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Móveis que carregam memórias: estantes e nichos se destacam nos ambientes

Em sua 33ª edição, a CasaCor Brasília apresenta diferentes modos de como esses móveis podem preencher ambientes, preservar lembranças e organizar espaços

Ana Luísa Zinato mostra como esses móveis podem transformar a experiência dentro do espaço  -  (crédito: Ana Zinato Arquitetura)
Ana Luísa Zinato mostra como esses móveis podem transformar a experiência dentro do espaço - (crédito: Ana Zinato Arquitetura)

Ao mesmo tempo em que organizam e humanizam os ambientes, as estantes e os nichos carregam um poder especial: o de preservar memórias. Dentro de um espaço, esses móveis contam histórias de quem vive ali, exibindo, de forma organizada e afetiva, um pouco da trajetória e da identidade de seus moradores. Fotos de família, obras de arte, peças de coleção, objetos marcantes e livros importantes ocupam essas estruturas arquitetônicas, revelando gostos, conquistas e momentos relevantes da vida.

Essa capacidade de transformar objetos em narrativas se evidencia no projeto assinado pelo escritório Denise Zuba Arquitetos para a 33ª edição da CasaCor Brasília. A proposta amplia a discussão sobre o papel de estantes e nichos como guardiões de histórias e afetos. Em um espaço de 350m², a arquiteta Camila Guimarães, integrante do time, trouxe peças do acervo pessoal, como bonecas de pano, rádios e relógios antigos, que evocam lembranças e transformam o ambiente em um lugar de memória e aconchego.

"Quando penso em estantes e nichos, vejo que eles trazem toda a essência do morador. Cada objeto conta uma história, reflete quem ele é. Mas a gente precisa cuidar do equilíbrio entre o cheio e o vazio. Não é sobre colocar tudo, mas, sim, sobre dar espaço para que cada peça respire e se destaque em meio aos móveis", afirma Camila.

Além do aspecto afetivo, esses móveis acompanham a evolução da vida dos moradores. A arquiteta reforça a capacidade desses elementos de acompanhar as fases da vida. "Gosto de trabalhar com materiais naturais, como madeira e pedra, e em tons neutros. Assim, eles se transformam junto com os objetos e os momentos de vida, acompanhando desde uma fase mais jovem até um lar mais maduro, sem perder a harmonia e a elegância do espaço."

Design e versatilidade

Outro projeto da edição de 2025, assinado pela Traama Arquitetura, é o Casa Aava, da Brasal, inspirado em um dos principais cartões-postais de Brasília, o Lago Paranoá. A proposta busca traduzir a identidade brasiliense ao integrar estantes e nichos em diálogo com design e natureza. "Criamos uma estante vazada em frente ao vidro que conecta o interior ao jardim. Ela funciona como um filtro: suaviza a entrada de luz, traz aconchego e cria uma permeabilidade controlada, sem perder a interação visual com a paisagem", explica a arquiteta Amanda Saback.

Embora tenham funções semelhantes, estantes e nichos apresentam características distintas que influenciam seu uso. As estantes são peças soltas, versáteis e disponíveis em diversos tamanhos, enquanto os nichos, menores e embutidos, são projetados para destacar objetos específicos. "Móveis planejados são ótimos quando precisamos integrar mais funções, como TV, eletrodomésticos ou até bancadas. Já as peças soltas funcionam muito bem quando a intenção é mais decorativa, de setorização ou de criar permeabilidade entre espaços. Tudo depende da necessidade do projeto e do estilo do cliente", ressalta Amanda.

Essa atenção ao design e à função continua na análise dos materiais. Ana Luiza Veloso, também da Traama Arquitetura, complementa que a escolha do material transforma completamente a percepção dos móveis. "Estantes e nichos são peças atemporais, mas que se renovam conforme as tendências de proporção e acabamento. Uma estante de madeira transmite robustez e acolhimento, enquanto o metal confere leveza e um aspecto mais minimalista. O material escolhido define tanto a harmonia quanto o conceito do projeto", explica.

Além disso, a função desses móveis pode variar conforme a intenção do cliente. "Tudo depende da intenção e do gosto do cliente. Quando há o desejo de destacar coleções ou peças afetivas, a estante deve ocupar um ponto focal em um espaço social e se torna protagonista. Já quando essa exposição não é prioridade, ela pode assumir uma função mais discreta, atuando apenas como apoio", conclui a arquiteta.

Organização e protagonismo

Levando em conta estética, função e materialidade, Ana Luísa Zinato, da Ana Zinato Arquitetura, mostra como estantes e nichos podem transformar a experiência dentro do espaço. Inspirado na vida e obra da artista plástica Bella Salvati, seu projeto Refúgio Criativo, de 65m², integra morar, criar e viver em um único ambiente, marcado pela curadoria de peças de antiquário junto ao mobiliário modernista.

Para traduzir esse conceito, a escolha e a disposição das peças são essenciais. A arquiteta optou por uma estante em chapas de madeira alongadas, instalada na parede principal. "Essa escolha traz leveza e amplia o olhar lateralmente, o que ajuda tanto em espaços compactos quanto em grandes. Já os nichos embutidos funcionam bem quando o objetivo é otimizar cada centímetro, sem criar barreiras visuais", explica.

Segundo Ana Luísa, proporção e iluminação são recursos-chave para adaptar esses móveis a diferentes metragens. "Perfis lineares discretos, aplicados na parte superior ou inferior, criam um efeito de flutuação, valorizando tanto a textura da madeira quanto os objetos expostos. A iluminação traz aconchego em áreas pequenas e pontos focais acolhedores em áreas maiores."

Ela destaca que estantes podem funcionar também como divisores de espaço. "Elas atuam como filtros visuais: delimitam áreas, mas deixam a luz e o olhar passarem. Assim, conseguimos organizar ambientes integrados sem abrir mão da fluidez e da leveza."

Flexibilidade e destaque

Seguindo a linha de versatilidade e protagonismo dos móveis, o projeto Entre Linhas Office, de Lucas Machado, demonstra como estantes e nichos podem se adaptar e assumir papéis centrais em diferentes tipos de espaço. O projeto cria um refúgio sensorial, pensado para escrever, refletir e viver o ambiente de forma acolhedora e sofisticada. Tons terrosos, mármore verde e madeira escura dão identidade e conforto, enquanto a iluminação valoriza texturas e pontos focais. A biblioteca ocupa posição central, reforçando o caráter cultural e contemplativo do espaço. Elementos da estética brutalista, como vigas aparentes e volumes esculturais, dialogam com obras de arte brasileiras.

Segundo Lucas, estantes e nichos se adaptam a diferentes tamanhos e funções: "Em espaços pequenos, priorizamos multifuncionalidade e armazenamento eficiente, mantendo o visual limpo. Em espaços maiores, buscamos presença estética, escala adequada e uso criativo da estante como peça arquitetônica". O design leve e aberto amplia a percepção do espaço e transforma a estante em protagonista, sem sobrecarregar o ambiente, fechando o ciclo do tema sobre a relevância desses móveis na organização e na identidade dos espaços.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

  • No projeto da Trama Arquitetura, estantes vazadas permitem circulação de luz e mantêm a integração com o exterior
    No projeto da Trama Arquitetura, estantes vazadas permitem circulação de luz e mantêm a integração com o exterior Foto: Júlia Totoli
  • Estantes e nichos transformam o espaço da Casa Avva, podendo ser protagonistas ou coadjuvantes do ambiente
    Estantes e nichos transformam o espaço da Casa Avva, podendo ser protagonistas ou coadjuvantes do ambiente Foto: Tramma Arquitetura
  •  O espaço assinado pelo escritório Denise Zuba prova que estantes e nichos são móveis afetivos
    O espaço assinado pelo escritório Denise Zuba prova que estantes e nichos são móveis afetivos Foto: Denise Zuba Arquitetos
  • Entre Linhas Office, de Lucas Machado, comprova que estantes e nichos se adaptam a diferentes funções
    Entre Linhas Office, de Lucas Machado, comprova que estantes e nichos se adaptam a diferentes funções Foto: Lucas Machado
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JC
postado em 07/09/2025 06:00 / atualizado em 09/09/2025 17:58
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