Amado deixou uma herança literária e cultural que resiste ao tempo, celebrando o povo, os sabores, os amores e as contradições da Bahia, sua terra natal, e do Brasil.
Jorge Leal Amado de Faria nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, no sul da Bahia, e cresceu em Ilhéus, região marcada pelo ciclo do cacau.
Foi essa terra fértil em dramas humanos e conflitos sociais que forneceu o cenário para muitos de seus livros mais conhecidos.
Na adolescência, Jorge Amado se mudou para Salvador, e mais tarde para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, embora nunca tenha exercido a profissão.
Desde jovem, ele se dedicou ao jornalismo e à militância política. Jorge Amado foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro e chegou a ser preso, além de precisar se exilar por suas posições, tendo vivido no Uruguai, na Argentina, na França e na República Tcheca.
A obra de Jorge Amado é marcada por dois momentos principais. O primeiro, mais engajado politicamente, inclui romances como “Cacau”, “Suor” e “Jubiabá”, que retratam a luta dos trabalhadores e as desigualdades sociais.
Nos anos seguintes, sem abandonar a crítica social, sua escrita tornou-se mais voltada à celebração da cultura popular, com personagens exuberantes e tramas permeadas de beleza, religiosidade e humor.
Livros como “Capitães da Areia”, de 1937, “Gabriela, Cravo e Canela”, 1958, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de 1966, e “Tieta do Agreste”, de 1977, se tornaram clássicos não apenas da literatura, mas também da televisão e do cinema brasileiros.
Isso graças às bem-sucedidas adaptações. Seus personagens - como Pedro Bala, Gabriela, Vadinho e Tieta - tornaram-se arquétipos da alma brasileira.
A adaptação cinematográfica de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto, foi a maior bilheteria da história do cinema brasileiro por mais de 30 anos - de 1976, ano de seu lançamento, até 2010, quando “Tropa de Elite 2” assumiu esse posto. O filme, protagonizado por Sônia Braga e José Wilker, foi visto por mais de 10 milhões de espectadores.
As obras de Jorge Amado foram traduzidas para mais de 50 idiomas. Ele é um dos autores brasileiros mais lidos de todos os tempos.
O escritor baiano foi membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1961, e recebeu diversas condecorações no exterior, como a Legião de Honra da França. Seu prestígio internacional também ajudou a projetar a literatura brasileira no exterior.
O escritor era próximo de grandes nomes da música popular brasileira, como Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia e Chico Buarque.
Todos esses artistas, de algum modo, foram tocados pela Bahia retratada por ele. Sua obra ecoa nas letras de músicas e em homenagens explícitas: “Modinha para Gabriela”, por exemplo, foi composta por Caymmi para a novela baseada em “Gabriela, Cravo e Canela”. A música virou clássico instantâneo e ajudou a eternizar a personagem.
Além disso, o autor frequentava festas populares e terreiros de candomblé, onde a música é expressão viva da cultura. Ele valorizava o papel da musicalidade afro-brasileira como força narrativa, identitária e política - um traço marcante tanto em seus romances quanto na música baiana que floresceu nas décadas seguintes.
Ao lado da esposa, a também escritora Zélia Gattai, construiu uma vida dedicada à arte, à polÃtica e à defesa da cultura brasileira. Eles foram casados por 56 anos - de 1945 até a morte do escritor, em 2001.
Dessa união, nasceram os filhos João Jorge a Paloma. O escritor também era pai de Lila, fruto do casamento de Jorge Amado com Matilde Garcia Rosa.
O casal viveu por décadas em Salvador, onde a casa que compartilharam hoje abriga a Fundação Casa de Jorge Amado, no bairro do Pelourinho.
A Fundação Casa de Jorge Amado é um espaço dedicado à preservação de sua memória e incentivo à literatura.
Mesmo passadas mais de duas décadas desde sua morte, Jorge Amado continua vivo na imaginação de leitores de diferentes gerações. Sua obra, acessível e profundamente brasileira, continua sendo relida, adaptada e estudada.