Comportamento

Dia do sexo: o mercado erótico como forma de prazer e potência econômica

Setor erótico digital movimenta bilhões no Brasil e no Mundo, atraindo profissionais em busca de autonomia financeira. Mas acende o alerta: qual o impacto emocional ao escolher trabalhar com isso?

Mercado erótico digital movimenta bilhões anualmente -  (crédito: Freepik)
Mercado erótico digital movimenta bilhões anualmente - (crédito: Freepik)

No Dia do Sexo (6/9), celebrado nesse sábado, a data não serve apenas como convite à reflexão sobre a sexualidade e o prazer, mas também sobre a força econômica que envolve o tema. Só no Brasil, o mercado erótico movimenta mais de R$ 2 bilhões ao ano, segundo levantamento do portal Mercado Erótico, em parceria com a INTT Comésticos. A projeção é de que o setor cresça, em média, 8% ao ano até 2028. 

Esse avanço, que se manifesta tanto no comércio de produtos quanto na popularização de plataformas digitais, abre espaço para histórias de autonomia financeira e novos modelos de trabalho. Mas, junto com as oportunidades, vêm também desafios emocionais e sociais. No mundo, o mercado é impulsionado principalmente pelo consumo de conteúdo érotico  digital e brinquedos sexuais. 

As projeções de consultorias como Business Research Insights e SkyQuest Technology estimam que o mercado, avaliado em dezenas de bilhões de dólares em 2024, deve se expandir significativamente nos próximos anos. Esse crescimento é impulsionado pela maior acessibilidade a plataformas adultas, pela popularização de "sex toys" e pela crescente integração de tecnologias como Realidade Virtual e Inteligência Artificial, que prometem uma experiência ainda mais imersiva e personalizada para o consumidor.

No Brasil, os números confirmam essa expansão: entre 2020 e 2024, o interesse por conteúdo adulto cresceu 158%, com mais de 350 milhões de buscas registradas em plataformas como Privacy e OnlyFans, de acordo com estudo da Conversion divulgado pelo portal Economia SP.

Para o empresário Bernardo Castro, CEO da plataforma Exclusive, esse cenário reflete um movimento de transformação cultural. “O mercado erótico digital pode representar uma oportunidade de autonomia financeira e liberdade de escolha. Muitas profissionais relatam ganhos de autoestima e independência, enquanto outras enfrentam desafios relacionados ao estigma social e à exposição”, afirma.

Empoderamento e cobrança constante

Do lado psicológico, os efeitos desse trabalho são ambivalentes. Aline Gomes, neuropsicóloga, explica que a necessidade de estar sempre em performance, aliada ao julgamento constante de seguidores e clientes, pode afetar a autoestima. “Comentários negativos reduzem o senso de valor próprio e até os elogios podem levar à dependência da validação externa”, diz.

O médico Iago Fernandes, especialista em saúde mental, concorda: “A autoestima fica diretamente ligada ao número de curtidas, comentários ou retorno financeiro. Isso cria uma dependência emocional do olhar do outro, aumentando a vulnerabilidade a críticas ou rejeição.” Ele ressalta, ainda, que, quando a vida íntima e a persona pública se misturam, aumentam os riscos de ansiedade, depressão e esgotamento emocional.

A sexóloga Juliana Conti Elias completa a análise lembrando que, para muitos profissionais, o trabalho pode ser fonte de empoderamento, mas também de fragilidade. “A autoimagem fica, muitas vezes, limitada ao desejo do outro e ao número de assinaturas. Essa relação com o corpo e com a sexualidade precisa de cuidado para não se tornar fonte de sofrimento”, afirma.

Estigma e diferenças de gênero

Se o mercado cresce, o preconceito ainda pesa. O estigma moral em torno do trabalho sexual, sobretudo digital, é um dos maiores fatores de desgaste emocional. Para Juliana, esse julgamento social pode levar ao isolamento, vergonha e até sintomas depressivos. Aline reforça que esse afastamento cria a sensação de não pertencimento. “A pessoa passa a viver em constante estado de vigilância emocional, temendo a rejeição.”

As consequências, no entanto, não são iguais para homens e mulheres. De acordo com Iago Fernandes, as mulheres sofrem mais com o peso do estigma moral, além de ataques verbais, virtuais e até físicos. Os homens, embora menos julgados socialmente, carregam a pressão da performance e da virilidade, o que pode resultar em ansiedade e disfunções sexuais.

O papel das plataformas

Nesse contexto, plataformas digitais têm papel fundamental para minimizar danos. A Exclusive, por exemplo, adotou protocolos como verificação de identidade, criptografia de dados e suporte para denúncias. “Segurança e autonomia são prioridades. Cada profissional decide o que compartilhar e sob quais condições”, destaca Bernardo Castro.

A profissionalização do setor, apontam os especialistas, é também caminho para diminuir o estigma e valorizar a atividade como legítima. “Quanto mais regulamentado e seguro for o ambiente, menor a sensação de vulnerabilidade. Isso impacta diretamente a saúde mental dos profissionais”, defende Juliana Conti.

Consumo e responsabilidade social

Se por um lado a produção de conteúdo adulto pode ser fonte de renda e expressão, por outro o consumo desenfreado de pornografia acende um alerta. Juliana lembra que a exposição excessiva a esse tipo de material pode criar expectativas irreais sobre sexo e relacionamentos, gerando frustração e até dificuldades de intimidade. “Existe também uma responsabilidade dos produtores em atuar com consciência, respeitando limites éticos e entendendo o impacto que seu material pode ter em quem consome”, afirma.

Apesar dos desafios, há formas de manter o equilíbrio. Aline e Iago apontam a psicoterapia como recurso essencial, seja para fortalecer a autoestima ou estabelecer limites entre vida pessoal e persona digital. Construir redes de apoio, investir em autocuidado e ter educação financeira também aparecem como ferramentas para reduzir vulnerabilidades

A profissionalização do setor e a criação de ambientes digitais mais seguros são vistas como medidas capazes de reduzir danos e promover dignidade. “Com regulamentação e suporte, esse trabalho pode ser visto com mais respeito e menos preconceito”, resume Juliana.

 *Estagiária sob a supervisão de Sibele  Negromonte

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postado em 05/09/2025 17:00 / atualizado em 06/09/2025 10:35
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