LGBTQIAPN+

Dois a cada três jovens LGBT+ no Brasil ocultam a identidade por medo do preconceito

Jovens LGBTQIAPN+ escondem sua identidade por medo de preconceito, especialmente na escola, na família e em espaços religiosos, aponta estudo nacional

76% dos jovens LGBTQIAPN+ apontaram já ter ocultado suas diversidades no ambiente familiar -  (crédito: Miguel Schincariol/AFP)
76% dos jovens LGBTQIAPN+ apontaram já ter ocultado suas diversidades no ambiente familiar - (crédito: Miguel Schincariol/AFP)

Entre olhares desconfiados e silêncios forçados, 67% dos jovens LGBTQIAPN+ no Brasil já esconderam traços de sua identidade — seja a orientação sexual ou a identidade de gênero — por receio do preconceito nos espaços que frequentam. A escola ou faculdade, bem como o ambiente familiar, ainda são territórios em que a liberdade de ser é um desafio diário. É o que revela a 3º edição da Pesquisa Diversidade Jovem, realizada pelo Espro (Ensino Social Profissionalizante), entidade sem fins lucrativos que atua na capacitação de adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social para o mundo do trabalho.

O levantamento — feito em parceria com a Diverse Soluções, ecossistema de negócios focado em diversidade e inclusão — ouviu 3.257 jovens de diferentes regiões do Brasil. Destes, cerca de 3 em cada 10 se identificaram como LGBTQIAPN+ — sigla que inclui pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não binárias e outras identidades.

Entre os jovens LGBTQIAPN+, 76% disseram já ter omitido suas vivências no ambiente familiar. Em seguida, vieram a escola ou faculdade (69%), os espaços religiosos (67%) e serviços como transporte público, saúde e restaurantes (65%). Curiosamente, o ambiente de trabalho foi o menos citado entre os locais onde escondem sua identidade (59%).

Onde o preconceito é mais sentido

Em comparação com outros grupos — recortados por gênero, raça e cor —, os jovens LGBTQIAPN+ são também os que mais vivenciam ou testemunham situações de preconceito. Nesse aspecto, a escola ou faculdade é o espaço mais mencionado (87%), seguida por serviços (84%), ambiente familiar (82%), espaços religiosos (77%) e trabalho (52%).

Entre os jovens negros ouvidos pelo estudo, 80% relataram ter passado por episódios de preconceito na escola ou faculdade, e 63% no ambiente familiar. Para as mulheres, esses números sobem para 82% e 67%, respectivamente.

  • 3.257 jovens de todo o Brasil
    3.257 jovens de todo o Brasil Espro/Diverse
  • 3.257 jovens de todo o Brasil
    3.257 jovens de todo o Brasil Espro/Diverse

Já entre os homens cisgênero, heterossexuais e brancos, as percepções de preconceito são consideravelmente menores: 67% mencionam a escola ou faculdade, 64% os serviços, 48% a família e 45% os espaços religiosos. O ambiente de trabalho é novamente o menos citado, com 35%.

Um retrato desigual

“A pesquisa mostra que a realidade dos jovens é múltipla, e sua experiência em ambientes como o mercado de trabalho e a escola é atravessada por sua identidade”, analisa Beatriz Santa Rita, especialista em diversidade e inclusão e CEO da Diverse Soluções. “Isso fica evidente quando comparamos a vivência de jovens brancos, cis e heteros com a de jovens LGBTIAPN+ ou negros, por exemplo.”

Beatriz ressalta a urgência de atuação concreta das instituições: “Escolas, empresas e organizações precisam reforçar mecanismos de enfrentamento à discriminação e criar práticas de segurança e inclusão. Caso contrário, terão dificuldades em atrair e engajar esse público — como estudantes ou colaboradores”.

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A 3ª edição da pesquisa ouviu jovens de 14 a 23 anos, atendidos por programas do Espro como cursos gratuitos de capacitação, Jovem Aprendiz e estágios. Entre os respondentes, além dos 33% que afirmaram pertencer à comunidade LGBTQIAPN+, 66% eram mulheres (cis ou trans), 53% negros (pretos ou pardos), e 10% se identificaram como homens cisgênero, heterossexuais e brancos. A coleta de dados ocorreu entre 16 de setembro e 31 de outubro de 2024, com índice de confiabilidade de 99% e margem de erro de 2%.

 

postado em 03/07/2025 23:19
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