Os cosméticos veganos ganharam espaço nas prateleiras e nas rotinas de beleza de milhões de consumidores, deixando de ser um nicho para se tornar uma escolha popular. Esse movimento representa uma nova era de consumo consciente, que alia autocuidado, saúde e responsabilidade socioambiental, refletindo uma mudança nos valores e prioridades dos consumidores.
O Brasil figura entre os principais mercados consumidores desse segmento, impulsionado pela crescente conscientização sobre bem-estar animal, sustentabilidade e escolha por fórmulas mais limpas. Globalmente, o setor está avaliado em US$ 15,1 bilhões e, segundo relatório da MarketGlass, deve ultrapassar US$ 21 bilhões até 2027, crescendo a uma taxa anual de 5,1%. China, Estados Unidos, Japão e Canadá lideram a expansão, mas o comportamento do consumidor brasileiro segue em sintonia com essa onda.
"Esse mercado é muito promissor, com crescimento constante no Brasil e no mundo. O público está cada vez mais informado e exigente, buscando transparência nas formulações", afirma a esteticista e cosmetóloga Cíntia Persegona, professora de estética e cosmética do Centro Universitário Uniceplac.
Nova lei fortalece consumo ético
Em 2024, a aprovação da Lei nº 14.816 marcou um divisor de águas para a indústria nacional da beleza. A norma proíbe o uso de animais vivos em testes laboratoriais de cosméticos, perfumes e produtos de higiene pessoal. A partir de agora, os lançamentos precisam comprovar segurança por métodos alternativos, como simulação de pele e computacionais, além de testes in vitro. Produtos que foram testados antes da lei podem continuar sendo vendidos, mas não poderão exibir selos de ausência de crueldade.
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Para a dermatologista Regina Buffman, a legislação não apenas garante avanços na proteção animal, mas também dá respaldo para que o consumidor cobre mais transparência das marcas. "O papel do dermatologista é ajudar o paciente a alinhar seus valores éticos às necessidades da pele, evitando escolhas que possam comprometer a saúde cutânea", explica.
O que diferencia um cosmético vegano
Ao contrário dos convencionais, produtos veganos excluem qualquer ingrediente de origem animal — como lanolina, colágeno bovino, cera de abelha ou queratina animal — substituindo-os por compostos vegetais ou biotecnológicos. Entre os ativos com eficácia comprovada, Regina cita o bakuchiol (alternativa vegetal ao retinol), extratos de soja, óleo de semente de uva, óleo de jojoba e ceramidas vegetais fermentadas.
No entanto, ela alerta que a ausência de ingredientes de origem animal não significa, necessariamente, que o produto seja menos prejudicial para a pele. "Mesmo produtos veganos podem conter ativos que irritam peles sensíveis, como certos óleos essenciais. É importante ler rótulos e fazer testes prévios, especialmente em casos de rosácea, melasma ou acne severa", destaca.
Os cosméticos veganos ainda podem custar de 15% a 30% mais do que os convencionais de mesma categoria. O valor se explica, de fato, pelo uso de matérias-primas de alta qualidade, produção em menor escala, rastreabilidade dos ingredientes e certificações, como as da Vegan Society ou Leaping Bunny.
Para muitos consumidores, porém, a escolha é também um investimento em propósito. "Não fazia sentido usar um produto para me sentir bem sabendo que ele causava dor em outro ser vivo. Hoje, meu skincare é coerente com meus valores", afirma a Júlia Matushita, 29 anos, que adotou cosméticos veganos há cinco anos.
Consumo consciente
A mudança de hábito, muitas vezes, começa pela curiosidade e se transforma em um posicionamento de vida. "Quando escolhemos algo vegano e cruelty-free, está pensando em saúde, ética e sustentabilidade. E é possível fazer isso sem perder qualidade", diz a esteticista e influenciadora Patrícia Elias, que comanda um canal no YouTube com mais de 7,6 milhões de inscritos e lançou sua própria linha de produtos veganos. Patrícia acrescenta sobre a alta procura nos produtos. "Eu vejo esse mercado crescendo muito nos próximos anos, porque o público está cada vez mais consciente e exigente. E quem não se adaptar, vai ficar para trás."
Para Cíntia Persegona, a chave para ampliar esse mercado está na informação e experiência. "Campanhas que mostrem benefícios reais para o cabelo ou a pele, associando os produtos à saúde e à sustentabilidade, atraem mais consumidores. É preciso destacar a performance dos ativos vegetais e a transparência das fórmulas", afirma.
A dermatologista Ana Carolina Sumam complementa que a educação do consumidor é essencial. "É importante mostrar que resultado e sustentabilidade podem caminhar juntos. Estratégias como certificações visíveis, storytelling sobre sustentabilidade e validação científica fazem diferença", explica.
Como identificar um cosmético vegano e cruelty-free no rótulo
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Procure selos de certificação – como Leaping Bunny ou PETA Cruelty-Free, que garantem a ausência de testes em animais.
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Leia a composição (INCI) – evite ingredientes como lanolina, colágeno, cera de abelha, carmim, queratina animal e leite.
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Busque o selo “Vegan” – indica que não há ingredientes de origem animal.
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Atenção ao “Cruelty-Free” isolado – significa apenas que não houve testes em animais, mas pode conter ingredientes animais.
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Verifique no site da marca – empresas sérias explicam práticas de produção e políticas de testes.
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Desconfie de termos genéricos – “natural” ou “eco” não garantem que o produto seja vegano.
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Prefira marcas transparentes – que listam a procedência dos ingredientes e certificações.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
Revista do Correio
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