
Para uma comunicação profunda e assertiva com os seres vivos, é necessário compreender questões físicas, emocionais e intelectuais. No caso dos pets, essa transmissão se torna mais complexa pela ausência da verbalidade animal. Entretanto, com o avanço da ciência veterinária integrativa, alguns profissionais acreditam que é possível se comunicar de forma mental com os bichos. O tema é polêmico, mas tem ganhado força.
Apesar dos relatos positivos e dos avanços teóricos, a comunicação entre espécies ainda não é reconhecida pela ciência como um fenômeno comprovado. Pesquisadores como Rupert Sheldrake, Grinberg-Zylberbaum e Miguel Nicolelis já estudaram possíveis bases energéticas, neurológicas e até quânticas para a transmissão de informação entre seres vivos, mas o consenso científico exige décadas de testes e contraprovas.
Esse movimento, porém, tem alterado a relação entre tutores e clínicas. O que antes era sugerido, com cautela, "para clientes que acreditam", agora faz parte das recomendações formais de muitos veterinários, sem justificativas aparentes. Profissionais recebem as comunicações intuitivas para ajudar em diagnósticos, apoiar decisões terapêuticas ou apoiar emocionalmente o animal em períodos de tratamento.
Na prática, a comunicação intuitiva propõe que tutores e animais conversem e se entendam de forma clara e direta, como em uma sessão telepática. De acordo com Sabina Scardua, médica veterinária especialista em comportamento animal, a conexão de consciências é feita com intenção e foco. "Fazemos perguntas específicas ao animal e recebemos a resposta em nosso campo mental", detalha.
Sabina explica que, durante a sessão, as informações podem ser transmitidas de forma física, emocional ou mental. "Pode ser de maneira energética, quando percebemos uma força, uma virtude ou uma presença específica. De forma intuitiva, recebemos respostas naturalmente, fora das limitações de tempo e espaço, algo comum entre animais e tutores. Telepaticamente, fazemos a pergunta e a resposta surge imediatamente na nossa tela mental ou diretamente no corpo, dependendo do que foi questionado. E, pela empaticidade, sentimos a emoção do animal."
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O comunicador é livre para trabalhar de formas diferentes, variando conforme o animal, a espécie ou a raça. Já a interação, na prática, pode ser feita presencialmente ou à distância, bastando uma foto do pet. "Converso primeiro por videochamada com o tutor, que pode fazer de 15 a 20 perguntas para o animal, como onde sente dor, se existe algum medo ou qual é a comida ideal", explica.
Assim que a chamada é finalizada, Sabina se conecta com o bicho por meio da foto e, ao final, retorna ao tutor em uma nova videochamada para transmitir as respostas. "Também existem profissionais que deixam livre para ver o que o animal traz espontaneamente e não fazem perguntas específicas", diz.
Resposta emocional
O impacto da prática em Pipoca foi tão profundo que Bruna Leite, tutora, decidiu manter as sessões. A cadela começou a convulsionar em 2019 e, desde então, vive sem um diagnóstico fechado, sendo tratada como um caso de epilepsia idiopática. Na busca por respostas e algum consolo, Bruna encontrou a prática e se emocionou ao entender do que se tratava.
"A primeira comunicação que fiz da Pipoca foi um divisor de águas. Entender um pouco do que se passa na cabecinha dela me deu mais confiança para seguir em frente", afirma. Desde então, Pipoca já passou por três sessões, e a tutora diz se sentir reconfortada e com mais esperança. "Nos dias difíceis, revisito aquelas palavras. Elas me lembram que não estamos sozinhas."
Uma das experiências que mais marcou Bruna foi quando a comunicadora perguntou à cadela como ela estava, e Pipoca "respondia" apenas sobre o dia presente. "Ela dizia que falaria só do hoje. Nós, tutores, deveríamos fazer o mesmo: viver o agora, porque é nele que estamos", relata. Para Bruna, essa perspectiva virou um lembrete diário. "A Pipoca me mostra, todos os dias, que a vida acontece no presente e que ela é muito maior do que qualquer diagnóstico."
Intuição aplicada
Ao longo do dia, os pets expressam emoções, desejos e percepções, e cabe ao tutor entender que a interação comunicativa vai muito além de palavras e comandos rotineiros. É importante lembrar que cada animal é um ser individual e tem suas particularidades, por isso as deduções sobre o que se passa com o bichinho ou sobre o que ele gosta devem ser deixadas de lado. "Às vezes, o tutor acha que o animal gosta ou sente uma coisa, quando não é bem isso", comenta Sabina Scardua.
Dessa forma, a especialista explica que a prática também pode ser utilizada pelos tutores no dia a dia. "Todo tutor pode aprender a se comunicar. Não se trata de dom ou mediunidade. São técnicas simples que podem ser rapidamente assimiladas e colocadas em prática. O animal percebe, com grande alegria, que o tutor está tentando se comunicar, e vai ajudá-lo nessa jornada de conexão", assegura.
De acordo com a profissional, há meditações práticas para fazer com os pets que funcionam como boas portas de entrada para uma conexão mais profunda. Sabina também recomenda olhar nos olhos do animal sem dizer nada, sincronizar as respirações, fazer uma pergunta despretensiosa antes de dormir e verificar o que pensa a respeito assim que acordar. "Muitos tutores estão conectados profundamente e recebem as informações, mas, como desconhecem essa possibilidade, desconsideram ou acham que é 'coisa da cabeça deles'".
Ela complementa afirmando que a comunicação intuitiva é muito prática para detectar demandas importantes dos animais, como desconfortos físicos ou emocionais, além de facilitar avisos que aumentam o bem-estar e a autoconfiança deles, como chegada de visitas, idas ao veterinário e ausências prolongadas.
Mitos e religião
Para além da expansão da medicina integrativa, que enxerga o animal como um ser completo, sendo físico, emocional, energético e psíquico, especialistas também enfrentam mitos que ainda cercam a prática. Ednise Galego, veterinária e especialista em comportamento animal, explica que uma das maiores confusões é associar a comunicação telepática com psicografia ou espiritismo.
Ela explica que a mediunidade, como a capacidade de ver ou ouvir espíritos, é uma habilidade específica, que alguns indivíduos podem ter desde o nascimento e que não pode ser desenvolvida apenas com treino. A telepatia, por outro lado, está ligada à biologia. "Todos os seres humanos têm a capacidade telepática. É algo que pode ser desenvolvido."
Segundo Ednise, a telepatia com animais não está vinculada a nenhuma religião ou prática espiritual, porque não envolve comunicação com o "espírito" do animal, mas, sim, com sua consciência, termo usado tanto por terapeutas quanto pela própria ciência. "O que precisa ser treinado é a captação dessas informações extrasensoriais, que passam pela nossa própria fisiologia, como a atuação da glândula pineal", acrescenta.
A profissional afirma ainda que a comunicação telepática ocorre a partir desse campo de consciência compartilhado. Todos os animais, domésticos, silvestres ou de qualquer espécie, possuem um campo de informação, o que torna possível estabelecer conexão com qualquer um deles. "A comunicação pode acontecer não só com animais, mas também com outros reinos, como o vegetal e o mineral", explica, reforçando a ideia de que a telepatia é uma habilidade natural e acessível, e não algo místico.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Revista do Correio
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