As negociações entre o PL e o PSDB do recém-filiado Ciro Gomes para formação de uma chapa de direita com vistas à eleição do ano que vem desandaram a ponto de criar um racha na família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — que cumpre pena de 27 anos de prisão, em Brasília, por liderar a tentativa de golpe de Estado que culminou nos atos de 8 de janeiro de 2023. No domingo, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi a Fortaleza prestar apoio à pré-candidatura do deputado federal Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará.
No evento, Michelle criticou, de forma incisiva, as articulações patrocinadas pelo PL cearense para atrair o ex-governador Ciro Gomes ao grupo que articula uma chapa unificada de direita para disputar as eleições ao governo estadual, no ano que vem — com Ciro como cabeça de chapa, apoiado por Bolsonaro.
Para Michelle, "a essência" de Ciro Gomes "é de esquerda", e as negociações em curso no PL são "precipitadas". Ela lembrou ainda que o ex-governador é um dos mais incisivos opositores do marido dela.
Ao comentar uma reportagem em que Ciro dizia se orgulhar de ter escrito a representação que resultou na inelegibilidade do ex-presidente, Michelle afirmou que não é possível sustentar aliança com alguém "que compara a família do presidente (Bolsonaro) a ladrão de galinha". Em tom de reprimenda, acrescentou que parte do PL local "se precipitou em fazer essa aliança".
As declarações de apoio à pré-candidatura de Girão, ignorando as negociações que estão sendo feitas pelo PL, provocaram reação não só do presidente da agremiação no Ceará, deputado estadual André Fernandes, mas também dos filhos mais velhos de Bolsonaro, que não gostaram da forma como Michelle assumiu suas preferências eleitorais.
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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou a atitude de Michelle. Em uma rede social, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) também reprovou. "Temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças!", postou ele, ressalvando, porém, que nutre preferência pela candidatura de Girão.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ressaltou que "foi injusto e desrespeitoso com o André Fernandes o que foi feito no evento (em Fortaleza)". E lembrou que as articulações entre PL e PSDB no Ceará têm o aval do pai. "Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mau acordo, foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder", escreveu Eduardo em suas redes sociais.
Reação
O deputado estadual André Fernandes nem esperou muito para rebater as críticas de Michelle. "A esposa do ex-presidente Bolsonaro vem aqui e diz que fizemos a movimentação errada, sendo que o próprio presidente, no dia 29 de maio, pediu para ligarmos para Ciro Gomes no viva voz e ficou acertado que apoiaríamos o Ciro", declarou ele, logo após o lançamento da pré-candidatura de Girão.
Fernandes é o principal costureiro do acordo que pretende unir PL, União Brasil e PSDB em torno da candidatura de Ciro Gomes, um dos nomes da oposição considerados mais fortes para enfrentar o governador Elmano de Freitas (PT), que deve lançar-se à reeleição no ano que vem.
Com a escalada da crise nas hostes cearenses, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, convocou Michelle; Flávio; o líder da legenda na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ); e o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (RN), para uma reunião de emergência, para esta terça-feira, às 15h, na sede da legenda, em Brasília.
Governistas tripudiam
A base de Elmano de Freitas aproveitou a saia justa provocada por Michelle no campo da oposição ao governo estadual para tripudiar. O deputado estadual Acrísio Sena (PT) publicou nas redes sociais que "a direita esfarela no Ceará".
"A tão prometida unidade da direita no Ceará nunca saiu do papel — e, agora, se dissolve de vez. A prisão de Bolsonaro, que poderia unificar o bloco, apenas aprofundou disputas internas e expôs um vazio programático gritante. Até a tentativa de alguns setores de se agarrar a Ciro Gomes evidencia a desorientação desse campo político", escreveu Sena.
O chefe da Casa Civil de Elmano, Chagas Vieira, também foi às redes sociais para criticar a oposição. Publicou a imagem de um copo com água e óleo para dizer que os elementos "não se misturam", em referência a bolsonaristas e ciristas. A deputada estadual Larissa Gaspar (PT) seguiu na mesma linha: "Que a aliança era fracassada, a gente já sabia, mas a briga começou foi cedo", postou.
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