
Pesquisas têm demonstrado nos últimos anos que, mesmo dentro da cidade, o contato com o verde pode trazer benefícios ao cérebro. Voluntários ao caminharem pela cidade com um aparelho de eletrencefalograma portátil, e passarem por ruas comerciais agitadas, apresenta o cérebro excitado. O contrário acontece em um parque da cidade, quando as ondas cerebrais ficam mais “meditativas”. Sabemos também que pessoas que moram próximas a árvores e parques têm níveis menores do hormônio do estresse cortisol quando comparadas às que vivem cercadas de concreto.
Já é bem reconhecido que as pessoas que vivem nas grandes cidades têm maior risco de apresentar transtornos mentais. Através de ressonância magnética funcional, foi demonstrado que o cérebro de quem mora no campo reage de forma diferente a estímulos de estresse quando comparados aos moradores da cidade. Isso rendeu até a capa da prestigiada revista Nature. Os pesquisadores mostraram uma maior ativação das amígdalas entre os moradores de grandes cidades e foi curioso o fato de que isso estava presente mesmo nos adultos que viveram nas “selvas de concreto” somente na infância.
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Outro estudo, conduzido pelo Instituto Max Planck na Alemanha, apoiou esses achados ao demonstrar que as pessoas que moram ao redor de muita natureza têm maior integridade de uma das regiões do cérebro mais associadas ao processamento do estresse e reações frente ao perigo. E essas estruturas são as amígdalas. Mas para desvendar a velha pergunta, o que vem primeiro, o ovo ou a galinha, o Instituto Max Planck também demonstrou que o contato com a natureza é que é responsável por essa maior integridade, e não o contrário. Digamos que pessoas com essa anatomia avantajada das amígdalas tivessem a tendência em morar mais próximos à natureza. Provavelmente não é isso o que acontece. Os pesquisadores compararam a ativação das amídalas, por ressonância magnética funcional, após uma hora de caminhada na floresta ou numa rua movimentada. Após a caminhada na floresta, as amígdalas ficaram menos ativadas, o que não aconteceu com os voluntários que circularam nas ruas da cidade.
O local onde moramos pode também influenciar a saúde do corpo. Esta é conclusão de um artigo de revisão das evidências sobre o tema publicado em novembro deste ano pelo periódico Biological Reviews. A biologia humana evoluiu para o movimento, a natureza e curtos períodos de estresse, como lutar ou fugir de um predador. O estresse crônico das grandes cidades faz com que vivêssemos sempre na mira de um predador, levando à redução da fertilidade e eficiência do sistema imunológico, além de um aumento das doenças inflamatórias crônicas. E quando se fala em doenças inflamatórias, devemos incluir a aterosclerose, principal causa das doenças que mais matam no mundo: o infarto do miocárdio e o derrame cerebral. Sabemos que morar à beira de rodovias e ruas com muito tráfico de veículos aumenta o risco de doenças cardiovasculares também devido à poluição do ar. Por outro lado, morar próximo a parques estimula a prática de atividades físicas.
Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Revista do Correio
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