
A sarcopenia é uma doença muscular esquelética que se caracteriza pela perda progressiva e generalizada da massa muscular. A origem do termo vem da palavra grega "sarx", que, em tradução livre, significa carne, e "penia", perda, ou seja, perda de carne. No contexto nutricional, seria a perda de músculo. Desde 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a sarcopenia como uma doença.
É um fenômeno natural que ocorre à medida que as pessoas envelhecem, mas e quando começa a acontecer com pessoas novas, ainda na juventude? A condição pode surgir antes do "esperado" por conta, principalmente, de maus hábitos, como sedentarismo, má alimentação, altos índices de obesidade em diferentes faixas etárias e por conta de algumas doenças crônicas.
Uma das principais causas dessa ascensão da doença entre pessoas mais novas é o desejo por uma rápida perda de peso. Dietas restritivas, uso das canetas emagrecedoras e a cultura de ter um corpo magro têm feito com que muita gente perca não só gordura, mas também músculo, por conta do desejo de um processo acelerado e pela falta de acompanhamento médico.
O estilo de vida comum entre os jovens, que, muitas vezes, envolve estresse crônico, excesso de telas, má qualidade do sono, uso de substâncias nocivas, como tabaco e álcool, e ingestão excessiva de fast food e ultraprocessados funciona como um gatilho para a sarcopenia.
"Esses hábitos se tornaram comuns na vida de muitos jovens e adultos. Alimentar-se mal, ficar muito tempo sentado e não praticar exercícios físicos com regularidade deixa o corpo sem estímulo para manter os músculos ativos e saudáveis. Quanto mais tempo passamos sentados, parados, menos o nosso corpo entende que precisa manter a massa muscular", explica a clínica-geral Suamy Goulart, médica do grupo Mantevida.
Ela acrescenta que o álcool em excesso prejudica a regeneração muscular, atrapalha o metabolismo e pode levar à perda de massa. Enquanto os anabolizantes, se usados sem orientação médica, podem desequilibrar os hormônios e danificar os músculos. "E, quando o uso é interrompido, a perda muscular pode ser ainda maior", alerta.
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Mas perder peso na balança não significa reduzir gordura. Segundo Débora Mirtes, personal trainer, é comum, em dietas pouco calóricas, pobres em proteínas e nutrientes, ter-se a perda de massa magra junto com a gordura, e também pode acontecer com pessoas que são fisicamente ativas.
"Mesmo quem treina pode perder massa muscular se não estiver com o estímulo correto. Treinar em excesso, sem recuperação adequada, ou a falta de progressão nos treinos, e seguir dietas com deficit calórico severo, principalmente com baixa ingestão de proteínas, pode levar à perda de massa magra. O equilíbrio entre treino, alimentação e descanso é essencial para preservar os músculos", explica a educadora física.
Começando cedo
Para a personal, quanto antes a pessoa começar a treinar com foco na preservação da massa muscular, melhor. "A partir dos 30 anos, já começamos a perder massa muscular naturalmente, então treinar com foco em força e resistência desde cedo é a melhor forma de prevenção. Jovens adultos também precisam se cuidar, principalmente se têm estilo de vida sedentário. Existem ótimas alternativas, como musculação, pilates, treinamento funcional, calistenia e dança. Esportes como natação, lutas e até caminhadas ajudam. O importante é que a atividade estimule os músculos com frequência e progressão", finaliza.
Os jovens devem, além de manter uma rotina regular de atividade física, ter uma alimentação saudável e balanceada para prevenir a doença. Suplementação de proteína, quando necessário, uso de creatina para auxiliar no ganho de força e hidratação adequada são aliados no processo. Não é recomendado fazer o uso de medicamentos por conta própria, pois podem causar efeitos colaterais, inclusive, os destinados à perda de peso, como suprimir o apetite de maneira intensa, resultando na diminuição da massa muscular. É essencial ter uma abordagem multidisciplinar e individualizada, envolvendo profissionais de saúde que considere o histórico clínico e objetivos do paciente.
De acordo com Nataniel Viuniski, médico nutrólogo, especialista em obesidade e membro do Conselho para Assuntos Nutricionais da Herbalife, ter um consumo adequado de proteínas de alta qualidade e distribuídas ao longo do dia evita a perda de massa muscular. "A quantidade recomendada de proteína deve ser calculada para cada indivíduo por um nutricionista, levando em conta a frequência e a intensidade do exercício realizado. Devem ser priorizadas as proteínas de alta qualidade, que contêm todos os aminoácidos essenciais que o corpo não consegue produzir sozinho e precisa obter pela alimentação."
O nutrólogo acrescenta que é fundamental manter bons níveis de vitamina D, já que esse nutriente está associado a melhor desempenho físico, regulação de hormônios como a testosterona, menor inflamação e maior sensibilidade à insulina — fatores que favorecem o ganho e a preservação da massa muscular ao longo do tempo. Também é preciso dar atenção às vitaminas do complexo B, em especial à
B12, ao ferro, ao magnésio e ao zinco, pois, quando estão em níveis baixos, podem comprometer o desempenho físico e o processo de regeneração do músculo.
Em alguns casos, condições médicas e carências nutricionais também podem estar relacionadas à perda de massa muscular precoce. "Distúrbios hormonais e resistência à insulina dificultam a entrada de nutrientes nas células musculares e prejudicam a síntese de proteínas. Doenças autoimunes e inflamatórias crônicas, como lúpus e artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal, tanto pelo processo inflamatório persistente quanto pelo uso prolongado de medicamentos, como os corticoides, são um problema", detalha Nataniel.
Pouco a pouco
Ao contrário do que muitos pensam, a sarcopenia não se resume a corpos "magros" ou flácidos. Muitos jovens podem aparentar estar com o físico em dia, mas ter baixos níveis de força e massa muscular. Existe também um quadro pouco conhecido chamado obesidade sarcopênica, em que a pessoa apresenta excesso de gordura corporal e tem pouca massa muscular ao mesmo tempo.
Os sinais da sarcopenia começam a aparecer lentamente. Primeiro, subir escadas fica mais cansativo; depois, levantar algum objeto exige mais esforço; e, a partir daí, executar atividades diárias se torna desgastante. A longo prazo, pode acarretar problemas de locomoção, mobilidade, com risco de quedas e fraturas e desenvolvimento de doenças metabólicas e, consequentemente, a diminuição da qualidade de vida e recuperação lenta e difícil.
Essa condição pode ser identificada com uma avaliação simples e testes no consultório. Para medir a força, normalmente é utilizado o dinamômetro, aparelho que mede a força na mão e a equipara a de todo o corpo, já a avaliação da composição corporal é feita por bioimpedância.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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