GASES POLUENTES

Emissão de metano no Brasil aumentou 6% em 4 anos, aponta estudo

Levantamento do Observatório do Clima mostra que a produção de metano entre 2020 e 2023 atingiu 21,1 milhões de toneladas, o segundo maior nível já registrado; Brasil é o quinto maior emissor do mundo

O Brasil registrou um aumento alarmante de 6% em suas emissões de metano (CH4) entre 2020 e 2023, atingindo 21,1 milhões de toneladas, o segundo maior nível já registrado. A principal causa dessa escalada, segundo o Observatório do Clima, é a agropecuária, responsável por três quartos das emissões, com a fermentação entérica do gado bovino sendo a grande vilã. O chamado “arroto” do boi liberou 14,5 milhões de toneladas de metano em 2023.

Esse volume, levantado pela pesquisa do Observatório “Bases para proposta de 2a NDC para o Brasil (2030-2035) – Adendo: emissões de metano”, equivale a 406 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), superando todas as emissões de gases de efeito estufa da Itália no mesmo ano.

O metano é um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o CO2 em um período de 100 anos, embora sua vida útil na atmosfera seja mais curta. Segundo o levantamento, o Brasil, o quinto maior emissor de CH4 do mundo, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Rússia, não tem cumprido o Compromisso Global do Metano, assinado em 2021 durante a COP26, que previa uma redução de 30% nas emissões globais até 2030 em relação aos níveis de 2020.

Pelo contrário, as emissões de metano no país estão em crescimento desde 2015. O rebanho bovino brasileiro, o segundo maior do mundo, cresceu de 218,2 milhões de cabeças em 2020 para 238,6 milhões em 2023, reforçando a pressão sobre as emissões.

Além da agropecuária, outros setores contribuem para o problema: o setor de resíduos é o segundo maior poluente, com 3,1 milhões de toneladas emitidas em 2023, principalmente de dejetos orgânicos em lixões. Entre as mudanças de uso da terra e florestas, com 1,33 milhão de toneladas, destacam-se as queimadas, que muitas vezes não são totalmente contabilizadas nos inventários oficiais quando ocorrem em vegetação nativa não associada ao desmatamento.

Os setores de energia (0,55 Mt) e processos industriais (0,02 Mt) também contribuem, com a queima precária de lenha em residências e as emissões fugitivas da cadeia de petróleo e gás. O Observatório do Clima ressalta a urgência de uma resposta coordenada para mitigar o metano, o que pode oferecer resultados mais rápidos no controle do aumento da temperatura global.

Dentre as soluções propostas estão a melhoria da dieta animal, a redução do tempo de abate e o investimento em genética bovina. Para o setor de resíduos, o fechamento de lixões, a ampliação da reciclagem e o melhor aproveitamento do biogás de aterros sanitários são cruciais.

No setor de energia e industrial, o acesso a fogões eficientes e a gestão rigorosa das emissões de combustíveis fósseis são medidas importantes. David Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, enfatiza que o Brasil precisa focar em regeneração florestal, recuperação do solo, energias renováveis e, simultaneamente, lidar com a magnitude da atividade pecuária, a precariedade da gestão de resíduos e a pobreza energética.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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