão seguirá trabalhando", declarou Carlos Viana.

Parlamentares da oposição e da base concordaram que a ausência enfraquece a colaboração do investigado. O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) avaliou que a decisão é legítima, mas atrapalha o ritmo das investigações. Já o deputado Duarte Jr. (PSB-MA), vice-presidente da CPMI, considerou a conduta um desrespeito ao Congresso. "O Careca do INSS não apenas desperdiçou a chance de ajudar a CPMI a desmantelar esse esquema criminoso, como também deixou de proteger a própria família, que ele mesmo expôs", disse.

A ausência de Camilo ocorreu apenas três dias após sua prisão, ao lado de Camisotti, em operação da PF que apreendeu carros de luxo, joias, armas, dinheiro vivo e até uma Ferrari, além de uma réplica do carro usado por Ayrton Senna na Fórmula 1. As investigações apontam que o grupo movimentou ao menos R$ 353 milhões em seis meses e teria drenado R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024, por meio de descontos não autorizados em benefícios.

Para o presidente da CPMI, a recusa de Camilo tem caráter estratégico. "Ele se sentiu abandonado quando foi preso e está mandando o aviso de que pode falar e entregar todo o esquema se continuar sendo deixado de lado", disse Viana. O relator reforçou que o trabalho não será paralisado. "Não tem problema. O rastro da roubalheira também poderá ser esclarecido de outras formas", afirmou Gaspar.

A estratégia do colegiado agora será endurecer as diligências, avançando nas quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico de Camilo, familiares, sócios e dirigentes sindicais ligados ao esquema. Até o momento, cerca de 400 pedidos já foram aprovados. "Mais cedo ou mais tarde, os inquéritos em curso serão compartilhados conosco. Se os convocados não quiserem colaborar, a Polícia Federal e os dados obtidos darão as respostas necessárias", concluiu Viana.

 

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