
A influência da pecuária nas mudanças climáticas foi o tema do CB.Agro — parceria do Correio com a TV Brasília. Aos jornalistas Roberto Fonseca e Sibele Negromonte, o pesquisador da Embrapa Marcelo Ayres comentou sobre tecnologias usadas para a recuperação de áreas degradadas para reduzir o intervalo entre o nascimento e o abate do gado e, assim, diminuir o impacto no efeito estufa.
O Brasil tem condições de cumprir a meta de recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas?
O grande diferencial da pecuária brasileira é que ela é feita a pasto, o chamado "boi verde", com apenas 15% do gado abatido vindo de confinamento. O Brasil já tem parcerias, como a com a Marfrig, para o selo carne carbono neutro. O país está bem servido de tecnologias e práticas para atingir as metas de recuperação. O esforço começou em 2010 com o programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), que superou suas metas iniciais. Atualmente, o governo está discutindo a implementação do Programa Nacional de Conversão e Recuperação de Pastagens Degradadas, que busca estabelecer linhas de crédito com subsídios para produtores.
Qual a situação das pastagens no Distrito Federal e na RIDE?
No Distrito Federal, 19% da área total, cerca de 110 mil hectares, são de pastagens. Desse total, aproximadamente 57% estão em algum estado de degradação e precisam de intervenção para recuperar a capacidade produtiva. Já na Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno (RIDE), a área de pastagem é de 1,5 milhão de hectares, com cerca de 40% em degradação. Os estados de Goiás e Minas Gerais estão entre os nove priorizados pelo programa nacional.
Qual o efeito climático da recuperação de pastagens?
A recuperação de pastagens aumenta a oferta de forragem, o que permite que os animais atinjam o peso de abate mais rapidamente, reduzindo o tempo de permanência no campo e, consequentemente, a emissão de gases de efeito estufa. A pecuária é responsável por cerca de 40% das emissões nacionais, com a maioria vindo da criação de bovinos. Atualmente, a maior parte do gado brasileiro é abatida com menos de 30 meses.
Como a recuperação de pastagens afeta a economia do produtor?
A recuperação de uma pastagem degradada custa entre R$ 7 mil e R$ 8 mil por hectare, mas pode triplicar a produtividade, elevando-a de 25-30 arrobas por hectare por ano para 110-120 arrobas. Além disso, a pecuária mais eficiente libera áreas que podem ser convertidas para a agricultura, aumentando a produção de grãos e a balança comercial do Brasil, sem a necessidade de desmatamento.
Existem tecnologias específicas para cada bioma?
Existem peculiaridades regionais, como a diferença entre as práticas no Cerrado e no Bioma Pampa no sul do país. No entanto, a região central do Brasil (Centro-Oeste, parte do Sudeste e do Norte) tem características e práticas muito semelhantes.
Por que alguns produtores rurais ainda resistem a novas tecnologias de forragem?
O pecuarista, em geral, é mais tradicional que o agricultor, querendo "ver para crer". Eles tendem a se apegar a cultivares mais antigas, algumas usadas por gerações. Além disso, a falta de informação de forma "mais palatável" e a dificuldade de mensurar o ganho financeiro na pecuária em comparação à agricultura também contribuem para essa resistência.
A Embrapa tem desenvolvido novas cultivares de forrageiras?
Sim. A Embrapa tem programas de melhoramento e desenvolvimento de cultivares das principais forrageiras tropicais. A primeira cultivar, lançada nos anos 1980, foi a braquiária marandu, que chegou a ocupar 50 milhões de hectares no Brasil. Desde então, novas cultivares mais modernas foram lançadas, como a BRS Piatã, BRS Paiaguaz e BRS Piporã, que é resistente à praga da cigarrinha das pastagens. As novas cultivares podem ser mais produtivas, ter melhor qualidade ou responder melhor à adubação.
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