bloco econômico

Parte do Mercosul se opõe à Venezuela

Seis dos 13 países integrantes do grupo assinaram comunicado contra as ações do governo de Nicolás Maduro

 A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Corina Machado, discursa em uma coletiva de imprensa em 11 de dezembro de 2025 nas instalações de representação do governo norueguês em Oslo.
Machado chegou à capital norueguesa horas depois de a filha do líder da oposição venezuelana ter recebido o prêmio em seu nome. -  (crédito: Odd ANDERSEN / AFP)
A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Maria Corina Machado, discursa em uma coletiva de imprensa em 11 de dezembro de 2025 nas instalações de representação do governo norueguês em Oslo. Machado chegou à capital norueguesa horas depois de a filha do líder da oposição venezuelana ter recebido o prêmio em seu nome. - (crédito: Odd ANDERSEN / AFP)

A profunda divisão dos sócios do Mercosul em relação à Venezuela se refletiu na ausência do tema no comunicado oficial da 67ª Cúpula do Mercosul, no sábado, em Foz do Iguaçu (PR). Dos 13 países que integram o bloco — entre Estados Partes e Estados Associados —, seis decidiram assinar um comunicado conjunto — sem o carimbo do Mercosul — em que "reafirmam seu firme compromisso de alcançar, por meios pacíficos, a plena restauração da ordem democrática e o respeito irrestrito aos direitos humanos na Venezuela".

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Subscreveram o documento os presidentes da Argentina, Javier Milei; do Paraguai — que assume, em janeiro, a presidência do bloco —, Santiago Peña; do Panamá, José Raúl Mulino; e de autoridades do alto escalão dos governos da Bolívia, do Equador e do Peru. Guiana e Suriname não participaram da Cúpula, enquanto a Venezuela está suspensa do bloco.

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Uruguai, Yamandú Orsi, não aceitaram os termos do comunicado. Para o governo brasileiro, o aval do bloco sul-americano ao texto proposto poderia ser interpretado como um apoio institucional à pressão militar dos Estados Unidos por parte do Mercosul.

A diplomacia brasileira queria que o documento fizesse referência à crise deflagrada pelas manobras militares dos Estados Unidos no Caribe, com ataques a barcos e confisco de petroleiros venezuelanos, e reafirmasse a preocupação com as consequências de um ataque a um país soberano, que poderia pôr em risco a histórica posição dos países sul-americanos de manter o continente como região de paz.

A posição brasileira por uma solução pacífica e aderente aos tratados internacionais foi compartilhada pelo Uruguai. O presidente Yamandú Orsi pediu "o restabelecimento pacífico da ordem institucional e democrática na Venezuela dentro da estrutura do direito internacional", "com respeito à integridade territorial, à soberania e à independência dos Estados, e abstenção do uso e da ameaça da força".

Sem consenso, os seis países cujos governantes se colocam à direita do espectro político — e alinhados ideologicamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — decidiram marcar posição de confronto com o presidente venezuelano, Nicolás Mauro, mesmo sem a chancela do Mercosul. O documento, porém, não cita nominalmente nem Maduro nem Trump.

Apesar das divisões internas, o tema foi amplamente debatido na Cúpula de Foz do Iguaçu. No discurso de abertura da reunião, Lula declarou que um ataque à Venezuela por tropas dos Estados Unidos provocaria uma "catástrofe humanitária". O presidente da Argentina, por sua vez, foi na direção oposta, de apoio às ações militares no Caribe para pressionar a queda do regime de Maduro. "A Argentina acolhe com satisfação a pressão dos Estados Unidos e de Donald Trump para libertar o povo venezuelano", declarou aos colegas do bloco econômico. Ele chamou Maduro de "narcoterrorista", e o regime venezuelano de "atroz" e "desumano".

María Corina

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz deste ano e líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, fez um agradecimento público aos seis países que subscreveram a nota de apoio às ações militares dos Estados Unidos e exigiram a volta da democracia ao país. Em uma postagem na rede social X, Corina também exigiu a libertação dos presos políticos do regime de Maduro.

"Em nome dos venezuelanos, agradecemos aos governos da Argentina, Paraguai, Panamá, Bolívia, Equador e Peru por manifestarem com firmeza seu compromisso com a democracia e os direitos humanos em nosso país, e por exigirem o fim das detenções arbitrárias e a libertação dos quase mil presos políticos nas mãos do regime de Maduro", postou ela em sua conta no X. "Sabemos que a América Latina acompanha a luta justa, legítima e irreversível pela democracia e pela liberdade da Venezuela", complementou.

María Corina vivia na clandestinidade desde 2024, perseguida pelo regime de Maduro por liderar a oposição política na Venezuela e ser a principal voz de denúncia de fraude nas eleições daquele ano, que mantiveram o poder nas mãos do líder chavista. No início deste mês, após ser anunciada vencedora do prêmio Nobel da Paz, ela decidiu fugir para a Noruega (sede da fundação que concede a honraria). A fuga — que teve a ajuda dos Estados Unidos, segundo agências de notícia europeias — deu-se por mar, à noite, em um pequeno barco. Corina seguiu para a Ilha de Curaçao e, de lá, embarcou para Oslo, a capital norueguesa, onde se encontra atualmente.

 


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postado em 22/12/2025 04:10
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