MUNDO ANIMAL

Criadouro contesta laudo sobre circovírus em 11 ararinhas-azuis na Bahia

Em nota obtida pelo Correio, a instituição rejeita as acusações de negligência e condições inadequadas de manejo, que embasaram a multa de aproximadamente R$ 1,8 milhão aplicada pelo ICMBio

 As aves haviam sido soltas na natureza em 2022 e recapturadas no início de novembro para avaliação sanitária -  (crédito: Reprodução/ICMBio/Camile Lugarini)
As aves haviam sido soltas na natureza em 2022 e recapturadas no início de novembro para avaliação sanitária - (crédito: Reprodução/ICMBio/Camile Lugarini)

O criadouro de ararinhas-azuis localizado em Curaçá (BA), acusado de ser a origem da contaminação de 11 aves resgatadas na natureza, questionou os resultados dos exames que apontaram a presença de circovírus no plantel. Em nota obtida pelo Correio, a instituição rejeita as acusações de negligência e condições inadequadas de manejo, que embasaram a multa de aproximadamente R$ 1,8 milhão aplicada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

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Segundo o criadouro, há divergências significativas entre as metodologias laboratoriais utilizadas na detecção do vírus. Testes realizados com técnicas consideradas convencionais — incluindo análises feitas por um laboratório do governo — teriam identificado apenas três aves positivas. O resultado contradiz os exames que apontou a infecção nas 11 aves.

Diante da discrepância, o estabelecimento afirma ter pedido acesso integral ao processo e a realização de uma reunião técnica com os laboratórios responsáveis e autoridades ambientais para reavaliar os diagnósticos. A instituição também declara não ter recebido o laudo técnico completo que fundamenta a penalidade.

"A empresa reafirma que responsabilizar o estabelecimento sem análise técnica aprofundada, ignora a complexidade do caso e desestimula iniciativas que contribuam para a proteção da ararinha-azul", diz a nota.

No comunicado, o criadouro ainda enfatiza que estabelecimento, "a equipe de trabalho é formada por profissionais brasileiros e estrangeiros de alto nível ... que trabalham há mais de 15 anos para a conservação dessa espécie, 24 horas por dia, sete dias por semana, durante todo o ano, em um espaço de mais de 2,6 mil metros quadrados".

O ICMBio confirmou, na sexta-feira (26/11), que as 11 aves foram diagnosticadas com o vírus. Elas haviam sido soltas na natureza em 2022 e recapturadas no início de novembro para avaliação sanitária. A primeira detecção de circovírus foi registrada em maio, levando o órgão a ativar um Sistema de Comando de Incidente para coordenar ações emergenciais. Como medida imediata, as ararinhas infectadas foram isoladas das demais, e novos protocolos de biossegurança foram adotados.

A multa aplicada ao criadouro e ao seu diretor resultou de vistorias conduzidas pelo ICMBio em conjunto com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e a Polícia Federal, que apontaram falhas no cumprimento das normas de biossegurança.

Veja a nota na integra: 

"Criadouro acusado de contaminação de 11 ararinhas-azuis afirma manter 98 aves saudáveis na Caatinga e questiona o resultado dos exames sobre circovírus

Empresa nega as acusações do ICMBio e destaca que o trabalho dos profissionais de alto nível, com aves
raras, é desenvolvido em instalações e com equipamentos que estão em conformidade com normas sanitárias

O Criadouro Ararinha-azul, localizado em Curaçá (BA), rejeita com “veemência” as acusações de negligência, desleixo e condições insalubres nas instalações, onde mantém 103 ararinhas-azuis, sendo 98 negativas para o circovírus. A instituição afirma seguir protocolos rígidos de biossegurança e bem-estar animal e conta com instalações e equipamentos adequados ao manejo das aves.

A instituição privada, sem fins lucrativos, não utiliza recursos públicos e é mantida principalmente com capital estrangeiro. A equipe de trabalho é formada por profissionais brasileiros e estrangeiros de alto nível, como médicos-veterinários, tratadores aviculturistas e consultores especialistas em manejo e reprodução de ararinhas-azuis, que trabalham há mais de 15 anos para a conservação dessa espécie, 24 horas por dia, 7 dias por semana, durante todo o ano, em um espaço de mais de 2,6 mil metros quadrados.

A direção do criadouro explica que as aves recebem alimentação balanceada, vivenciam um conjunto de práticas que melhoram o bem-estar físico e psicológico dos animais em cativeiro, têm assistência veterinária permanente e o manejo é feito em ambiente limpo e seguro. O sucesso reprodutivo da espécie, com o nascimento de filhotes em cativeiro, é apontado como um dos indicadores da qualidade da empresa no cuidado oferecido às ararinhas.

A instituição contesta ainda a informação de que “as últimas ararinhas-azuis na natureza” estariam sob risco iminente em razão do circovírus. Até 2019, não havia nenhuma ararinha na Caatinga. Com a construção do criadouro, 101 aves foram trazidas para o bioma. Hoje, segundo o criadouro, há 103 ararinhas-azuis sob seus cuidados, sendo 98 com exames negativos para o vírus e 5 com detecção de circovírus em ao menos um exame.

Quanto às 11 aves de vida livre capturadas, os exames mais recentes identificaram vírus detectado em 5 aves no total (3 do plantel e 2 das recapturadas), com divergência entre metodologias laboratoriais. Testes realizados com técnicas convencionais, inclusive pelo laboratório do governo, apontam para 3 aves positivas, em contradição a outro teste que detecta o vírus para as 11 araras. Essas aves estão isoladas, e estão sem contato com outras araras, com separação de utensílios e profissionais. O criadouro mantém ainda duas maracanãs, ambas com exames negativos.

Em vez de atuar em cooperação para enfrentar um problema sanitário que existe no Brasil há mais de 30 anos, o Estado prefere transferir a culpa e buscar punições contra uma entidade privada que investe recursos próprios na conservação de uma espécie ameaçada. Até o momento, o criadouro não teve acesso ao laudo técnico completo que Criadouro Ararinha-azul fundamenta a multa de R$1,8 milhão aplicada pelo ICMBio. Diante desse cenário de acusações consideradas infundadas e sem a apresentação dos laudos, a direção do criadouro informa que pediu acesso ao processo e uma reunião técnica com laboratórios e autoridades para reavaliar os exames. A empresa reafirma que responsabilizar oestabelecimento sem análise técnica aprofundada, ignora a complexidade do caso e desestimula iniciativas que contribuam para a proteção da ararinha-azul.

A instituição lembra ainda que a primeira ave detectada com circovírus estava solta na natureza, destaca que o vírus, no Brasil, foi registrado há cerca de 30 anos em feiras, centros de reabilitação de fauna e em comércio de animais.

Histórico

A excelência do trabalho desenvolvido pelo Criadouro Ararinha-azul pode ser constatada nas ações, em parcerias com órgãos ambientais. Em 2022, junto com o próprio ICMBio, a empresa participou da reintrodução da espécie na Caatinga.

Foram liberadas 20 aves, após certificação sanitária pelos órgãos competentes. Passados cerca de três anos, a taxa de sobrevivência foi estimada em 45% e foram registrados sete filhotes nascidos em ambiente natural — o primeiro registro de reprodução em vida livre da espécie em mais de 37 anos.

Em 2025, 20 ararinhas estavam sendo preparadas para soltura antes da detecção do vírus, o que levou à suspensão preventiva da operação. Neste mesmo ano, foram importadas 41 ararinhas da Alemanha, que permanecem em Curaçá e ainda não foram soltas na natureza. A detecção do vírus foi feita quando parte desses animais estava sendo testada, antes de serem liberados no ambiente. A operação foi aprovada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), IBAMA, Receita Federal, Polícia Federal e ICMBio, que acompanharam a chegada das aves em Petrolina (PE), a quarentena e a movimentação dos animais.

Diante de toda uma história de dedicação, esforço e trabalho incansável pela manutenção e crescimento da
população de ararinhas-azuis, o criadouro reafirma o seu compromisso com a transparência, a ciência e o bem-estar das aves, defendendo que todas as decisões sobre o caso sejam técnicas, proporcionais e orientadas à proteção da espécie e da população de ararinhas na Caatinga.

Entenda o caso

A ararinha-azul, espécie considerada extinta na natureza por décadas, vem sendo reintroduzida na Caatinga em Curaçá (BA), por meio de um programa que envolve criadouros, órgãos ambientais e organizações parceiras. Em 2022, aves repatriadas foram soltas em vida livre na região e, desde então, o projeto se tornou referência em conservação da espécie.

Em 2025, exames identificaram circovírus em ararinhas-azuis do programa, levando o ICMBio e o órgão ambiental da Bahia a abrirem investigação sobre possíveis falhas em protocolos de biossegurança no criadouro responsável pelas aves.

A partir daí, foram aplicadas multas, emitidas notas oficiais sobre a origem do vírus, as responsabilidades e o impacto da doença na sobrevivência da espécie na natureza."

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postado em 30/11/2025 19:13
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