
Que a corrida oferece inúmeros benefícios físicos e mentais todo mundo já sabe. O que alguns perceberam é que o exercício pode ser muito mais divertido com a presença de um companheiro de quatro patas. Entretanto, apesar de ser uma prática positiva entre humanos, nem sempre esse hábito traz benefícios para os cães. Especialistas dão dicas cautelosas para iniciar com segurança.
De acordo com Pedro Dantas, médico veterinário, correr com um animal pode melhorar a saúde física e mental de ambos, contribuir para o controle de peso, fortalecer o vínculo afetivo, reduzir estresse e ansiedade e estimular a mente por meio de novos ambientes e cheiros. A prática também previne o sedentarismo e a depressão, além de motivar o tutor e otimizar o tempo da rotina.
Mas antes de calçar os tênis e começar a atividade, Renata Godinho, médica veterinária, explica que os animais precisam estar saudáveis e com os exames em dia. Ela ressalta que os bichos não podem apresentar doenças cardiovasculares, articulares ou respiratórias. Também faz um alerta sobre a idade adequada para iniciar. "Para raças pequenas, o ideal é começar com 12 meses. Para animais de grande porte, aos 18 meses." Renata reforça que antes desse período as placas de crescimento ósseo ainda não fecharam e isso pode causar problemas físicos no futuro.
A adaptação é uma etapa essencial para correr com segurança e evitar lesões. A profissional lembra que, assim como os humanos, os cachorros precisam de tempo para aumentar a resistência. Por isso, é importante introduzir a atividade em um piso macio, como grama ou terra. "Começar assim reduz o impacto nas articulações", afirma. A veterinária também orienta os tutores a iniciarem com caminhadas e corridas alternadas, durando no máximo 10 minutos. "Aos poucos, pode-se aumentar a distância, o ritmo e a intensidade."
Depois do período de adaptação, Renata assegura que é necessário um aquecimento antes de todas as sessões. "De forma prévia, é essencial cinco minutos de caminhada para aquecer, e a corrida contínua só deve ser realizada quando o corpo do animal já estiver acostumado ao esforço." Ela ainda aconselha evitar correr logo após a alimentação, pois há risco de torção gástrica.
Para evitar complicações, a profissional sugere checar a temperatura do dia e o horário escolhido para a corrida. "O animal corre risco de hipertermia se for um momento muito quente e, se o chão estiver da mesma forma, pode causar danos severos aos coxins", alerta. Além disso, os tutores devem evitar correr com animais braquicefálicos, como pug, buldogue e shih tzu, que possuem predisposição para displasias e problemas de coluna.
Durante o exercício, o animal deve usar a guia e o peitoral adaptado à cintura do tutor, sempre indicados por um veterinário. Também é importante manter distância de outras pessoas se o cão apresentar qualquer suspeita de agressividade. A água deve ser oferecida durante todo o trajeto e o responsável precisa observar sinais do corpo. "Respiração muito ofegante, língua roxa, salivação excessiva e corpo muito quente são sinais negativos e a corrida deve ser interrompida imediatamente", ensina a veterinária.
Mais do que uma companhia
Como forma de melhorar a saúde física e mental, Luiz Mendes da Silva começou a correr enquanto prestava vestibular para psicologia. Para ele, o exercício é um momento de organização de pensamentos, descarga emocional e superação pessoal. "Com o tempo, isso se tornou parte da minha identidade. Foi quando percebi o quanto correr me transformava, não só no corpo, mas na vida", conta.
A cadela Raika chegou para impulsionar e acompanhar o tutor durante a atividade. "Eu a adotei com o intuito de ter uma companhia para correr. No início, adaptamos com calma, respeitando cada fase, com caminhadas, trotes leves, treinos curtos e muito cuidado com clima, hidratação e solo", recorda-se. Luiz comenta que a cadela se adaptou de forma surpreendente e hoje já participa de provas de corrida.
Luiz lembra com emoção de quando tudo começou. "A história dela com a corrida é, na verdade, uma história de transformação — dela e minha." Eles iniciaram apenas por diversão, mas quando menos esperavam, estavam ganhando pódios e criando laços com outros corredores, tanto nas provas quanto nas redes sociais, já que Raika passou a chamar atenção pela alegria, pelo foco e pela coloração que tem.
Falando alegremente, o tutor relata o amor de Raika pela prática. "Ela ama se exercitar. Quando se trata de participar das provas, parece que ela gosta de estar no meio daquele tanto de pessoas", acredita. Atualmente, a dupla segue com uma rotina tranquila, curtindo os momentos sem preocupação com performance, mas o sonho de ganhar mais troféus juntos ainda existe.
Ele afirma que Raika é muito mais do que uma corredora. Ela se tornou uma inspiração que conecta tutores aos seus animais, incentiva o exercício como forma de bem-estar e já tem até o próprio circuito de corridas, que vai para a quarta edição e vem rendendo convites para eventos em outras cidades.
Com a repercussão, Luiz criou um curso, o método AUcateia, no qual conta acertos e erros já cometidos e ensina os cuidados para adaptar o animal às corridas de rua. "Hoje, contamos com uma comunidade de mais de 100 tutores que buscam aprender a correr com segurança com seus cães após um mês do lançamento do ebook. Futuramente pretendo fazer um curso mais elaborado, com vídeos", conclui.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Revista do Correio
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