
A educadora pública de Betim Claudineia Francisca Lima, de 46 anos, morreu na noite desse sábado (15/02) após passar por cirurgia plástica em um hospital-dia localizado no Condomínio LifeCenter, no Bairro Serra, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Internada no dia 13/02, a mulher precisou passou por um martírio até o diagnóstico correto, mas foi tarde demais.
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De acordo com informações da Polícia Militar, a mulher se internou no hospital-dia para remover uma hérnia epigástrica - um inchaço na parte superior do abdômen, entre o osso esterno e o umbigo - e realizar uma abdominoplastia, que é a reconstrução e modelagem dessa região do corpo.
Houve complicações no estado clínico da paciente, segundo a assessoria da Polícia Civil, e ela precisou ser removida para o Hospital Alberto Cavalcanti, no Barreiro, onde passou por uma cirurgia de alto risco para conter um rompimento da traqueia.
De acordo com o marido de Claudineia, Adinelson Valadares, mesmo após o corte na traqueia ter sido identificado, a plástica prosseguiu e só depois a mulher foi encaminhada para os cuidados de risco vital.
Após o procedimento, informa a PM, a mulher, natural de Contagem, apresentou grave inchaço do rosto e chegou a receber cuidados anti-histamínicos (contra alergias medicamentosas), até que foi removida para o atendimento de emergência, onde foi tentada a reparação do rompimento da traqueia, mas sem sucesso. Porém, em nota enviada ao Estado de Minas, a assessoria do médico afirma que a traqueia da paciente não foi perfurada pelo cirurgião e a equipe não percebeu qualquer intercorrência durante o procedimento.
A mesma nota, entretanto, informa que a mulher foi entubada pelo anestesista como um procedimento padrão de cirurgia. A entubação traqueal é um procedimento médico que consiste na inserção de um tubo na traqueia do paciente, através do nariz ou da boca, no caso, devido à necessidade de anestesia geral.
Família se manifesta
A educadora deixa um casal de filhos, dois netos e o marido. Amigos e parentes da vítima deixaram mensagens no perfil dela no Facebook. Claudineia é descrita como uma mulher alegre, de sorriso fácil, e que contagiava tanto a equipe dela nas escolas por onde passou em Betim e Contagem quanto os familiares. Adorava ir a shows e viajar com a família, sobretudo para a praia.
Segundo os familiares relataram na ocorrência policial, a cirurgia ocorreu na clínica do médico Marcelo Cesar Reggiani Alves.
Após o término do procedimento, a família afirma ter sido informada que a cirurgia foi bem sucedida. Mas a paciente apresentou inchaço no rosto, nos olhos e no pescoço. As complicações detectadas pelos familiares foram expostas e a médica plantonista do hospital-dia, chamada Juliana, diagnosticou Claudineia com anafilaxia (grave reação alérgica) e administrou antialérgicos, mas não houve melhora.
A médica aplicou adrenalina e o quadro persistiu. O médico Marcelo Reggiani então chegou para acompanhar a sua paciente e minutos depois foi questionado pelos parentes sobre a necessidade de transferência para uma UTI.
O marido dela, Adinelson Valadares, disse que questionou os recursos da clínica diante ao quadro da sua mulher e afirma que a plantonista disse não saber como fazer a transferência e que, tomada pelo desespero, a plantonista começou a chorar. Depois, quando se controlou, a profissional de saúde ligou para outros médicos pedindo orientações, ainda segundo o marido de Claudineia.
O cirurgião plástico então disse que ela tinha sinais vitais estáveis, mas foi questionado sobre a dificuldade respiratória e sobre o quadro que não seria bom.
O médico concordou com a transferência da paciente, mas alertou que os custos correriam por conta da família. O Samu foi então acionado, mas teria informado que a própria clínica deveria fornecer a ambulância.
O médico também teria ligado para o Samu e recebido a mesma informação. A família pediu para a clínica fornecer uma ambulância. O médico teria então dito que teria o recurso, mas quer demoraria por volta de 1 hora e meia. Com isso, foi decidido pela família e pelos médicos usar o pronto-atendimento do Hospital LifeCenter, onde a mulher recebeu os primeiros procedimentos, mas não foi internada pois não tinha convênio.
O médico então conseguiu uma ambulância e já na madrugada de sexta-feira (14/02), Claudineia foi transferida para o hospital Medsênior, na Pampulha, onde foi admitida em sala de urgência.
O cirurgião Marcelo Reggiani passou a sua paciente para uma médica plantonista, onde Claudineia passou pela sala de emergência e depois para a sala de medicação, onde foi avaliada pelo médico André que a diagnosticou com uma lesão na traquéia.
Um especialista foi contactado e Claudineia foi transferida para o Hospital Alberto Cavalcanti, do outro lado da cidade, na Região do Barreiro, onde ela finalmente foi atendida por um cirurgião toráxico. No dia 15 de fevereiro ela foi submetida a uma cirurgia de emergência, mas não resistiu e morreu.
Na nota enviada ao EM, o médico atribui o agravamento do caso a demora no tratamento efetivo ocasionado por sucessivas transferências entre hospitais após a cirurgia plástica. O profissional tem clinica reconhecida nas redes sociais, onde mostra resultados dos procedimentos, responde a dúvidas de pacientes e faz até orçamentos.
Leia a íntegra da nota enviada pelo médico Marcelo Reggiani:
"A cirurgia plástica foi realizada na quinta-feira, 13 de fevereiro, em um hospital-dia localizado no Condomínio Lifecenter, em Belo Horizonte. O local possui autorização para a realização segura de diversos procedimentos médicos.
As intervenções foram feitas sob anestesia geral, que exige intubação. Essa escolha foi necessária visto que a anestesia peridural não foi completamente eficaz, conforme identificado pela anestesista. Ou seja, não houve perfuração da traqueia da paciente pelo cirurgião plástico. A intubação foi realizada pela anestesista como um procedimento padrão para a cirurgia.
A equipe médica não identificou nenhuma intercorrência durante o procedimento, que foi concluído e a paciente foi encaminhada ao quarto para observação e recuperação, conforme protocolo pós-operatório padrão.
Duas horas após a internação no quarto, a equipe observou inchaço na face da paciente, compatível com um quadro de anafilaxia (reação alérgica), e todas as medidas necessárias foram tomadas. Diante da evolução do quadro, mesmo com suporte médico devido, o cirurgião estando presencialmente com a paciente recomendou a internação emergencial em um hospital com maior estrutura.
O cirurgião atribui o agravamento do caso à demora no tratamento efetivo, ocasionado por sucessivas transferências entre hospitais após a cirurgia plástica e que estão listadas a seguir. Durante todo o período após a cirurgia, ele manteve contato próximo com a família, prestando apoio de forma ética e empática.
Linha do tempo das transferências da paciente
Após a recomendação de transferência pelo cirurgião, a paciente deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital Lifecenter, localizado no mesmo complexo do hospital-dia. Durante o atendimento, a equipe de plantão também suspeitou de anafilaxia e conduziu o tratamento com base nesse diagnóstico. No entanto, como a operadora de saúde da paciente não era aceita pelo hospital, a família optou por transferi-la para o Pronto Atendimento do Hospital MedSênior, na Pampulha. Como não havia risco imediato à vida, as equipes do Hospital Lifecenter e do cirurgião apoiaram a transferência.
No MedSênior, a equipe de emergência ampliou a investigação diagnóstica, pois o quadro continuava evoluindo mesmo com o tratamento para anafilaxia. Após a realização de uma tomografia, foi identificada lesão na traqueia e recomendada a internação para cirurgia torácica. No entanto, devido ao período de carência do plano de saúde da paciente e à ausência de risco iminente à vida naquele momento, a recomendação foi transferi-la para um hospital público (SUS).
Nesse ponto, a operadora já havia acionado uma ambulância para a transferência. Inicialmente, a família recusou a remoção, mas, após nova avaliação da necessidade, aceitou. Entretanto, foi necessário acionar outra ambulância, o que resultou em um atraso de aproximadamente duas horas na transferência para o Hospital Alberto Cavalcanti, localizado no Padre Eustáquio, isso na sexta-feira (14/02). No sábado (15/02), a paciente passou por um procedimento pela cirurgia torácica mais invasiva, sofreu duas paradas cardíacas e, infelizmente, faleceu.
A anestesista mencionou ao cirurgião algumas hipóteses para a perfuração da traqueia, que são descritas na literatura médica como riscos inerentes à manipulação da via aérea para intubação. Entre elas, estão possíveis lesões causadas pela guia utilizada para a intubação ou ruptura provocada pelo próprio tubo."
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