Obituário

Personalidades da capital destacam o legado de Juliano Costa Couto

O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) não resistiu a um câncer e morreu nesse domingo (28/4). GDF decretou luto oficial. Autoridades políticas e jurídicas da capital federal destacam o brilhantismo do advogado e professor universitário

Juliano com os filhos, Gustavo, também advogado, e Manuela -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Juliano com os filhos, Gustavo, também advogado, e Manuela - (crédito: Arquivo Pessoal)

O meio jurídico do Distrito Federal está de luto. Morreu, nesse domingo (28/4), o advogado, professor universitário e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Distrito Federal (OAB-DF) Juliano Costa Couto, aos 49 anos. Ele não resistiu às complicações de um câncer no intestino, contra o qual lutava desde 2017.

O velório de Juliano será nesta segunda-feira (29/4), a partir das 9h, na Capela 10 do Cemitério Campo da Esperança na Asa Sul, e o sepultamento está marcado para às 12h30.

De acordo com fontes ligadas à família, Juliano Ricardo de Vasconcellos Costa Couto também batalhava contra uma bactéria no pulmão e morreu "em casa e sem dor, como desejou". O carioca de sangue mineiro, flamenguista roxo e aquariano visionário amava o direito e foi membro de comissões, conselheiro, diretor e presidente da OAB-DF no triênio 2016/2018. Ele lecionava em universidade desde 2000 e, atualmente, se dedicava à advocacia no escritório Costa Couto Advogados, fundado por ele em 2003.

Brasiliense de coração, criado na capital desde os 4 anos de idade, Juliano se tornou membro, no ano passado, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF). "Tive uma infância e adolescência em Brasília, livre e leve, ao som do liberto rock n'roll que sempre rolou pelas ruas e quadras da nossa capital", ele declarou, há um ano, à revista Encontro Brasília.

Filho do ex-governador do DF e conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do DF Ronaldo Costa Couto e Virgínia, Juliano admirava e inspirava-se no legado do pai, historiador, professor e político, que se aposentou como conselheiro do Tribunal de Contas do DF e chegou a acumular os cargos de governador do Distrito Federal e ministro do Interior, Gabinete Civil e do Trabalho.

Juliano deixa a esposa, Aline Cabeceira Couto, com quem oficializou o casamento em 2023, e dois filhos, Gustavo Costa Couto, advogado e sócio, de 27 anos, e a pequena Manuela, 12. Em sua rede social, o primogênito postou que o pai é "maior que a vida", "um combustível infinito de amor" e o "rei dos stories", em referência à atuação do advogado nas redes sociais. "Sei que quem está lendo já encaminhou um (story) seu para alguém", observou.

Lideranças políticas e jurídicas da capital do país lamentaram a perda do cidadão que amava Brasília e destacaram o brilhantismo e o engajamento do — acima de tudo — defensor da Ordem e do Direito.

Amor por Brasília

O governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou luto oficial de três dias pela morte do amigo, com quem trabalhou. "Juliano Costa Couto foi um advogado pleno e um líder incontestável à frente da OAB, revelando sua competência, equilíbrio e permanente disposição para o diálogo. Deixa um legado que há de inspirar a reafirmar, a cada dia, o compromisso com o espírito público que nos anima", escreveu o chefe do Executivo, nas redes sociais.

"Seu nome será sempre recordado com saudade, tanto pelos amigos e amigas, pela advocacia, pelo direito que ele defendeu, e por Brasília, que tanto amou. Aos familiares, deixo os mais sinceros pêsames", finalizou Ibaneis.

A vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), também fez uma manifestação pública. "Brilhante, engajado, querido e respeitado pelos mais diversos setores da sociedade no Distrito Federal. Com sorriso fácil e amplo diálogo, conquistou o protagonismo e deixou o seu legado em defesa da Ordem e do Direito. Que Deus conforte todos os familiares e amigos. E que o receba em sua imensa misericórdia", diz a mensagem publicada por Celina nas redes sociais.

  • Juliano deixa esposa e dois filhos: Gustavo e Manuela (da união com Aline)
    Juliano deixa esposa e dois filhos: Gustavo e Manuela (da união com Aline) Reprodução/Instagram
  • Juliano com o pai, Ronaldo Costa Couto, conselheiro emérito do TCDF
    Juliano com o pai, Ronaldo Costa Couto, conselheiro emérito do TCDF Arquivo pessoal
  •  Ex-presidente da OAB/DF Juliano Costa Couto
    Ex-presidente da OAB/DF Juliano Costa Couto Divulgação
  • Juliano com os filhos, Gustavo, também advogado, e Manuela
    Juliano com os filhos, Gustavo, também advogado, e Manuela Arquivo Pessoal
  • "Um líder incontestável à frente da OAB", declarou Ibaneis Rocha Helio Montferre/Esp. CB/D.A Press

"Diálogo como marca"

Formado pela UDF em 1997, Juliano Costa Couto era mestre em direito constitucional e processo constitucional, pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), e pós-graduado em processo civil, pelo ICAT-Master/AEUDF.

Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes deixou as condolências à família. "O advogado concluiu seu mestrado no IDP, tendo colaborado inúmeras vezes com o instituto. Além da sua atuação na advocacia, Juliano dedicou-se também ao magistério, sendo reconhecido por sua competência e bom humor", frisou.

"A advocacia e o país perdem um profissional que fez do diálogo sua marca", pronunciou-se o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

"Líder inspirador"

O Conselho Federal da OAB também decretou luto oficial de três dias. "Juliano foi um colega de inestimável valor, um advogado fervoroso e um líder inspirador, que sempre colocou a justiça e o bem-estar da nossa classe em primeiro plano", elogiou o presidente nacional da Ordem, Beto Simonetti.

O atual presidente da seccional do DF, Délio Lins e Silva, pontuou que Juliano era, acima de tudo, "um grande amigo". "Juliano era luz, alegria, irreverência. Carismático, doce, sempre gentil", declarou a vice-presidente, Lenda Tariana. "O legado de Juliano transcende sua pessoa e está imortalizado nas suas contribuições para a advocacia brasileira", continuou.

Em nota publicada no portal oficial, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) manifestou pesar pela perda de Juliano Costa Couto, morto ontem, aos 49 anos, e prestou solidariedade à família e aos amigos do advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF).

O primeiro vice-presidente do órgão, desembargador Roberval Belinati, acrescentou que o ex-aluno era "brilhante e alegre" e lamentou profundamente a partida do amigo. "Nos bancos escolares, Juliano já se destacava como um grande líder. Na presidência da OAB-DF, conquistou a todos pela sua dedicação e serviços prestados a toda sociedade. Foi um dos advogados mais brilhantes do Distrito Federal e um dos maiores oradores da classe.

Belinatti se recorda de que, na solenidade em que recebeu o título de cidadão honorário de Brasília, na CLDF, em 2018, Juliano foi calorosamente aplaudido pelo belíssimo discurso proferido. Ele destaca que o colega de profissão sempre prestigiou "com sua honrosa presença" os principais eventos do TJDFT e do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), presidido pelo desembargador até este mês. "Deixa muitos amigos e muitas saudades. Juliano, ser humano do bem, veio de Deus, e para Deus retorna, para cumprir nova missão", concluiu.

 Ex-presidente da OAB/DF Juliano Costa Couto com família
Juliano deixa esposa e dois filhos: Gustavo e Manuela (da união com Aline) (foto: Reprodução/Instagram)

"Espírito público"

Em suas redes sociais, a senadora Leila Barros (PDT-DF) declarou que recebeu "com profundo pesar" a notícia do falecimento do ex-presidente da OAB-DF. "Juliano não apenas liderou com excelência a advocacia em nossa capital, mas também foi um colaborador incansável na busca por melhorias sociais", destacou.

Delegada de polícia e deputada distrital, Jane Klebia (MDB) também divulgou uma mensagem elogiando o trabalho de Juliano. "Deixa um legado inestimável para a advocacia e educação jurídica, destacando-se como um profissional de excepcional ética, dedicação e competência. Sempre será lembrado por sua contribuição significativa ao Direito e sua incansável luta pelas causas", diz o texto.

A deputada Paula Belmonte (Cidadania) também publicou uma nota em suas redes sociais relembrando o trabalho de Juliano. "Triste dia para a advocacia e para Brasília! Perdemos uma referência de profissional competente e muito respeitado. Representou tão bem os interesses do cidadão e da OAB, que presidiu com equilíbrio e diálogo. Fica o exemplo e um grande legado", afirmou.

Em uma mensagem emocionada nas redes sociais, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, lembrou a amizade com Juliano, a quem conheceu jogando futebol na OAB, nos anos 1990, definiu o amigo como "um craque".

"A grande habilidade (não com a bola) em tratar os colegas de time com a mesma fidalguia que os do time adversário, revelava, já naquela época, a lhaneza, o fino trato que o caracterizava. Nesse aspecto, aí sim, Juliano era um craque", completou. "Muitos anos depois, eleito presidente da casa, continuou a exercer esse dom tão (cada vez mais) raro. Juliano era um gentleman. Bem capaz que Deus vai te receber de terno", finalizou.

O ex-secretário de Cultura do DF Bartolomeu Rodrigues se mostrou consternado com a morte de Juliano, com quem trabalhou na OAB-DF. "Pessoalmente, estou abaladíssimo. No último domingo (uma semana exata) conversamos por telefone, brincamos, rimos. E agora essa notícia", contou. "Juliano tinha um elevado espírito público, e essa característica ele levou para a Ordem dos Advogados, dignificando e dando brilho à entidade. Foi um exemplo para seus colegas e deixa muitas saudades", completou.

"Coragem e justiça"

O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) também divulgou nota lamentando a morte de Juliano, que foi servidor do órgão e atuou na Consultoria Jurídica da Corte. "Sua passagem pelo Tribunal foi marcada pelo profissionalismo, pela dedicação com que realizava seu trabalho e pela admiração dos colegas", afirma a nota oficial.

Amigo da família, o conselheiro do TCDF Renato Rainha estava bastante abalado ontem. "A família e os amigos perdem o melhor filho, pai, esposo, irmão, tio e amigo; a Advocacia brasileira perde um combativo, ético e competentíssimo advogado. Brasília perde um dos seus mais ilustres e dignos cidadãos, e o céu ganha uma imensa estrela de alegria e pureza de alma", disse Rainha.

A advogada Hellen Falcão, que foi conselheira da OAB-DF na gestão de Juliano, enalteceu o amigo "presente e atento". "Sempre poderíamos contar com ele, fazia questão de olhar o indivíduo como unido, tanto que decorava não só o nome, mas o nome da mãe, do pai, cidade de nascimento. Ele tinha uma memória inigualável, que chamava atenção. Ele conhecia os advogados pelo nome e cidade de nascimento. Dava muita força e voz à advocacia jovem, lutou bravamente as batalhas da advocacia, será sempre lembrado como um forte, bravo e leal amigo", elogiou.

Thais Riedel, que concorreu à presidência da OAB-DF no último pleito, apoiada por Juliano, elogiou o colega. "Juliano era um grande líder, carismático e um amigo querido, que carregava na alma mineira e o espírito empreendedor do brasiliense", resumiu Rodrigo Badaró, ouvidor-geral adjunto da OAB-DF.

 


Herdeiros da paz

No sábado à noite, assisti a Guerra Civil e saí com a sensação de que o filme estrelado pelo Wagner Moura é uma premonição do que nos espera no planeta Terra. Ódio, intolerância, insensibilidade, ausência de objetivos claros e sonhos podem levar ao caos. Perdi o sono pensando que faltam vozes para alimentar espíritos e consciências de que a vida não deveria ser nada disso, que a morte e o conflito não podem ser banalizados.

Como diria Lenine, a vida é tão rara… A felicidade é muito simples. Mas parece que muitas pessoas acreditam que vencer uma discussão, ter razão, reunir dinheiro e poder é o que importa.

Depois dessa reflexão, acordei — literalmente acordei — com a notícia da morte do Juliano. Foi um choque. Eu sabia que ele não estava bem, que o câncer tinha voltado, mas ainda tentei nos últimos tempos buscar a inspiração dele para me ajudar no caderno Direito&Justiça. Queria aproveitar um pouco mais de sua sabedoria.

Ele, que muito me incentivou e participou tantas vezes da coluna Eixo Capital, andava fechado na família, muito mais concentrado na mulher, Aline, e nos filhos, Gustavo e Manuela. Aliás, foi uma alegria dele quando noticiei que seu primogênito recebera a carteira da OAB-DF. Seu herdeiro da advocacia.

Mas o que o filme tem a ver com o ex-presidente da OAB-DF? É que o mundo precisa de mais Julianos. De mais pessoas que tratam os embates com um sorriso, com diálogo e com respeito. Acredito que ele não tenha feito inimigos ao longo da vida. Apenas adversários nas disputas pelo comando da OAB-DF.

Os opositores nunca o viram como alguém a abater. Não se ouvia ataques a Juliano, nem mesmo sob o sigilo da fonte. Todos gostavam dele. E ele era muito querido entre os advogados. Na última disputa para a OAB-DF, ele entrou para ajudar a advogada Thaís Riedel e ambos fizeram uma campanha linda, com festa e alegria. Thaís dividiu o protagonismo com seu cabo eleitoral.

Juliano era da paz. Chegava em qualquer lugar com aquele baita sorriso no rosto e conquistava a todos. Tinha o dom da oratória e uma simpatia que cativava os interlocutores. Venceu muitos obstáculos ao longo da vida e construiu uma bela história. Ele sempre se apresentava como um colaborador do meu trabalho. Brincava que era meu estagiário porque estava sempre a postos para ajudar.

Na coluna Eixo Capital, disse que Juliano seria um importante cabo eleitoral nas próximas eleições da OAB-DF. Não esperava que o câncer o arrebatasse tão cedo. Mas, com certeza, ele estará presente. Será lembrado e homenageado e torço para que tenha conseguido plantar uma semente no coração de admiradores e alunos para que surjam novos defensores do diálogo, do equilíbrio e da harmonia nas relações humanas.

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postado em 29/04/2024 04:00
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