O câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino, abrange tumores no cólon (intestino grosso) e no reto (final do intestino). Segundo a presidente eleita da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a oncologista clínica Anelisa Coutinho, a enfermidade tem a mesma ocorrência em homens e mulheres no Brasil. “É uma doença bastante relevante, ocupa entre o segundo e o terceiro lugar em incidência, excluindo tumores de pele não melona”, explica a médica.
Mesmo bastante prevenível e facilmente detectada precocemente, há uma tendência de aumentos de óbitos relacionados à doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), até 2030 há uma projeção de 10% no aumento de morte prematuras relacionados ao câncer de intestino acima de 50 anos. Além disso, o número de casos em faixa etária mais baixa também está aumentando.
Medidas relacionadas à dieta alimentar são fundamentais para manter as doenças distantes; no caso do câncer colorretal, não é diferente. “Ter uma alimentação um pouco mais saudável, com menos gordura, mais legumes, mais cereais, beber bastante líquido, tudo isso são medidas de prevenção”, explica Anelisa.
Assim, o consumo de produtos com fibras é importante, pois ajudam na limpeza e no funcionamento do intestino, acelerando o trânsito intestinal e reduzindo o contato direto entre os agentes carcinogênicos fecais com a mucosa intestinal.
Causas
Os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer colorretal estão relacionados com a alimentação e os hábitos do dia a dia. Confira algumas predisposições:
- Idade avançada
- Doenças intestinais preexistentes
- Histórico familiar
- Falta de atividade física
- Obesidade
- Tabagismo
- Consumo de bebida alcoólica
- O histórico familiar e genética também estão envolvidos, mesmo que não sejam determinantes para a ocorrência da doença. “É uma minoria, em torno de 5% a 10% dos casos estão relacionados com fatores hereditários”, completa oncologista clínica Anelisa Coutinho.
Sintomas
Alguns sintomas são fácies de serem percebidos. Sangramento retal, alteração do ritmo intestinal, dor abdominal, perda de peso são alguns desses sinais. Cansaço, fadiga e sensação de inchaço são outras indicações.
Além disso, um dos primeiros sinais para a suspeita do câncer colorretal é a diminuição dos glóbulos vermelhos nos exames de sangue. Esses sintomas também podem estar relacionados com outras doenças ou infecções, não sendo exclusivos dessa patologia, por isso é indicado sempre a procura de um profissional para o diagnóstico e o tratamento adequado.
Saiba Mais
Tratamento e inovações
A cirurgia para ressecar os tumores no cólon e no reto é a opção mais usada. Dependendo do estágio da doença, a cirurgia é crucial para o combate da doença e, em muitos casos, ela é feita em conjunto com outros tratamentos, como a medicina de precisão, a imunoterapia e a quimioterapia. A ordem e adoção de cada terapia depende de cada caso e da disseminação da doença no corpo do paciente.
Em relação a outras alternativas, a colonoscopia, exame que visualiza o intestino, é considerado um dos métodos mais eficientes na prevenção e na detecção do câncer colorretal. Essa ferramenta identifica tumores, tanto na fase mais inicial, como também é capaz de detectar lesões precursoras dos tumores, antes do câncer realmente acontecer. “É através da colonoscopia que você impede o crescimento e o avanço da doença”, explica Anelisa Coutinho.
Outra abordagem interessante no tratamento desse câncer é a medicina de precisão, que considera características individuais, hábitos e genética para o tratamento mais particular de cada paciente. O oncologista Rodrigo Dienstmann, diretor médico do Grupo Oncoclínicas, conta que esse tipo de tratamento é até mais vantajoso para o paciente. “Os tratamentos costumam ser mais eficazes, com maior taxa de resposta. Nós podemos tratar mais facilmente diariamente”, explica.
Segundo Anelisa Coutinho, por meio da medicina de precisão, é possível investigar a gravidade da doença e como ela se comporta em um organismo específico, direcionando o tratamento ideal para o paciente.
Abordagens mais conhecidas, como a imunoterapia — combate da doença com a ativação do próprio sistema imunológico dos pacientes através de medicamentos — também são indicados para o tratamento. O uso de quimioterapia e radioterapia são outras terapias disponíveis para o combate da doença — esses buscam atingir, de forma agressiva, o tumor ou impedir que as células cancerígenas aumentem.
Congresso de Oncologia Clínica
A 24ª edição do Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, ocorreu no mês passado, no Rio de Janeiro, e discutiu não só os avanços no tratamento do câncer colorretal como também de outros tipos de tumores. O evento, organizado pela SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), reuniu milhares de especialistas. Com o tema Acesso e Equidade, as inovações na área e os desafios para a distribuição das tecnologias foram largamente discutidos.
No evento, grandes farmacêuticas e empresas ligadas à tecnologia marcaram presença. A Amgen, uma das líderes em biotecnologia no mundo, apresentou inovações para o tratamento de cânceres, durante a Arena Científica de Oncologia, com o oncologista Rodrigo Dienstmann, com foco nos tumores de pulmão e de intestino. Foram abordados ainda a medicina de precisão e o acesso da população a novas terapias.
Palavra do especialista
Quais são as diferenças entre os tratamentos desenvolvidos atualmente e as abordagens antigas, como a quimioterapia?
Esses tratamentos têm maior atividade, maior taxa de resposta e maior tempo de controle da doença. Por exemplo, o novo tratamento Sotorasibe Lumakras, inibidor de uma mutação específica do tumor, tem dados muito robustos em diferentes tipos tumorais, e é bem tolerado pelos pacientes. Além disso, a quimioterapia está associada a menos controle da doença, com mais necessidade de internações e complicações. Em relação a todo o gasto associado ao tratamento para o câncer, muitas vezes essas novas terapias se mostram vantajosas.
Quais são as perspectivas para o futuro do câncer colorretal?
A perspectiva para o futuro é que, provavelmente, esses tratamentos até possam ser feitos antecipadamente, em um momento mais inicial da doença. Chegando em um momento mais precoce, podemos aumentar ainda mais a probabilidade de resposta. Além disso, provavelmente poderemos até combinar esses tratamentos com quimioterapia.
Na questão da acessibilidade aos novos tratamentos, o que é possível no cenário brasileiro?
Em relação ao acesso a esses tratamentos no Brasil, existe uma grande diferença entre acesso pelo sistema público e pelo sistema privado, mas cada vez existem mais parcerias com a indústria farmacêutica para ensaios clínicos, nos quais esses tratamentos mais inovadores possam ser oferecidos através de projetos de pesquisa. O mais importante é poder testar e diagnosticar os pacientes para poder abrir a oportunidade de tratamento para aqueles que se encaixam no perfil dessas novas terapias. A partir da identificação dos pacientes é que a gente abre essa possibilidade de lutar pelo acesso.
Rodrigo Dienstmann é médico oncologista e diretor médico Grupo Oncoclínicas