Fitness e Nutrição

Um golpe de autoconfiança! Mulheres se beneficiam com as artes marciais

Artes marciais ganham espaço entre mulheres como uma forma de fortalecer o corpo e de, principalmente, combater o medo e enfrentar a violência cotidiana

As mulheres estão cada vez mais dentro das modalidades das artes marciais -  (crédito: Reprodução/ Freepik)
As mulheres estão cada vez mais dentro das modalidades das artes marciais - (crédito: Reprodução/ Freepik)

Quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil, de acordo com o Mapa da Segurança Pública de 2025. Ao todo, foram 1.459 vítimas em 2024 e 83.114 casos de estupro. Em um mundo em que os altos índices de violência contra as mulheres são alarmantes, adquirir habilidades de autodefesa é essencial. Saber se defender é importante para todos, mas principalmente para as mulheres.

Do ponto de vista físico, as artes marciais proporcionam um treinamento completo, seja no Judô, Boxe ou Muay Thai. Elas ajudam no fortalecimento muscular, promovem um gasto calórico elevado e contribuem significativamente para a melhora da resistência cardiovascular e respiratória. Além disso, o aumento da flexibilidade, coordenação motora, agilidade e reflexos rápidos são conquistas naturais ao longo da prática.

Mas talvez o maior diferencial dessas modalidades esteja no aspecto mental. Praticar atividades físicas ajuda a reduzir a ansiedade, melhorar a autoestima, o foco, a disciplina e a resiliência emocional — e, com as artes marciais, não seria diferente.

Cada vez mais, as mulheres encontram nas lutas não só uma alternativa para ter um bom condicionamento físico, mas também um instrumento de autoconfiança, defesa pessoal e superação de limites. É no tatame, entre golpes e técnicas, que muitas reencontram a coragem que o cotidiano tenta roubar.

Preparada para o mundo

Por trás de cada movimento, há uma construção de algo maior: mulheres mais seguras e confiantes. Diferentemente das outras modalidades, o krav magá não é considerado um esporte, por não envolver nenhum tipo de competição e não ter categorias de treino. Com foco totalmente em defesa pessoal e reação rápida, é muito procurado por mulheres interessadas em segurança pessoal.

Trabalhar a técnica junto com o aprimoramento do condicionamento físico é essencial
Trabalhar a técnica junto com o aprimoramento do condicionamento físico é essencial (foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal)

Verônica Gomes, instrutora da modalidade na academia BUKAN - School of Krav Maga, explica que as turmas são separadas, em geral, por técnica e nível de instrução, do iniciante ao avançado, sem distinção de gênero.

"Quem vai te agredir no ambiente externo não vai ser alguém do mesmo peso, da mesma altura, do mesmo gênero que você. Você vai para qualquer outra arte marcial e se tem o fair play, jogo justo e um juiz que apita. Agora, eu estou preparando as mulheres para o momento que não terá esse jogo justo, para o momento em que não chega ninguém. Juiz apitou e o estuprador para? Não existe isso. Então, estou preparando as mulheres para um momento que não se replica esses termos de competição, para uma situação da vida."

Um dos principais fundamentos da modalidade é a técnica. Saída de enforcamento, agarramento e saídas de situação de chão são ensinadas como formas de defesa. Não importa o peso, altura e o gênero do outro: com técnica, é possível se livrar de um oponente fisicamente forte.

"Tenho alunas de 6, 7 anos de idade que aprendem a sair contra o agarramento de mão, e, chegando em casa, mostram para o pai e quase quebram a mão dele — e o pai fica sem entender como isso é possível. Uma menina de 6 anos consegue aplicar a técnica em um adulto, homem de 1,80m com 90kg, e ela vai quebrar o pulso dele e sair da situação. Esse é o principal propósito", completa.

Algo recorrente nas academias: muitas mulheres relatam vergonha, insegurança ou receio de dividir os tatames com homens, especialmente no início. Com isso, as turmas exclusivamente femininas se tornam um refúgio para as mulheres lutarem, sentindo-se mais confortáveis. O clima de acolhimento e suporte entre alunas cria um ambiente mais confortável para aprender, sobretudo para aquelas que buscam a luta como refúgio após episódios de abuso ou violência.

"O ambiente feminino que tentamos construir nessas turmas é para, justamente em cima disso, passar um conforto para que elas possam ter mais liberdade para aprender realmente da arte que envolve a luta, independente do objetivo que ela busca no treino. Algumas vêm com o objetivo de saúde, outras vêm com o objetivo de buscar uma defesa pessoal, outras vêm com o objetivo de simplesmente ter um tempo de qualidade sozinha ou em grupo — e é possível acolher todas as situações", explica Dayane Mestrinha, instrutora de jiu-jitsu e muay thai da Martial Fight Center.

Dayane Mestrinha encontrou nas lutas a missão de promover a saúde aliada a um propósito maior: promover a segurança e a autoconfiança para suas alunas
Dayane Mestrinha encontrou nas lutas a missão de promover a saúde aliada a um propósito maior: promover a segurança e a autoconfiança para suas alunas (foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal)

Mas nada se resolve sem um psicológico preparado. Para a professora, antes de dominar as técnicas nas devidas situações, é preciso ter um controle do medo do que pode vir a acontecer. O desenvolvimento da autoconfiança é primordial para conseguir afastar a violência antes mesmo que ela chegue perto, sendo seu principal objetivo com seus alunos.

"Além de passar a técnica e a força, é preciso ensinar as alunas a confiarem em si mesmas. Às vezes , se tem quem sabe a técnica, se sabe aplicar aquela técnica e não confia em si mesmo, ela não vai conseguir aplicar no momento de tensão e no momento de desespero. Ela vai travar e não vai conseguir aplicar aquela técnica que ela aprendeu. Então, primeiro, ela precisa confiar naquilo que ela aprendeu para poder executar com excelência aquilo lá", expõem Dayane.

Força e resiliência

Conhecida nos tatames e no octógono como Little Fox, Ramana Toscanelli, atleta de jiu-jitsu e MMA (Artes Marciais Mistas), é o retrato da força feminina no cenário das lutas, que ainda é marcado pelo preconceito e pela desigualdade de gênero. Com apenas 18 anos, em 2015, ela conheceu o Jiu-Jitsu — e bastou uma única aula para decidir que aquele seria o caminho da sua vida.

"Já tinha feito outros esportes, mas o Jiu-Jitsu, de fato, foi o esporte que mais me preencheu. A partir dessa minha decisão, comecei a trilhar esse caminho, mas praticamente não lutei mais desde 2022, que foi o ano em que eu decidi migrar para o MMA. O que me motivou a continuar nesse meio foi a questão de querer ser atleta, e foi um esporte que me trouxe milhões de benefícios na minha vida", relata.

Ramana Toscanelli encontrou no esporte diversos benefícios para sua carreira e vida pessoal
Ramana Toscanelli encontrou no esporte diversos benefícios para sua carreira e vida pessoal (foto: Reprodução/ Instagram)

Enfrentando uma resistência da própria família, Ramana diz que ser mulher dentro da luta não é para qualquer uma, porque as barreiras são enormes. Para a atleta, estar nesse ambiente significa também ser uma voz ativa contra a desvalorização feminina nesses esportes de combate, exigindo resiliência e persistência.

"Toda mulher deveria fazer um esporte de defesa pessoal, pois proporciona autoconfiança, autoestima, consciência do seu corpo e da sua força. Isso é tudo que a mulher precisa para viver dentro de uma sociedade como a nossa. Até hoje eu sofro problemas por ser mulher dentro da academia. É um ambiente muito masculino, de muito contato, e isso exige que a gente esteja o tempo inteiro em alerta. Já precisei me provar inúmeras vezes, e, para nós mulheres, todos os dias são um desafio", finaliza.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

 

  • Ramana Toscanelli encontrou no esporte diversos benefícios para sua carreira e vida pessoal
    Ramana Toscanelli encontrou no esporte diversos benefícios para sua carreira e vida pessoal Foto: Reprodução/ Instagram
  • Trabalhar a técnica junto com o aprimoramento do condicionamento físico é essencial
    Trabalhar a técnica junto com o aprimoramento do condicionamento físico é essencial Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
  • Dayane Mestrinha encontrou nas lutas a missão de promover a saúde aliada a um propósito maior: promover a segurança e a autoconfiança para suas alunas
    Dayane Mestrinha encontrou nas lutas a missão de promover a saúde aliada a um propósito maior: promover a segurança e a autoconfiança para suas alunas Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
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postado em 27/07/2025 06:00 / atualizado em 28/07/2025 12:00
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