INVESTIGAÇÃO

Marielle: "Prisões não são o fim do caso", diz viúva da vereadora

A viúva de Anderson Gomes, Ágatha Amaus, disse que o envolvimento do ex-chefe da Polícia Civil nas mortes é um "tapa na cara"

"Hoje saber que o homem que nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu hoje tem envolvimento nesse mando é para nós entender que a Polícia Civil não foi só negligente", disse Monica Benício - (crédito: Flickr/Câmara do Rio)
postado em 24/03/2024 14:54

A vereadora e viúva de Marielle Franco, Monica Benício, disse que ficou surpresa com o envolvimento do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, na morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Rivaldo foi preso na manhã deste domingo (24/3), junto com o conselheiro Domingos Brazão e o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ).

"Se por um lado, o nome da família Brazão não nos surpreende tanto, o nome de Rivaldo Barbosa sem dúvida nenhuma foi uma grande surpresa, em especial considerando que ele foi a primeira autoridade que recebeu a família no dia seguinte, dizendo que seria uma prioridade da Polícia Civil a elucidação desse caso", disse Monica, em entrevista a jornalistas na saída da Superintedência da Polícia Federal do Rio.

A vereadora também disse que houve não apenas negligência ao longo das investigações, mas também conivência de autoridades policiais. "Hoje saber que o homem que nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu tem envolvimento nesse mando é, para nós, entender que a Polícia Civil não foi só negligente. Não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso", afirmou.

 

Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, e Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes
Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, e Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes (foto: Reprodução/X/@monica_benicio)

"Rivaldo, que recebeu as nossas famílias logo após Marielle e Anderson serem assassinados, com o sorriso cínico que só as mais corruptas das burocracias podem produzir, nos dizendo que o caso seria uma prioridade máxima para ser solucionado o mais rápido possível. Seu nome envolto nessa execução brutal só demonstra o tamanho do abismo que vivemos no Estado do Rio de Janeiro, com instituições amplamente comprometidas nas teias mais podres do crime, da corrupção e do mercado de mortes", acrescentou Monica.

Para Monica, as prisões dos suspeitos de serem os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson não são o fim do caso, mas sim o começo de uma nova luta em busca de Justiça. "Espero que, ao rigor da lei mais severa possível, todos os envolvidos sejam responsabilizados. Nem só porque as nossas famílias precisam, mas porque a democracia necessita disso", frisou a parlamentar.

A viúva de Anderson Gomes, Ágatha Amaus, afirmou que após seis anos do crime, o país está caminhando para que a Justiça seja feita. "É o mais perto que já chegamos. Espero que ainda avance muito mais, porque ainda é pouco, ainda não tem uma resposta clara da motivação. E ver que quem é apontado como mandante nos abraçou é um tapa na cara", disse.

Veja a nota das viúvas de Marielle e Anderson:

Foram 2.202 dias de espera. 6 anos e 10 dias dessa dor que hoje não acaba, mas que encontra, finalmente, um momento de esperançar justiça e paz. E isso é apenas uma parte do que Marielle e Anderson merecem. Nesse domingo chuvoso de março, a verdade começou a ser desvelada. O que, diante da nossa dor, é o tempo de uma vida inteira depois daquele 14 que marcou mais do que nossas vidas - marcou a nossa carne e o próprio Estado Democrático de Direito.

A Polícia Federal realizou hoje uma operação para prender não um, mas três mandantes do assassinato brutal de Marielle e Anderson. Se os nomes de integrantes da família Brazão não causam surpresa ao serem revelados, a investigação da PF traz ainda mais um integrante desta odiosa trama: Rivaldo Barbosa, o então chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. O anúncio do seu nome mostra que a Polícia Civil não foi apenas falha, mas cúmplice deste crime.

Rivaldo, que recebeu as nossas famílias logo após Marielle e Anderson serem assassinados, com o sorriso cínico que só as mais corruptas das burocracias podem produzir, nos dizendo que o caso seria uma prioridade máxima para ser solucionado o mais rápido possível. Seu nome envolto nessa execução brutal só demonstra o tamanho do abismo que vivemos no Estado do Rio de Janeiro, com instituições amplamente comprometidas nas teias mais podres do crime, da corrupção e do mercado de mortes.

Um passo decisivo foi dado, mas a luta por justiça que nossas famílias travam nesses longos seis anos não termina na manhã de hoje. Não descansaremos até que haja, enfim, uma sentença. E iremos além. Não descansaremos até que todos os sórdidos poderes que dominam este Estado sejam, enfim, derrotados.

À Polícia Federal, ao Ministério da Justiça, e ao Governo Federal, ao Ministério Público do Rio de Janeiro e ao Ministério Público Federal, expressamos o nosso mais profundo reconhecimento pelo compromisso de fazer valer este sopro de esperança. Há luta pela frente, e estaremos cada vez mais fortes para enfrentá-la.

Hoje vence a democracia. Hoje Marielle e Anderson começam a ter justiça por suas vidas ceifadas. Não descansaremos até que a Justiça seja feita de forma plena. Por Marielle e Anderson, por nossas famílias, pela democracia no Brasil.

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