COLÔMBIA

Omayra Sanchez: a menina que o mundo assistiu morrer


Com 13 anos, a menina morreu devido à erupção do vulcão Nevado Del Ruiz, em 1985; mais de 25 mil pessoas foram mortas no acidente e 13 aldeias foram destruídas

Por Giovanna Sfalsin
Frank Fournier

Entenda

Omayra morava no bairro de Santander, na cidade de Armero, com os pais Álvaro Enrique e María Aleida, o irmão Álvaro Enrique e a tia María Adela Gárzon. Naquele dia, a família havia seguido orientação da Defesa Civil para ficar em casa, assim como a maior parte dos 28 mil habitantes de Armero

Frank Fournier

A erupção começou às 21h09, quando o Nevado Del Ruiz expeliu milhões de toneladas de fragmentos de rocha, incluindo lava, que foram lançados a até 30km na atmosfera. As geleiras e a neve que cobriam as montanhas derreteram, levando à formação de enormes lahares (fluxo de lama, detritos e material vulcânico)

Domínio Público

Por volta das 23h30, o lahar atingiu o município, engolindo prédios, ruas, pessoas e tudo o que estivesse no caminho. A primeira onda viajou a 6 metros por segundo e chegou a 50m de altura, cobrindo a maior parte da cidade de Armero. A avalanche matou mais de 20 mil pessoas

Jeffrey Marco/USGS

Um socorrista encontrou a mão da menina acenando para fora e conseguiu abrir espaço para a cabeça da adolescente. Omayra ficou presa sobre o concreto e outros escombros da sua residência. Além disso, o braço de sua tia já morta estava agarrado com força ao redor de suas pernas e pés. Isso significa que precisariam ser amputados, mas não havia cirurgião presente

Reprodução/X

Tentaram puxá-la para fora, mas cada tentativa fazia com que o nível da água subisse. A menina passou da calma para a agonia. Cantou para um jornalista, pediu doces, bebeu refrigerante, concordou em ser entrevista por um escritor, orou, chorou e sentiu medo. Ainda contou que a mãe estava viva, pois tinha viajado para Bogotá dias antes da tragédia. 'Mamãe, se você me ouve, quero que reze para que fique tudo bem', disse a menina

Reprodução/FolhadeJandira

Na terceira noite, Sanchez teve alucinações, balbuciando algo sobre chegar atrasar à escola e uma prova de matemática. Após 60 horas heróicas, Omayra morreu às 10h05 do dia 16 de novembro de 1985, provavelmente devido a gangrena ou hipotermia

AFP

Em um funeral para centenas de pessoas em Ibague, capital do departamento de Tolima, havia uma faixa que dizia: 'O vulcão não matou 23 mil pessoas. O governo matou'. Durante semanas, autoridades de Armero tentaram alertar o governo sobre a crescente atividade do vulcão, a 50km de distância. Mas os líderes do país estavam ocupados com grupos guerrilheiros que, dias antes, chegaram a tomar o Palácio da Justiça, sede da Suprema Corte do país

Domínio Público

A última erupção relevante havia ocorrido 145 anos antes. No dia do desastre, poucas horas antes da explosão, quando o vulcão começou a cuspir fragmentos, a defesa civil decidiu emitir a ordem de evacuação. Mas uma forte tempestade causou uma pane nas comunicações, fazendo com que pouca gente soubesse que deveria deixar o município

Wikicommons

De acordo com o centro de monitoramento vulcânico da Colômbia, o Nevado Del Ruiz ainda está ativo. Estimativas mostram que até 500 mil pessoas que vivem nos vales Combelina, Chichiná, Coello-Toche e Guali estão em risco

Reprodução/Google

A cidade de Amaro não existe mais. O local ficou como um memorial com cruzes cristãs e um pequeno monumento à Sanchez

Reprodução/X