
No meio das prateleiras lotadas dos supermercados, alimentos da mesma categoria podem ser aliados ou vilões da saúde. A diferença entre tantas opções normalmente está escondida em letras miúdas e nomes difíceis de pronunciar presentes nos rótulos, que revelam a qualidade e a composição dos produtos.
As respostas estão no próprio alimento, mas os consumidores prestam pouca atenção à lista de ingredientes, aos prazos de validade, às informações nutricionais, como o percentual de valores diários (%VD), e às lupas de advertência, indicativos de qualidade que, muitas vezes, nem sabem o que significam. Quem determina que essas informações devem constar nos rótulos dos alimentos é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tornando obrigatória a transparência por parte das empresas para que a população tenha acesso a dados que indiquem a qualidade dos produtos e auxiliem na escolha da opção mais saudável.
Mesmo assim, é raro encontrar alguém que opte por um alimento por conta das informações disponibilizadas. Daiane Aguiar Rocha, 36 anos, por exemplo, não tem costume de analisar a composição nutricional, então escolhe pelas marcas. "Eu vejo as mais conhecidas, que têm propagandas e são comercializadas há mais tempo", explica. Quando não decide por conta do fabricante, ela costuma se guiar pelos preços, priorizando o mais em conta.
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Além de a lista de ingredientes ser fundamental para os clientes adotarem hábitos alimentares mais equilibrados e não optarem por ultraprocessados sem o devido conhecimento, é especialmente relevante para pessoas com alergias, intolerâncias ou doenças relacionadas à alimentação, como obesidade, hipertensão e diabetes. Entre os itens que mais geram alertas estão conservantes, lactose, glúten, açúcares e certos tipos de adoçantes.
Escolha inteligente
Como os nomes nos rótulos podem ser de difícil entendimento para a população em geral, os nutricionistas Matheus Maestralli e Rayanne Marques indicam alguns truques fáceis na hora de escolher o mais saudável. A principal dica é olhar a ordem dos ingredientes, que aparecem de forma decrescente, ou seja, do que tem mais para o que tem menos. "Se o primeiro ingrediente é açúcar, farinha branca ou óleo, isso indica que o produto tem uma quantidade alta e majoritária desses itens", diz Matheus.
Responsável por fazer as compras da casa, Deise de Sousa Cardoso, 44 anos, procura olhar os rótulos quando vai ao supermercado. Apesar de compreender os alertas principais, como as lupas e os avisos de que o alimento é transgênico, não consegue decifrar todos os nomes complicados. "Eu não sei se as opções com nomes das fórmulas são piores, mas acho que as empresas colocam muitos para confundir o consumidor." Por conta disso, sempre que pode, ela dá preferência aos produtos com ingredientes conhecidos popularmente.
De acordo com os especialistas, a nomenclatura dos alimentos e o tamanho da lista realmente são outros pontos a serem observados. Ou seja, quanto menor a lista e quanto mais ingredientes conhecidos ela tiver, melhor. Os nomes estranhos costumam indicar itens que devem ser evitados, como açúcar adicionado (xarope de glicose, maltodextrina, dextrose e frutose), gorduras hidrogenadas, saturadas, quando em excesso, ou trans e aditivos artificiais (corantes, aromatizantes e edulcorantes, como ciclamato e aspartame).
Tabela de medidas
Além das calorias, os rótulos indicam a porção — quantidade padrão usada para comparar os valores nutricionais com uma previsão do quanto será consumido. No entanto, se a descrição da embalagem de um biscoito, por exemplo, disser que a porção consiste em três unidades, mas os indivíduos consumirem seis, os nutrientes serão dobrados. Como a porção pode ser confusa, uma medida caseira (xícaras, colheres de sopa e unidades) também é informada, o que ajuda os clientes a visualizarem a quantidade de alimento na ausência de uma balança ou de um medidor.
A informação mais complexa é o Valor Diário (%VD), que, de acordo com Matheus, mostra quanto aquele nutriente representa da recomendação total diária para um adulto comum (valor estimado e generalizado). "Se a %VD de sódio é 40%, significa que em uma porção, você já consumiu 40% do limite diário. É um alerta vermelho se for um lanche pequeno", exemplifica o nutricionista.
O especialista ressalta que até 5% de VD por porção é considerado baixo; entre 5% e 20%, é moderado; e acima de 20%, alto. "Esse valor se multiplica de acordo com a quantidade de porções consumidas."
Avisos na embalagem
Embalagens chamativas, que possuem apelos como fitness, zero açúcar, rico em fibras, sem açúcar adicionado e rico em vitaminas e minerais, não necessariamente sugerem produtos saudáveis. "Muitas vezes isso é só marketing, até porque nem sempre precisamos das vitaminas, minerais ou fibras que a indústria adicionou no alimento", diz Maestralli.
Apesar de terem quantidades menores ou inexistentes de alguns itens, as opções light e diet podem ser ricas em outros componentes maléficos para a saúde, então é preciso atenção a esses indicativos. No entanto, as lupas de advertência, símbolos obrigatórios nas embalagens de alimentos industrializados no Brasil desde 2022, ajudam o consumidor a tomar decisões mais conscientes no momento da compra. "Elas indicam quando um produto é 'alto' em sódio, açúcares adicionados ou gorduras saturadas.
A ideia é facilitar a leitura e oferecer uma informação clara e direta sobre os ingredientes que, em excesso, podem fazer mal à saúde", diz Rayanne Marques.
A lupa aparece quando o alimento ultrapassa limites estabelecidos pela Anvisa. De acordo com Rayanne, um produto sólido com mais de 6g de açúcar adicionado em uma porção de 100g, ou mais de 1,5g de gordura saturada, por exemplo, recebe a lupa correspondente. Mesmo assim, é essencial olhar o rótulo completo, incluindo a lista de ingredientes e a tabela nutricional.
Revista do Correio
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