
"A igualdade não está estratificada. Há os que são muito mais iguais que outros, e há os que não são iguais de jeito nenhum", disse a presidente do TSE. - (crédito: Cassia André/CB/D.A. Press)
A ministra Cármen Lúcia abriu o evento “Democracia: Substantivo Feminino”, nesta segunda-feira (24/11) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com um discurso sobre a urgência de se enfrentar a violência de gênero e as desigualdades que atravessam a vida das brasileiras.
Com o auditório lotado, a ministra lembrou que o país vive um momento de “gravíssimo problema da violência de todas as formas”, destacando especialmente aquela dirigida às mulheres, às famílias e às crianças, um contraste doloroso com o que a Constituição promete desde 1988.
“Nós temos uma Constituição que garante especificamente a igualdade de mulheres e homens (…) e quase 40 anos depois estamos longe de uma situação de pacificação entre todas as pessoas”, afirmou.
Cármen Lúcia situou o encontro dentro dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, período adotado no Brasil devido ao Dia da Consciência Negra, e ressaltou como as mulheres negras sofrem de maneira ainda mais intensa as diversas formas de violência e desigualdade.
“A despeito de todas nós estarmos na mesma situação, é bem certo que, historicamente, as violências contra mulheres negras (…) sofrem muito mais”, disse, lembrando também da falta de acesso a serviços básicos, como educação.
A ministra explicou que, por ser o primeiro dia útil desse período simbólico, o TSE se propôs a abrir espaço para ouvir mulheres de diferentes trajetórias.
“Hoje não é dia de o poder estatal falar. Hoje é dia de a sociedade civil falar. Este espaço é para que as mulheres falem, nos digam, nos ensinem e principalmente nos proponham o que nós podemos fazer juntas”, disse a magistrada.
Igualdade na lei e na prática
Para Cármen Lúcia, a construção de um país democrático depende dessa união. “Juntas somos mais, muito mais. Mais pelo bem do Brasil, mais por uma democracia que seja forte, porque não há democracia com desigualdade, discriminação e violência”, afirmou, chamando atenção para o compromisso de transformar o presente para que o futuro deixe de reproduzir injustiças.
A ministra fez ainda uma reflexão sobre a diferença entre a igualdade prevista na lei e a desigualdade vivida na prática: “Eu tenho lutado a minha vida inteira pela igualação (…) porque a igualdade não está estratificada. Há os que são muito mais iguais que outros, e há os que não são iguais de jeito nenhum”.
Para ela, negar a humanidade do outro, especialmente ao praticar violência contra mulheres, é uma distorção que a sociedade não pode normalizar.
“Nós não queremos uma sociedade só de mulheres. Queremos uma sociedade de homens e mulheres com direitos iguais (…) porque o que nós queremos é todos juntos contribuir para uma sociedade de humanos e humanas iguais", enfatizou Cármen Lúcia.
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Por Danandra Rocha
postado em 24/11/2025 11:22

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