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Cuidados com os pets nas comemorações de fim de ano

Diversos estímulos sonoros, visuais e olfativos das festas podem gerar estresse nos animais. Especialistas apontam alternativas seguras para manter a saúde e o bem estar no período

Com a chegada do fim de mais um ano, as casas brasileiras se transformam em pontos de encontro especiais, marcados pela presença de amigos, familiares, comida farta, música alta e uma rotina fora do comum. Para quem convive com animais de estimação, esse período exige atenção redobrada. Mudanças no ambiente, excesso de estímulos e a oferta de alimentos inadequados podem afetar diretamente a saúde e o bem-estar de cães e gatos. Especialistas alertam que pequenos cuidados fazem diferença durante as celebrações.

O veterinário Vitor Morato explica que os animais possuem uma rotina pré-estabelecida quando vivem em um ambiente saudável. Com as confraternizações, os pets passam a ser expostos a situações não convencionais, o que pode gerar estresse, irritação e insegurança. Por isso, nos dias festivos, a recomendação é tentar manter uma rotina semelhante à do dia a dia. "Os animais não entendem esse clima de festa como a gente. É importante manter o mesmo horário de alimentação, o mesmo horário de passeio, evitar aglomeração e não deixar o animal exposto a barulhos ou a qualquer fator que interfira na rotina já estabelecida", orienta.

Com a casa cheia, os tutores devem ficar atentos à presença de visitas, pessoas desconhecidas e à aglomeração excessiva. O profissional ressalta que os próprios convidados também precisam ter cuidado durante as celebrações. "Muitos animais não toleram pessoas desconhecidas em seu território habitual. Diante desse cenário, é fundamental ter senso, não forçar aproximações nem interações caso o animal não demonstre interesse. O ideal é permitir que ele se acostume aos poucos, até se sentir confortável para uma interação tranquila, já que essas situações impactam diretamente nos níveis de estresse", afirma.

Alimentação

Quando o assunto é alimentação, Vitor chama atenção para um dos erros mais comuns cometidos durante as festas de fim de ano. Segundo ele, muitos tutores acabam oferecendo aos animais restos da ceia ou alimentos que fazem parte da refeição dos humanos, acreditando que pequenas quantidades não causam danos. No entanto, a comida preparada para as celebrações não é adequada para os pets e pode provocar sérios problemas de saúde. "Carnes temperadas, alimentos gordurosos, chocolate, uva, cebola e outros ingredientes comuns nessa época representam riscos e podem transformar um momento de prazer em uma emergência veterinária", alerta.

Além do cuidado durante a festa, o profissional destaca que o pós-celebração também exige atenção redobrada. O acesso ao lixo é um dos principais perigos, já que muitos animais conseguem revirar sacos descartados após a confraternização. "Por isso, é fundamental observar onde o lixo será armazenado e garantir que fique fora do alcance dos pets." Vitor reforça que aquilo que é prazeroso para os humanos pode se tornar um quadro grave de intoxicação para os animais.

Fogos de artifício

Outro fator que costuma gerar grande impacto nos animais durante o fim de ano é o barulho provocado pelos fogos de artifício. Vitor Morato lembra que a audição dos pets é muito mais sensível do que a dos humanos, o que faz com que os sons sejam percebidos de forma intensa e assustadora. Esse estímulo sonoro pode provocar medo extremo, crises de ansiedade e comportamentos como tentativas de fuga, latidos excessivos e tremores. "Em alguns casos, o susto pode resultar em acidentes dentro de casa ou até em fugas para a rua", relata.

Para reduzir os efeitos do barulho, o profissional orienta que os tutores preparem o ambiente com antecedência. Manter portas e janelas fechadas, criar um espaço seguro onde o animal já esteja acostumado e evitar deixá-lo sozinho em momentos de maior intensidade sonora são medidas importantes. Sons ambientes, como música em volume moderado ou a televisão ligada, também podem ajudar a abafar o ruído externo. Vitor reforça que o tutor deve agir com calma e transmitir segurança, já que a reação humana influencia diretamente o comportamento do animal diante de situações de estresse.

Em situações mais intensas, ele explica que existem alternativas terapêuticas que podem ajudar a reduzir o sofrimento dos animais. Segundo o veterinário, algumas medicações, inclusive fitoterápicas, apresentam efeito calmante quando utilizadas de forma contínua e com antecedência. No entanto, qualquer uso deve ser sempre avaliado por um médico veterinário. Em casos de crises mais severas relacionadas ao barulho, pode haver indicação de medicamentos controlados, sempre com prescrição profissional.

Fique atento aos sinais!

Alguns comportamentos indicam claramente que o animal não está lidando bem com o período de festas. O veterinário destaca que os principais sinais de estresse são mudanças bruscas de comportamento, como agressividade, isolamento, retraimento e tentativas de fuga. Em casos mais graves, o pet pode apresentar comportamentos compulsivos, como se morder ou morder as patas e a cauda. Alterações relacionadas à alimentação também merecem atenção, como vômitos, diarreia, falta de apetite e prostração, especialmente após contato com alimentos típicos das ceias de fim de ano.

Diante de qualquer um desses sinais, a orientação é procurar um médico veterinário. "Biologia não é matemática. Cada cão ou gato deve ser avaliado como indivíduo, com cuidados e orientações específicas", afirma. Respeitar o espaço, os limites e a sensibilidade de cada pet é fundamental para que o fim de ano seja um período mais leve e seguro, tanto para os animais quanto para os tutores.

Buscando alternativas

Durante o período de festas de fim de ano, quando muitos tutores mudam horários ou viajam por mais tempo, as creches para cães surgem como uma alternativa para manter a rotina e o bem-estar dos animais. O coordenador da Casa Tranks, centro de recreação e interação canina, Evandro Menezes, explica que o ideal é que os cães sejam inseridos na rotina da creche antes do período de hospedagem. Segundo ele, animais que têm pouco contato com outros cães ou não estão acostumados a ficar longe da família precisam de um processo de adaptação gradual. "Quanto mais vezes o pet frequenta o espaço, mais fácil é para ele compreender a nova dinâmica, criar vínculo com o ambiente e entender que existem outras pessoas responsáveis por seus cuidados", explica.

Nessas épocas mais agitadas, a estabilidade da rotina se torna ainda mais importante. Na Casa Tranks, o foco é manter previsibilidade e respeito às necessidades individuais de cada cão. Especialista em comportamento animal, Evandro afirma que a equipe é treinada para identificar sinais de estresse e intervir no momento adequado, seja com cães mais tranquilos ou com aqueles que apresentam maior sensibilidade a barulhos, fogos e mudanças de ambiente. "Priorizamos o bem-estar emocional, a segurança e o conforto dos pets durante todo o período festivo", conclui.

Quem vive isso na prática

A experiência de Moni Leoni, tutora da Zara, ilustra como as festas de fim de ano podem ser desafiadoras para alguns animais. Ansiosa, a cadela não consegue participar de confraternizações fora de casa e reage mal a ambientes com muita gente, barulho e movimento intenso.

Durante o Natal e o Ano Novo, a rotina da Zara é mantida o mais estável possível, principalmente nos horários e na alimentação. Quando a família está em casa, a cadela conta com um espaço tranquilo e seguro para se recolher. Já em momentos de maior agitação, como festas grandes ou viagens, a solução encontrada é a creche e a hospedagem, ambiente no qual ela se sente segura e bem assistida, longe do excesso de estímulos.

Moni conta ainda que, diante do aumento do barulho e das visitas, a cadela já precisou de cuidados extras. "Zara faz uso contínuo de medicação para ansiedade e conta com orientação veterinária para o uso de medicamentos específicos em situações pontuais, como quando há mais pessoas em casa", relata. Para a tutora, respeitar o perfil emocional de cada animal é essencial para atravessar esse período de forma mais tranquila. Manter a rotina, oferecer um ambiente previsível, não forçar interações e buscar apoio profissional quando necessário são atitudes que fazem diferença no conforto e no bem-estar dos pets durante as confraternizações.

 

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