
Não tem quem não adore filhotinhos, e a chegada de uma ninhada é um momento de alegria e expectativa, mas também exige responsabilidade e preparo por parte dos tutores. Cuidar de uma fêmea gestante e de seus filhotes recém-nascidos é uma jornada que precisa de atenção, carinho e, acima de tudo, acompanhamento veterinário de qualidade.
Às vezes, os sinais de uma gestação são bem sutis. Nos primeiros dias, o embrião ainda está se desenvolvendo e as alterações hormonais podem se manifestar em mudanças de comportamento, como maior tranquilidade, busca por atenção e, em alguns casos, redução temporária do apetite. "A partir da terceira ou quarta semana, com o crescimento uterino e a ação hormonal, surgem sinais físicos mais perceptíveis, como discreto aumento abdominal e das glândulas mamárias. Esses indícios, embora sugestivos, devem sempre ser confirmados por um exame veterinário", explica o médico veterinário Rafael Rossetto, PhD em reprodução animal.
Mas para confirmar a gravidez e monitorar a saúde dos filhotes, é preciso consultar um profissional, que irá direcionar exames e a melhor forma para prosseguir. O ultrassom, por exemplo, é o método mais precoce para confirmar a gestação, podendo ser realizado a partir de 15 a 20 dias em cadelas e gatas. "A ultrassonografia é um excelente método para acompanhar a viabilidade dos filhotes. Ele permite visualizar os batimentos cardíacos, avaliar o desenvolvimento dos órgãos e identificar possíveis malformações", explica a ultrassonografista veterinária Marcela Marques. Além disso, a possibilidade de visualizar os filhotes encanta a maior parte dos tutores.
Nutrição, exercícios e o "ninho" ideal
A nutrição adequada é a base para uma gestação saudável. Nos primeiros dois terços, as necessidades energéticas não mudam muito, mas a qualidade da dieta é fundamental. No terço final, com o crescimento acelerado dos filhotes, a demanda por energia, proteínas e minerais aumenta. Rafael recomenda o uso de rações de alta qualidade e fracionar as refeições para facilitar a digestão.
Já exercícios leves, como caminhadas com os tutores, brincadeiras moderadas com integrantes da casa e interações controladas com outros animais são sempre bem-vindas. "Cada animal tem seu próprio nível de atividade, e isso pode variar de raça para raça. O ideal é manter as atividades que já fazem parte da rotina da fêmea, ajustando apenas a intensidade conforme a gestação avança", detalha Rafael.
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Nos períodos críticos, especialmente no terço final, é necessário reduzir a intensidade e evitar esforços de alto impacto, como corridas longas, saltos ou brincadeiras muito bruscas. Também é importante evitar exercícios em dias muito quentes, secos ou sob grande radiação solar, prevenindo estresse térmico e desidratação. O objetivo é manter a mãe ativa e saudável, sem sobrecarga física ou riscos desnecessários.
Preparar um local específico para o parto, o chamado "ninho", também é parte crucial. O espaço deve ser limpo, seco, com temperatura estável, protegido de correntes de ar e suficientemente amplo para que a fêmea possa se deitar e se movimentar livremente, mas sem ser tão grande a ponto de dispersar os filhotes. A iluminação deve ser suave, evitando excesso de estímulo. Caixas de parto ou cercados com piso forrado por material lavável e macio são boas opções.
"Apresente o local para a futura mamãe dias antes, para que ela se familiarize e se sinta segura. Quanto mais tranquila estiver, maiores as chances de um parto natural e sem complicações", acrescenta o especialista.
Parto e pós-parto
O acompanhamento do parto é importante, mas as intervenções devem ser mínimas, permitindo que o processo siga seu curso natural sempre que possível. O parto normal é um processo dividido em fases. A fêmea pode ficar inquieta, buscar um local seguro, respirar mais rápido e ter uma queda na temperatura corporal. Depois, vêm as contrações, que se intensificam até a expulsão dos filhotes. O intervalo entre os nascimentos pode variar, mas o esperado é cerca de 30 minutos.
O ambiente deve permanecer calmo e seguro, com acompanhamento discreto. Se as contrações persistirem sem a expulsão de filhotes ou houver qualquer sinal de dificuldade, é fundamental procurar atendimento veterinário. "Por isso, é muito importante avaliar previamente a quantidade e a viabilidade dos fetos, por meio de ultrassom ou raio-X, nos dias que antecedem o parto. Assim, o tutor pode acompanhar o nascimento em casa com mais tranquilidade, sabendo que todos os filhotes esperados foram expelidos e que a fêmea está bem", explica Rafael.
A mãe lamberá e aquecerá os filhotes, estimulando a respiração e a amamentação. O tutor deve acompanhar o processo discretamente, sem intervenções excessivas, mas atento aos sinais de alerta que exigem uma consulta de emergência.
Nos primeiros dias, a tríade neonatal é crucial: aquecimento, alimentação e prevenção de infecções. O tutor deve garantir que a mãe e os filhotes permaneçam aquecidos e que todos os recém-nascidos consigam mamar. No pós-parto, a mãe precisa de uma dieta de alta qualidade e bastante água para se recuperar e produzir leite, em um ambiente limpo e tranquilo.
Sinais de alerta durante o parto
Contrações fortes e persistentes por mais de 30 minutos sem a expulsão de um filhote.
Presença de secreção com odor fétido ou sangramento excessivo.
Filhote visível no canal de parto por mais de cinco minutos sem progresso.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
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