
A derrubada de vetos presidenciais à Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei nº 15.190/2025) provocou uma troca de acusações entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP).
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Alcolumbre sustentou que a sessão de apreciação ocorreu com a concordância do Planalto. "A votação desse veto não é um gesto político isolado, é uma necessidade institucional. Permitirá uma análise segura da Medida Provisória nº 1308, que trata do licenciamento ambiental especial e cuja vigência se encerra no dia 5 de dezembro. Também garantirá maior eficiência na deliberação do PL 3834/2025, enviado pelo próprio governo, atualmente em análise na Câmara dos Deputados", enfatizou, em nota ao Correio.
Ele também frisou que a prerrogativa da palavra final sobre a vigência das leis do país é somente do Parlamento. Também destacou ser contra qualquer tentativa de transformar a situação em disputa política que desconsidere o papel institucional do Legislativo.
"É preciso ser muito claro: o Congresso Nacional não pode se furtar ao cumprimento de suas responsabilidades constitucionais. (...) Nos últimos meses, líderes da Câmara e do Senado trabalharam incansavelmente para construir convergência", acrescentou.
O parlamentar elogiou o trabalho da senadora Tereza Cristina (PP-MS) — ministra da Agricultura da gestão Bolsonaro — e do líder do governo no Congresso.
Randolfe Rodrigues, por sua vez, rebateu a declaração de Alcolumbre a respeito da anuência do Planalto para a votação.
"No licenciamento ambiental não houve acordo. Deixar isso bem claro com todas as letras da palavra", enfatizou. O líder disse que o único consenso foi pela manutenção das matérias que, segundo ele, são essenciais para proteger a legislação ambiental brasileira, sobretudo o que está consagrado na Constituição.
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Judicialização
Após a derrota no Congresso, o caminho do governo será a judicialização, como ressaltou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A titular da pasta afirmou que os trechos restaurados pelos parlamentares violam o artigo 225 da Constituição, que garante o direito a um ambiente ecologicamente equilibrado.
Em entrevista ao programa Bom Dia Ministra, do CanalGov, Marina destacou que a decisão do Legislativo não representa apenas flexibilização, mas uma "verdadeira demolição" do sistema de licenciamento construído ao longo de quase cinco décadas nos estados e de quase 40 anos no plano federal. Ressaltou que o arcabouço atual evitou "centenas de milhares de tragédias" que, por não terem ocorrido, não aparecem nas estatísticas.
Entre os pontos considerados mais graves pelo governo está a reintrodução da Licença por Adesão e Compromisso (LAC), modalidade autodeclaratória que transfere ao empreendedor a responsabilidade inicial de atestar o baixo ou médio potencial poluidor de suas atividades. O Planalto havia vetado o dispositivo por avaliar que o modelo enfraquece a capacidade de controle de órgãos, como Ibama e ICMBio, especialmente diante de empreendimentos de médio porte que, em situações extremas, podem causar impactos significativos.
Entretanto, conforme apurado pelo Correio com fontes no Planalto, ainda não foi batido o martelo sobre uma eventual judicialização. Caso a medida seja efetivada, essa será a segunda vez no ano que o governo buscará a Corte para reverter uma decisão do Congresso, sob o argumento do direito constitucional do Poder Executivo.
Episódio semelhante ocorreu em 30 de junho, quando o governo acionou o STF para reverter a derrubada do decreto elaborado pelo Executivo que aumentava para 3,5% as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A ação foi acatada pelo ministro Alexandre de Moraes, que restabeleceu em parte a validade do decreto.
Partido Verde
Caso o governo não recorra à Justiça, o Partido Verde na Câmara sustentou que o fará. O deputado Bacelar (PV-BA) disse que o texto aprovado "fere a Constituição e ameaça a política ambiental brasileira".
Segundo o parlamentar, a legenda vai citar que os dispositivos restaurados violam diretamente o artigo 225 da Constituição, ao permitir licenças automáticas, reduzir exigências de estudos prévios e flexibilizar etapas que deveriam ser obrigatórias para atividades de impacto significativo.
"O Congresso erra ao escolher o atalho. O Brasil não pode pagar essa conta. Vamos ao STF para restabelecer o equilíbrio entre desenvolvimento e responsabilidade ambiental", pontuou.
Já o senador Marcos Rogério (PL-RO) ressaltou que a nova Lei do Licenciamento Ambiental não é um tema de governistas e de oposicionistas, mas do país, pois "o que trava o Brasil são as interpretações, são as regras de um Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que estão desconectadas do interesse nacional, que estão em desacordo até com a lei".
"A lei aprovada pelo Congresso Nacional é uma lei equilibrada, é uma lei que respeita a sustentabilidade no Brasil. Agora, é preciso conciliar preservação com desenvolvimento. Sustentabilidade é isso, não é uma visão apenas de um dos lados", frisou.
Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o Planalto encerra o ano politicamente enfraquecido, apesar de alguns avanços na agenda econômica e internacional. Ele avalia que, neste terceiro mandato, o presidente Lula não conseguiu reconstruir uma base parlamentar consistente nem recuperar a capacidade de articulação política.
"A figura dos presidentes da Câmara e do Senado (Hugo Motta e Davi Alcolumbre), não diz respeito apenas a este ano de 2025, mas, especialmente, às movimentações para 2026 e pelas disputas de poder, pelos palanques regionais, pelas disputas que ocorrerão até as disputas de pleitos", disse o especialista. "Em nenhum momento, Lula conseguiu exercer a atratividade que teve no primeiro e no segundo mandato em relação a deputados e senadores."
*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa
Saiba Mais
Alícia Bernardes
Alícia Bernardes é graduanda de Jornalismo e Comércio Exterior pela UDF. Integrante da Women Inside Trade (WIT), iniciativa que promove a participação feminina no comércio internacional, já estagiou no Poder360, atuando na produção das newsletters do jorn
Danandra Rocha
Repórter de políticaFormada pela Faculdade Anhanguera de Brasília, tem experiência em assessoria, televisão e rádio. É repórter da editoria de Política, na cobertura do Congresso.
Francisco Artur de Lima
RepórterJornalista soteropolitano em Brasília, com experiência nos jornais O Estado de S.Paulo e A Tarde. Hoje, integro a equipe de Política, Economia e Brasil do Correio

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