AMEAÇA CLIMÁTICA

80% dos brasileiros se preocupam com efeitos da crise climática nas crianças, diz estudo

Pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal revela que população brasileira reconhece a vulnerabilidade de bebês e crianças de até 6 anos diante da emergência climática

Pesquisa revela que a sociedade reconhece a primeira infância como um dos grupos mais vulneráveis à crise ambiental -  (crédito: Pexels)
Pesquisa revela que a sociedade reconhece a primeira infância como um dos grupos mais vulneráveis à crise ambiental - (crédito: Pexels)

No ano em que o Brasil sedia a 30º Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), mais de 80% dos brasileiros estão preocupadas ou muito preocupados com os efeitos da crise climática sobre bebês e crianças de 0 a 6 anos. O dado é do estudo Panorama da Primeira Infância: o impacto da crise climática, realizado pelo Datafolha a pedido da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV).

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A pesquisa revela que a sociedade reconhece a primeira infância como um dos grupos mais vulneráveis à crise ambiental, especialmente no que diz respeito à saúde, segurança e acesso a recursos básicos como água e alimentação. Segundo os resultados, 7 a cada 10 brasileiros (71%) acreditam que as mudanças climáticas afetarão diretamente a saúde das crianças, com destaque para o aumento das doenças respiratórias. 

Outros 39% apontam o risco crescente de desastres naturais, como enchentes, secas e queimadas, enquanto 32% mencionam a dificuldade de acesso a água limpa e comida.

“Ver que a população reconhece o risco que as crianças enfrentam já é uma vitória, isso significa que entendemos quem está na linha de frente da crise e que há urgência em agir. As crianças na primeira infância são as menos culpadas pela emergência climática e, ainda assim, o público mais afetado. Essa injustiça exige que cada medida tomada considere a vulnerabilidade de quem depende da proteção dos adultos”, afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

De acordo com o Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), crianças nascidas hoje enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor do que seus avós. Já dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostram que doenças ligadas à poluição do ar causam cerca de 465 mortes diárias entre crianças menores de 5 anos.

Grupo de risco

A vulnerabilidade infantil tem explicação biológica. Na primeira infância, os pulmões ainda estão em formação, o sistema imunológico é imaturo e as células respiratórias têm maior permeabilidade, tornando os pequenos mais suscetíveis a doenças e aos efeitos da poluição e do calor. Além disso, por inalarem proporcionalmente 50% mais ar do que adultos e estarem mais próximos do solo, onde se concentram os poluentes, as crianças são mais expostas a gases tóxicos e partículas nocivas.

Desastres climáticos, como os que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, também impactam diretamente a infância. Segundo estudos internacionais, emergências dessa natureza aumentam em 34% os casos de doenças diarreicas entre crianças e tornam o risco de desnutrição 2,5 vezes maior, em razão da interrupção do acesso à alimentação e serviços de saúde.

“As altas temperaturas afetam o sono, o aprendizado e o bem-estar das crianças. Entre os principais riscos estão o aumento das doenças respiratórias e infecciosas, a desnutrição e os impactos emocionais e sociais causados por desastres ambientais e deslocamentos forçados”, explica Paula Perim, diretora de Sensibilização da Sociedade na Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Apesar do alto índice de preocupação, apenas 6% dos brasileiros acreditam que a sociedade encontrará soluções eficazes para mitigar os danos da crise climática, e 15% enxergam um possível lado positivo: a criação de maior consciência ambiental entre as novas gerações.

Para a fundação, é fundamental que a consciência popular se transforme em políticas públicas concretas. “Precisamos transformar essa percepção em ação, fortalecendo políticas públicas, investimentos e iniciativas que protejam as crianças e assegurem condições dignas de desenvolvimento em um planeta em transformação”, afirma Paula Perim.

Medidas emergenciais

O relatório A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática, produzido pelo NCPI, destaca um conjunto de medidas urgentes para proteger as crianças e reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Entre as principais recomendações estão:

  • Fortalecer a atenção primária à saúde;
  • Modernizar o saneamento básico e ampliar o acesso à água potável;
  • Promover a agroecologia e apoiar a agricultura familiar vinculada a programas de transferência de renda;
  • Criar espaços seguros para acolhimento infantil em situações de emergência e deslocamento;
  • Reforçar o cuidado com a saúde mental infantil;
  • Garantir reassentamento digno para famílias afetadas por desastres;
  • Instalar zonas climatizadas em creches e escolas, já que bairros densos podem registrar temperaturas até 5°C mais altas e muitas instituições carecem de áreas verdes;
  • Capacitar educadores para lidar com os efeitos da crise ambiental;
  • E promover a escuta e participação das crianças nas ações de prevenção e adaptação.

“A proteção à criança, desde a primeira infância, precisa entrar na agenda climática. Já não podemos mais falar desses assuntos de forma separada. É urgente que as políticas públicas sejam construídas levando em consideração todos os impactos aos quais esse grupo está exposto. É responsabilidade de todos garantir que bebês e crianças pequenas tenham prioridade absoluta, seja em saúde, educação e proteção, diante da crise que já atinge suas vidas”, acrescenta Mariana.

O estudo foi conduzido pelo Datafolha entre 8 e 10 de abril de 2025, por meio de entrevistas presenciais com 2.206 pessoas em pontos de grande fluxo populacional em todo o país. Desse total, 822 entrevistados eram responsáveis diretos por crianças de até 6 anos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e de 3 pontos percentuais para o grupo de responsáveis.

A pesquisa faz parte de uma série de estudos sobre a primeira infância promovidos pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. A primeira etapa, divulgada em agosto, abordou a percepção da sociedade sobre o uso de telas e práticas disciplinares durante os primeiros anos de vida.

 

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postado em 10/10/2025 22:01 / atualizado em 10/10/2025 22:04
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