
A cada ano, a expectativa de vida dos brasileiros cresce. Para os nascidos em 2025, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projeta uma média de 76,8 anos. Apesar do avanço, o envelhecimento ainda é cercado por tabus, especialmente no que diz respeito à autonomia e à qualidade de vida na terceira idade. Com o objetivo de ampliar o debate sobre o tema, o Bradesco Seguros realizou o 18º Fórum da Longevidade, que reuniu especialistas, artistas e homenageados, em São Paulo, para discutir o envelhecer com saúde e propósito.
Com o tema Longevidade em movimento, também foi realizada a segunda edição do Índice de Longevidade Pessoal (ILP). A pesquisa coletou respostas de cerca de 4,4 mil pessoas de todas as regiões do Brasil para 31 variáveis distribuídas em seis pilares. Como resultados, foi possível perceber mudanças significativas nos hábitos, atitudes e percepções dos brasileiros em relação à saúde, como maior engajamento em atividade físicas. Entretanto, as respostas também reforçaram desafios recorrentes.
A população do DF foi uma das participantes da pesquisa, tendo destaque no pilar Conhecimento em relação à longevidade. Segundo o levantamento, 79% dos brasilienses reconhecem e sempre estão à procura de aprender novas habilidades. Esse pilar é importante para o envelhecer bem, mantendo o cérebro e o corpo saudáveis.
O gerontólogo Alexandre Kalache, que pesquisa há 50 anos o envelhecimento humano, destaca que se manter ativo e exercitando a mente depois dos 50 anos é fundamental. "Aprender novas habilidades estende o horizonte da pessoa. Promove convivência e mantém a pessoa com ânimo em viver", afirmou.
Cleide Helena de Faria, de 69 anos, sabe bem a importância de adquirir novas habilidade após os 50 anos. Seu extenso currículo inclui cursos de panificação, chef mix, confeitaria, de idiomas e graduações, como em tecnologia da informação (TI). À reportagem, ela afirmou que acha prazeroso aprender novas coisas. "Essas novas atividades são muito divertidas. É importante para a mente e para o corpo", afirmou.
A moradora de Águas Claras está sempre em movimento. Ela acredita que é fundamental manter o cérebro ativo. "Contribui muito para a vivência. Eu acho que isso faz com que eu envelheça e viva melhor", acrescentou.
Ela participa, ainda, de um grupo de dança, o Divas Dance, que reúne mulheres 50 . Helena afirma que a dança sempre foi algo que quis aprender, mas que só tomou coragem depois de adulta. "Eu sempre gostei de atividades físicas. E como sempre quis dançar, aproveitei essa vontade de aprender aliando à saúde", disse. Além dos benefícios físicos, ela aponta a socialização como outra vantagem. "Converso com muitas pessoas, e isso também me faz bem. A interação social é fundamental", complementou.
Sem preconceito
Durante a divulgação dos resultados do Índice de Longevidade Pessoal, o médico Alexandre Kalache fez uma reflexão sobre o processo de envelhecimento. "Não tem nada mais certo do que envelhecer. Então, a melhor opção é envelhecer bem. Só quem não envelhece é quem morre cedo", brincou.
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O pesquisador também abordou o conceito de idadismo — termo cunhado pelo também gerontólogo norte-americano Robert Neil Butler, em 1969. O conceito aborda o preconceito que pessoas mais velhas sofrem perante a sociedade. Kalache analisa que, para um país envelhecer bem, o idadismo deve ser combatido. "Isso é um preconceito enraizado na sociedade. Afeta em todos os níveis a relação do idoso com a sociedade, impedindo novas oportunidades nessa fase da vida", afirmou.
Durante a sua palestra no evento, Kalache destacou a velocidade com que a expectativa de vida aumentou no Brasil, definindo como um movimento revolucionário. "Esse movimento visto no Brasil supera o de outros países mais desenvolvidos, que demoraram muitos anos para conseguir uma taxa de longevidade alta", afirmou.
A revolução da longevidade
Comemorando seu aniversário de 80 anos, Kalache lançou o livro A revolução da longevidade, que reúne reflexões durante seus anos de pesquisa. Nas palavras do próprio gerontólogo, esse não é um livro técnico. "É um livro que reúne muita informação e dá gosto de ler." O lançamento oficial ocorreu durante o Congresso da Longevidade.
Kalache também comentou sobre outros fatores sociais que impactam na longevidade. Segundo ele, os socioeconômicos estão interconectados. "As discussões de fatores raciais e sociais são fundamentais em um país extremamente preconceituoso que nem o nosso. A desigualdade social interfere muito na longevidade", disse.
*O repórter viajou a São Paulo a convite do grupo Bradesco Seguros

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