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No G20, Lula cobra ações contra desigualdade em discurso na África do Sul

O presidente fez um resgate da origem do G20, lembrando que esteve na primeira Cúpula de Líderes do grupo, em 2008, convocada em Washington para responder à crise financeira global

Presidente Lula da Silva e Mauro Vieira, durante a Sessão de Abertura da Cúpula de Líderes do G20

 

Joanesburgo, África do Sul.

 

Com o Presidente da Africa do Sul, Cyril Ramaphosa. -  (crédito: Ricardo Stuckert / PR)
Presidente Lula da Silva e Mauro Vieira, durante a Sessão de Abertura da Cúpula de Líderes do G20 Joanesburgo, África do Sul. Com o Presidente da Africa do Sul, Cyril Ramaphosa. - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu sua participação na primeira sessão da Cúpula de Líderes do G20, em Joanesburgo, neste sábado (22/11), com um apelo direto pela preservação do fórum como espaço central de diálogo global. Ele também fez críticas ao avanço do protecionismo, da desigualdade e da falta de coordenação internacional diante de crises contemporâneas.

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O petista iniciou o discurso destacando o caráter histórico do encontro — o primeiro do G20 realizado em solo africano — e elogiou a presidência da África do Sul pela condução das negociações. “Esta é a primeira cúpula do G20 no continente africano e a segunda a contar com a participação da União Africana”, afirmou, celebrando também a aprovação da Declaração de Líderes do evento.

O presidente fez, ainda, um resgate da origem do grupo, lembrando que esteve na primeira Cúpula de Líderes do G20, em 2008, convocada em Washington para responder à crise financeira global. Segundo ele, as ações coordenadas entre economias desenvolvidas e emergentes foram essenciais para evitar um colapso maior, mas a resposta internacional acabou sendo “incompleta” e abriu caminho para políticas de austeridade que “aprofundaram desigualdades” e alimentaram tensões geopolíticas.

Lula criticou o ressurgimento do unilateralismo e do protecionismo, que classificou como “respostas fáceis e falaciosas” diante da complexidade da economia global. Para ele, a falta de concertação política ameaça o próprio funcionamento do G20. “Se não formos capazes de encontrar caminhos dentro do G20, não será possível fazê-lo em um mundo conflagrado”, alertou.

O chefe do Executivo também citou conflitos que agravam crises humanitárias e pressionam cadeias globais, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, além da situação no Sudão. Ele destacou que instabilidades históricas na América Latina e no Caribe não serão resolvidas pela “ameaça de uso da força” e defendeu atenção às demandas dos países em desenvolvimento como pré-requisito para restaurar o equilíbrio global.

A desigualdade extrema foi um dos temas centrais da fala. Lula classificou o problema como um “risco sistêmico” e lembrou que 90% da população mundial vive em países com alta disparidade de renda. Ele pediu a adoção de mecanismos inovadores de troca de dívida por desenvolvimento e ação climática, além de reforçar o debate internacional sobre taxação de super-ricos.

Em seu discurso, o presidente mencionou iniciativas lançadas nos últimos anos, como a Aliança contra a Fome e a Pobreza — proposta pelo Brasil durante sua presidência do G20 — e a agenda sul-africana sobre segurança alimentar. Para Lula, a desigualdade deve ser tratada como uma “emergência global”, e instituições internacionais precisam ser redesenhadas para enfrentar assimetrias persistentes.

O brasileiro apoiou a criação de um Painel Independente sobre Desigualdade, sugerido pela África do Sul, nos moldes do IPCC, com objetivo de apoiar o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “Sem financiamento, a Agenda 2030 não passará de uma declaração de boas intenções”, disse.

Lula criticou ainda o fluxo financeiro internacional, que considera desfavorável aos países do Sul Global. Ele citou que, embora a economia mundial tenha crescido mais de 3% no ano anterior, os gastos militares aumentaram em ritmo maior, enquanto a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento recuou. “Existe um fluxo de capital negativo que vai dos países do Sul para os países ricos do Norte global”, afirmou, chamando a situação da dívida dos países pobres de “eticamente inaceitável”.

Ao final, Lula evocou a filosofia africana de Ubuntu como inspiração para a cooperação internacional. Citando o legado de líderes como Nelson Mandela e Desmond Tutu, reforçou que nenhum país prospera isoladamente. “As soluções que buscamos estão ao redor desta mesa”, concluiu.

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postado em 22/11/2025 14:21 / atualizado em 22/11/2025 14:25
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