entrevista

"Vacina contra dengue marca uma nova etapa", diz presidente da Anvisa

Leandro Safatle afirma que imunizante em dose única do Butantan, recém-aprovado, dará uma resposta muito mais eficiente em áreas endêmicas no Brasil. Ele também comenta sobre canetas de emagrecimento e suplementos

O presidente da Anvisa, Leandro Pinheiro Safatle -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
O presidente da Anvisa, Leandro Pinheiro Safatle - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A aprovação da vacina de dose única contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan marca um avanço histórico na saúde pública brasileira. Em entrevista ao CB.Saúde, parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, concedida às jornalistas Carmen Souza e Mariana Niederauer, o presidente da Anvisa, Leandro Pinheiro Safatle, detalhou a relevância do registro, os próximos passos da imunização, os desafios regulatórios da agência e as mudanças estruturais para acelerar a entrada de novas tecnologias no país.

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Por que o registro dessa vacina representa um marco para o país?

Porque sintetiza o propósito central da agência: garantir segurança e eficácia de produtos essenciais para a população. Trata-se de um imunizante concebido, pesquisado e produzido no Brasil, voltado para uma endemia que atinge o país há décadas. O fato de ser nacional e atacar os quatro sorotipos amplia o impacto sanitário.

O que muda com a dose única?

A possibilidade de resposta rápida em regiões com surtos. Vacinas que exigem duas aplicações dependem de intervalo de meses para alcançar efeito pleno. A nova formulação permite ação imediata e amplia a adesão, especialmente em operações de bloqueio.

Como a agência garante segurança em meio à disseminação de desinformação?

Com avaliações extensas e padronizadas internacionalmente. Cada imunizante passa por fases clínicas com grandes grupos de voluntários. As equipes técnicas, integradas a fóruns regulatórios globais, analisam evidências e só autorizam produtos que comprovem qualidade, eficácia e segurança.

Após o registro, a Anvisa ainda acompanha a vacina?

Sim. A farmacovigilância continua monitorando eventos adversos e recebendo notificações em tempo real. O acompanhamento pós-registro é permanente.

A tecnologia brasileira pode ser exportada?

Sim. Há demanda internacional crescente, ampliada pela expansão do mosquito em áreas antes não afetadas. Países enfrentam cenários semelhantes e buscam soluções rápidas.

Quando as doses chegarão aos postos?

O Butantan já possui pouco mais de 1 milhão de unidades prontas. O Programa Nacional de Imunizações discutirá, em conjunto com estados e municípios, o público prioritário. A limitação inicial é a capacidade produtiva, que deve aumentar com a parceria em desenvolvimento com uma empresa chinesa, responsável por ampliar a escala industrial.

A pandemia alterou a percepção pública sobre a agência?

Sim. O período expôs a relevância de estrutura técnica independente. A aprovação das vacinas contra a covid evitou cerca de 200 mil mortes, segundo estudo da Fiocruz. Além disso, a agência viabilizou acesso a medicamentos para sedação, equipamentos e dispositivos essenciais. O episódio reforçou a importância de autonomia e capacidade produtiva nacional.

O país depende de tecnologia local para enfrentar crises sanitárias?

Sim. A pandemia evidenciou o risco de depender de exportações suspensas durante emergências. A articulação de Fiocruz e Butantan permitiu produção interna de vacinas e abastecimento contínuo.

Além de imunizantes, a agência gerencia uma ampla lista de produtos. Como priorizar demandas?

Com reorganização de fluxos, metas específicas e revisão de processos. A Anvisa regula segmentos que representam 23% do PIB, incluindo medicamentos, dispositivos médicos, alimentos, cosméticos, saneantes, agrotóxicos e tabaco. O foco atual é reduzir prazos de análise e eliminar passivos acumulados.

Quais metas estão em andamento?

Reduzir pela metade as filas de medicamentos e dispositivos médicos em seis meses e normalizar todo o passivo em um ano. Os ajustes envolvem gestão de pessoal, integração de sistemas e incorporação de ferramentas de inteligência artificial.

O quadro de servidores comporta essa demanda?

É altamente qualificado, mas pequeno diante da complexidade crescente. Cem novos servidores estão em formação e chegam no início do próximo ano, no maior reforço desde 2014. Tramita no Congresso a criação de mais 256 vagas.

O uso de inteligência artificial altera a rotina?

Apoia o trabalho técnico sem substituí-lo. A IA agiliza etapas e aumenta produtividade. Projetos desenvolvidos pelos próprios servidores receberão investimentos de R$ 25 milhões em parceria com o Ministério da Saúde.

Como está a análise das canetas para emagrecimento?

A demanda é elevada. Três fabricantes detêm patentes que expiram em breve. A agência acelerou pedidos de empresas que buscam registrar produtos similares para ampliar a concorrência e reduzir preços.

Suplementos também passaram por revisões recentes. Qual o objetivo?

Fortalecer a fiscalização. Com a centralização dos registros, a agência passou a inspecionar e avaliar todos os produtos. Alguns foram suspensos por descumprimento de normas. O aprimoramento regulatório dá ao consumidor maior segurança sobre o que compra.

A autorização para o cultivo de cannabis para pesquisa altera o cenário científico?

Sim. A medida apoia estudos nacionais e segue parâmetros baseados em evidências. A agência modernizou regras para registro de pesquisas e ampliou mecanismos de reconhecimento internacional, sempre ancorada em dados científicos.

O novo comitê de inovação terá qual papel?

Acelerar o avanço de pesquisas nacionais. Projetos como a vacina de chikungunya, o Wolbachia e a polilaminina entraram no radar. O objetivo é encurtar caminhos e garantir que descobertas nacionais cheguem de forma estruturada à população.

*Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

 

 

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postado em 12/12/2025 03:55
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