
Um incêndio atingiu, nesta quinta-feira (20) o pavilhão da Zona Azul, onde ministros e autoridades se encontram para tratar das principais negociações da 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece em Belém (PA). Vinte e uma pessoas receberam atendimento, mas ninguém ficou ferido gravemente. O evento termina hoje. Na semana passada, a ONU já havia alertado e solicitado à organização brasileira mais segurança e reparos urgentes nas instalações.
O fogo iniciou por volta das 14h, próximo de um dos ambientes de debates, e pôde ser visto por imagens de uma transmissão ao vivo. Segundo o governo e a ONU, o incêndio foi controlado pelas equipes de segurança e pelo Corpo de Bombeiros em aproximadamente seis minutos. O pavilhão foi esvaziado para passar por vistoria técnica para apurar a causa do incidente.
O Centro Integrado de Operações Conjuntas da Saúde (CIOCS), responsável pelo monitoramento e organização da assistência durante a COP30, informou que um total de 21 pessoas receberam atendimento, sendo 19 por inalação de fumaça e duas pessoas por crise de ansiedade após o ocorrido. Eles afirmaram ainda que não houve registro de feridos por queimadura.
Apesar de o incêndio ter sido de pequena proporção, causou medo e correria. Várias pessoas afirmaram que não ouviram qualquer sinal de alerta, que deveria ter sido emitido por sirenes. Outros relatos afirmam que ouviram apenas alguns apitos e que não dava para saber do que se tratava. Ana Cristina Feitosa, uma das participantes do evento, afirmou ao Correio que pensou que eram tiros e saiu correndo. A energia elétrica precisou ser cortada.
John Wurdig, gerente de transição energética do Instituto Arayara, que também participava contou que estava acompanhado de mais cinco pessoas e, por um instante, pensou em um atentado. Ele relatou que saiu reunindo os colegas e buscaram a saída de emergência mais próxima. "A gente estava num ponto muito próximo, eu cheguei a ver as chamas e a fumaça. O cheiro de químico era muito forte, de plástico queimando, e a gente procurou se afastar", contou ele, afirmando que o fogo se propagou rapidamente.
Wurdig ressaltou que algumas pessoas idosas se machucaram, precisando de atendimento, e que uma das dificuldades foi entender o que estava acontecendo, já que a Zona Azul é composta por seguranças e equipes estrangeiras, que só falam inglês. "Foi um susto e ninguém sabia o que estava acontecendo, e os seguranças não falavam português. Só depois de um tempinho que os voluntários brasileiros traduziram e explicaram o que estava se passando", relatou Wurdig, destacando que, após o isolamento do local, as equipes prestaram um bom atendimento, oferecendo água e assistência médica a quem precisava.
Sobre as causas do acidente, ainda não se sabe exatamente qual foi o motivo. Especula-se que um micro-ondas possa ter ocasionado o fogo. Outra hipótese levantada é a de que carregadores e tomadas concentradas em um totem possam ser o motivo. O Corpo de Bombeiros trabalha na investigação. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), chegou a declarar ontem que o incêndio poderia ter sido provocado por uma falha no gerador ou por um curto-circuito em um dos stands.
Carta da ONU
Na semana passada, no segundo dia de evento, outro incidente ocorreu. Cerca de 150 ativistas, formados por profissionais de saúde e grupos indígenas, invadiram a Zona Azul na tentativa de chegar a algumas autoridades que já participavam do evento. Eles chegaram a passar por algumas barreiras de segurança e derrubaram uma porta. Algumas pessoas ficaram feridas. O grupo acabou sendo contido pelos seguranças.
A ação fez com que o secretário-executivo Simon Stiell enviasse uma carta ao governo brasileiro, exigindo mais segurança e pontuando problemas estruturais existentes no evento. O documento, enviado ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, e ao presidente da conferência no Brasil, André Corrêa Lago, apontava que o contingente de segurança estava abaixo do necessário, que as portas de acesso não tinham monitoramento e que as forças federais e estaduais não garantiram resposta rápida.
Sobre os problemas estruturais, a carta apontava falhas na climatização, infiltrações provocadas pelas chuvas, além de citar os riscos que a água da chuva poderia provocar nas instalações elétricas. "Agradeceria se fosse possível elaborar um plano, a ser comunicado às delegações, sobre como as condições nos escritórios das delegações serão melhoradas até o fim do dia. A transparência em nosso processo é de suma importância", afirmou Stiell, que também pediu melhores condições nos escritórios das delegações. A Casa Civil da Presidência da República respondeu afirmando que "todas as solicitações da ONU têm sido atendidas".
Segundo a Casa Civil, foram ampliados os quantitativos de policiais, o espaço interno entre as zonas Azul e Verde, além do reforço do local com a Força Nacional e a Polícia Federal. Segundo o governo, também foram instalados gradis, barreiras metálicas e estruturas de contenção. Sobre o calor excessivo e a falta de climatizadores, foi informado que novos aparelhos foram disponibilizados nas tendas, além da instalação de unidades móveis de climatizadores.
O ministro do Turismo, Celso Sabino, saiu em defesa do estado, afirmando que o incidente poderia "ocorrer em qualquer COP do mundo". O Pará recebeu muitas críticas quando foi anunciado como sede do evento, e as polêmicas aumentaram quando comerciantes passaram a negociar hospedagens com valores considerados acima dos praticados em grandes eventos. "Não é porque a COP era em Belém que aconteceu esse incêndio. Os pavilhões são antichamas, o esquema de contingência funcionou e, felizmente, não temos ninguém ferido", destacou.
Sabino fez questão de ressaltar a conferência e destacar algumas decisões tomadas ao longo do encontro. Ele destacou a participação popular, afirmando que esta foi a COP mais inclusiva já realizada. "Estamos prontos para retomar os trabalhos assim que houver liberação da área. A COP30 segue sendo a mais inclusiva de todos os tempos, e todas as discussões continuam avançando, inclusive sobre o fundo permanente", garantiu o ministro.

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