
Como símbolo de empoderamento, a cintura marcada ressurge em coleções que unem estrutura, fluidez e diversidade corporal. Marcas nacionais e internacionais apostam na silhueta acinturada como expressão de força e estilo.
A cintura alta é um daqueles elementos que atravessam décadas sem perder o fôlego. Nasceu entre os anos 1930 e 1940, quando estilistas como Christian Dior e Cristóbal Balenciaga definiram o que seria o New Look — saias amplas e cinturas finas que exaltavam a feminilidade pós-guerra. Desde então, o formato de "relógio de areia" passou por reinvenções, adaptando-se aos novos tempos e corpos.
Agora, nas passarelas de 2025, ela volta com força total. Durante as recentes semanas de moda, nacionais e internacionais, o corpo acinturado apareceu reinterpretado em propostas que misturam estrutura e liberdade. Marcas como Balmain, Schiaparelli, Alexander McQueen e Chanel apostaram em cintos largos, corsets reinterpretados e alfaiatarias ajustadas, enquanto as grifes brasileiras Dendezeiro, João Pimenta, Weder Silveira e Ângela Brito trouxeram versões tropicais e inclusivas da estética.
Entre as celebridades, nomes como Zendaya, Anya Taylor-Joy e Margot Robbie vêm reforçando essa silhueta com looks que equilibram sensualidade e sofisticação. O que antes era sinônimo de rigidez, hoje representa liberdade estética.
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Para Ana Luisa Fernandes, fundadora e diretora criativa da ALUF, a cintura marcada nunca deixou de ser atemporal. "Acredito que a cintura alta sempre foi um clássico! As outras que eram passageiras", afirma. Ela explica que a criação contemporânea deve fugir da nostalgia excessiva: "A questão vem justamente em não criar pensando como retrô, mas, sim, fazer uma criação contemporânea que se encaixe da melhor forma no corpo feminino, com suas curvas e nuances".
A especialista reforça ainda que o conceito não se limita ao guarda-roupa feminino. "Tenho visto mais marcas e homens usando calças de cintura mais alta, vendo isso como sinônimo de uma roupa mais formal, mais clássica. Quando se veste um smoking, por exemplo, e se usa a faixa na cintura, estamos elevando a linha visual do corpo, alongando as pernas e valorizando a largura dos ombros", observa.
Entre feminilidade e liberdade
Já para a professora de moda Laís Xavier, o retorno da cintura marcada revela um movimento estético que une drama e empoderamento. "A volta nas passarelas reforça um movimento estético dramático na moda, além do retorno da feminilidade nas peças", explica.
Segundo ela, a diferença em relação ao passado está no conforto. "Uma construção contemporânea marca a cintura por meio da modelagem, sem uso de espartilhos — o que torna a peça muito mais confortável", destaca. Essa releitura, para Laís, também abre espaço para debates sobre corpo e diversidade: "A cintura marcada ainda é associada a um corpo ampulheta, mas, hoje, ela pode ser usada por qualquer pessoa que se sinta bem assim. É uma questão de escolha, não de padrão".
Nas passarelas internacionais, essa liberdade se traduziu em volumes fluidos e recortes assimétricos, como nas coleções da Maison Margiela e da Loewe, que brincaram com proporções sem apagar a essência da cintura acentuada.
Empoderamento e versatilidade
A designer Mara Bela, docente de moda, reforça que a cintura marcada deixou de ser tendência e se consolidou como um novo clássico da moda contemporânea. "Essa recorrência em diferentes temporadas mostra que a cintura marcada não apenas voltou, mas se estabeleceu como um elemento essencial e versátil, capaz de dialogar com diversas narrativas — da feminilidade à desconstrução de padrões", afirma.
Durante a 59° edição da São Paulo Fashion Week, coleções como as de Ângela Brito e Weder Silveira usaram a cintura como símbolo de força e presença corporal. Já na alta-costura de Paris 2025, as criações de Schiaparelli e Balmain ressignificaram o shape clássico com ombreiras, cintos estruturados e corsets tecnológicos.
Mara destaca que a cintura marcada também vem sendo incorporada ao vestuário masculino: "Marcas como Dendezeiro e João Pimenta têm explorado essa estética de forma natural, promovendo uma moda mais fluida e inclusiva."
Técnica, conforto e sustentabilidade
Com a ascensão da moda consciente, o destaque à cintura também se adapta aos novos valores de sustentabilidade. Tecidos como algodão orgânico, linho, tencel e viscose ecológica garantem estrutura e conforto sem agredir o meio ambiente. "A cintura marcada pode ser perfeitamente adaptada à moda sustentável", reforça Mara Bela.
Ela explica que técnicas como mulagem e crepagem são fundamentais nesse processo, permitindo que a modelagem respeite diferentes silhuetas e ofereça um caimento natural. "Antes símbolo de rigidez estética, a cintura marcada hoje é reinterpretada com liberdade criativa. Aparece em peças fluidas, ajustáveis, sem gênero e com modelagens inovadoras, permitindo que cada pessoa escolha como e quando deseja destacar sua silhueta", completa.
Mais do que uma tendência passageira, a cintura alta se mantém como um ponto de equilíbrio entre o passado e o presente. Dos icônicos vestidos de Audrey Hepburn e Grace Kelly aos ternos acinturados de Harry Styles e Pedro Pascal, a silhueta segue como linguagem visual de poder e elegância.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

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