Casa

Para além do tempo: ícones do mobiliário ainda encantam a arquitetura

Ícones da arquitetura são uma herança e tanto. Muitos, inclusive, são responsáveis por transformar espaços residenciais até hoje, unindo conforto, estilo e elegância

A famosa cadeira Thonet nº 14 
é um ícone do design industrial -  (crédito: Reprodução/ Pinterest)
A famosa cadeira Thonet nº 14 é um ícone do design industrial - (crédito: Reprodução/ Pinterest)

A arquitetura, desde sempre, carrega uma enorme importância para que o lar consiga transmitir as emoções e os sentimentos dos moradores. Em cada detalhe, existe uma expressão única que somente uma bela decoração, bem pensada e idealizada, é capaz de manifestar. Mas, o que poucos sabem é que, para ela ser o que é hoje, houve um caminho e tanto a ser traçado. Dessa forma, os ícones do mobiliário refletem a evolução dos espaços residenciais.

E nem tanto em ordem cronológica assim, A Revista elencou as principais relíquias presentes dentro do lar, que ganharam força no passado, mas que continuam presentes. De certo modo, talvez seja impossível não começar pela famosa cadeira Thonet nº 14. Produzida em massa, é um ícone do design industrial. Segundo o arquiteto Diego Aquino, essa peça foi lançada em 1859. E, apesar de antiga, ainda é possível vê-la em inúmeros projetos arquitetônicos, como no Museu MoMA, em Nova York.

"No Brasil, ela não ganhou o destaque que deveria, mas é facilmente encontrada em lojas nos Estados Unidos e na Europa. Ganhou popularidade pela fácil produção, montagem e transporte, garantindo uma expansão forte para todas as partes do globo", descreve Diego. Outro grande símbolo da arquitetura é a mesa Barcelona, parte do conjunto icônico criado pelo arquiteto Mies van der Rohe e Lilly Reich. 

"Ela segue o conceito do arquiteto, que afirma: 'menos é mais'. A base de metal cromado sustenta o tampo de cristal, trazendo sofisticação e simplicidade. Para quem busca um projeto corporativo, industrial ou modernista, essa mesa é um ícone. Mas confesso que não é a minha favorita do arquiteto", brinca o profissional.

Uma herança viva

Há tantas relíquias espalhadas mundo afora que algumas, de certa maneira, podem ser reconhecidas antes que seus nomes sejam lembrados. Para a designer de interiores Aline Silva, esse é o caso da mesa Noguchi, uma escultura em mobiliário que leva uma presença quase que silenciosa, mas absolutamente marcante. "Foi criada em 1947 pelo artista e designer japonês-americano Isamu Noguchi, que via o mobiliário como uma extensão da escultura. E isso fica muito claro aqui", ressalta. 

A base da mesa é composta por duas peças idênticas de madeira, invertidas e apoiadas uma na outra, criando um desenho orgânico, quase fluido. Por cima, o tampo de vidro deixa tudo à mostra — estrutura, forma, equilíbrio. "É como se ela dissesse: olha como o design pode ser leve, funcional e ainda assim cheio de poesia", completa Aline. Essa peça, de acordo com ela, é muito usada em projetos em que os clientes gostam de valorizar a arte, mas que também não abrem mão de um bom aconchego.

É o que também acontece com a icônica cadeira Zig Zag, inovação no movimento De Stijl, que é uma joia da história do design moderno. "Ela é uma daquelas peças que a gente olha e pensa: 'Como ela se sustenta?', e é exatamente aí que começa o encanto", acredita a designer de interiores. Criada por Gerrit Rietveld em 1934, essa cadeira é um símbolo do movimento De Stijl, que buscava reduzir tudo à forma pura: linhas retas, cores primárias, nada supérfluo. Ela é feita com apenas quatro planos de madeira unidos em ângulos precisos, sem pernas traseiras, sem estrutura tradicional e, ainda assim, funcionando. 

Há vida nas poltronas

Falar sobre design e não mencionar a importância das poltronas é um erro e tanto. A história dessa peça é vasta, mas existem aquelas que se posicionam entre as mais queridas e emblemáticas, como é o caso da poltrona Egg, que nasceu em 1958, fruto da mente genial de Arne Jacobsen, um dos maiores nomes do design escandinavo. "O mais curioso é que ela foi criada especialmente para o lobby do hotel SAS Royal, em Copenhague, o primeiro hotel design do mundo, onde Jacobsen assinou absolutamente tudo: do edifício ao mobiliário, passando até pelos talheres", conta Aline.

Contudo, o que torna a Egg tão especial é o contraste entre suas formas generosas e sua estrutura leve. Para chegar a esse resultado, Jacobsen moldou espuma em uma estrutura de casca interna, uma técnica revolucionária na época, segundo a designer. Era algo inédito: uma poltrona com esse formato curvo, envolvente, quase como um ninho moderno. O nome "Egg" (ovo) não é à toa. Ela foi desenhada justamente para criar um espaço de refúgio dentro de ambientes públicos.

"Quando sentamos nela, a sensação é quase de isolamento confortável, um design que acolhe, protege e, ao mesmo tempo, exala sofisticação que impõe uma presença silenciosa. Ela chama atenção sem esforço. É o tipo de peça que eleva a atmosfera inteira do ambiente e, para quem ama design com alma e história, sempre rende boas conversas", acrescenta. Para complementar, nada como as curvas elegantes do design escandinavo com a poltrona Swan.

Leve no olhar, fluida nas formas, ela traz movimento e sofisticação sem precisar competir com nada ao redor, apenas existe com beleza e força. "A poltrona Swan, criada por Arne Jacobsen em 1958, carrega em suas curvas suaves o DNA do design escandinavo: funcional, minimalista e, ainda assim, profundamente elegante. Desenhada originalmente para o lobby do icônico hotel SAS Royal, em Copenhague, ela permanece atual mesmo após mais de seis décadas", comenta.

A beleza do Brasil

Saindo um pouco dos ícones estrangeiros e falando do design brasileiro, Diego Aquino enxerga na Cadeira de Balanço Rio, idealizada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, um dos marcos da arquitetura em nível nacional. "Ele adorava brincar com as linhas, e por isso criou essa cadeira que lembra as curvas das montanhas do Rio de Janeiro. Acredito que esse seja o móvel mais icônico do arquiteto e que representa com força a estética modernista e brasileira", completa.

Essa peça, hoje, pode ser encontrada em museus mundo afora, além de ser um item de colecionador. Ainda falando sobre móveis icônicos brasileiros, Sergio Rodrigues, também conhecido como o "pai do design de móveis do Brasil", tem várias peças cobiçadas, mas, dentro de suas criações, a Poltrona Mole ganha destaque. Queridinha dos arquitetos, essa relíquia é um ícone do design. "Nela, você não senta, apenas repousa", enfatiza Diego. A cadeira ganhou prêmio internacional e é feita com madeira maciça, fitas de couro que sustentam as almofadas, materiais brasileiros, design único e um desejo de muitos.

A mesa Saarinen, também conhecida como Mesa Tulipa, é um ícone do design modernista. A base central única sustenta o tampo em formato oval, saindo do padrão das mesas redondas ou quadradas. "A mesa original é feita com base de alumínio com pintura em laca, que garante o brilho, e tampo de pedra. Mas nós, como bons exploradores e com nosso jeitinho, conseguimos trazer diferentes tipos de acabamentos para a peça, aproximando ao máximo a qualquer estilo de design. Um ícone transformado, que ganhou nossos corações", finaliza.

  • A mesa Noguchi é uma escultura 
em mobiliário que leva uma 
presença quase que silenciosa
    A mesa Noguchi é uma escultura em mobiliário que leva uma presença quase que silenciosa Foto: Reprodução/ Pinterest
  • Outro grande símbolo da arquitetura é a mesa Barcelona
    Outro grande símbolo da arquitetura é a mesa Barcelona Foto: Reprodução/ Pinterest
  • A poltrona Mole é uma das grandes criações da arquitetura brasileira
    A poltrona Mole é uma das grandes criações da arquitetura brasileira Foto: Pinterest/ Arquiteta Paula Foresti
  • A poltrona Egg, que nasceu em 1958, é fruto da mente genial de Arne Jacobsen
    A poltrona Egg, que nasceu em 1958, é fruto da mente genial de Arne Jacobsen Foto: Reprodução/ Pinterest
postado em 06/07/2025 06:00
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