BIG BROTHER ILEGAL

Rede de monitoramento ilegal de veículos é desarticulada pela PCDF; entenda

Câmeras instaladas pelo DF mapeavam e tiravam fotos dos trajetos da rotina das pessoas por meio da leitura de placas de veículos. Os dados eram vendidos em um site

Os proprietários das câmeras sequer residem ou possuem pessoa jurídica estabelecida no DF e sua atividade era exercida sem o conhecimento de nenhum órgão público. -  (crédito: Reprodução/PCDF)
Os proprietários das câmeras sequer residem ou possuem pessoa jurídica estabelecida no DF e sua atividade era exercida sem o conhecimento de nenhum órgão público. - (crédito: Reprodução/PCDF)
postado em 31/01/2024 08:34 / atualizado em 31/01/2024 10:22

Policiais da 9ª Delegacia de Polícia cumprem, na manhã desta quarta-feira (31/1), 10 mandados de busca e apreensão em diversas regiões do Distrito Federal com o fim de desarticular uma rede privada de câmeras que monitorava ilegalmente os fluxos de veículos com a captura das placas — violando, portanto, a intimidade e privacidade da população sem seu conhecimento ou consentimento. A operação chama-se Olho de Horus.

A operação apreendeu todas as câmeras instaladas pelo esquema para vigiar os veículos. Segundo o delegado Erick Sallum, com a apreensão dos aparelhos, a Polícia Civil do DF (PCDF) encerra o Big Brother rodoviário ilegalmente implantado na capital federal e restabelece o direito ao anonimato da população.

As câmeras mapeavam e retiravam fotos dos trajetos da rotina das pessoas, pois possuíam capacidade de leitores de caracteres (LPR) e programação de inteligência artificial, permitindo o reconhecimento de placas veiculares

As imagens obtidas com esse monitoramento eram posteriormente anunciadas em um site e um perfil de Instagram por R$ 150 a consulta. Os anúncios dizem que o serviço seria para colaborar na recuperação de veículos subtraídos, mas o constatado foi diferente.

Durante a apuração, investigadores da 9ª DP efetivaram a compra de um desses acessos e realmente conseguiram verificar a rotina de passagens do carro de um dos delegados da unidade. A equipe efetivou um cadastro em nome de Papai Noel e depois do pagamento via PIX, recebeu por e-mail um relatório contendo as imagens de oito passagens do carro em vias do DF.

  • Câmera de monitoramento ilegal
    Câmera de monitoramento ilegal Reprodução/PCDF
  • Câmeras de monitoramento ilegal recolhidas
    Câmeras de monitoramento ilegal recolhidas Reprodução/PCDF
  • Propaganda da rede privada que monitorava veículos
    Propaganda da rede privada que monitorava veículos Reprodução/PCDF

A facilidade e absoluto descontrole na venda dessas informações nesses sites permitem que qualquer um, inclusive os mal-intencionados possam acessar esses dados e pesquisar as placas e trajetos dos veículos de qualquer pessoa.

Pelo levantado pela PCDF, os proprietários das câmeras sequer residem ou possuem pessoa jurídica estabelecida no DF e sua atividade era exercida sem o conhecimento de nenhum órgão público. Conforme demonstrado pela investigação, essa atividade viola a lei n. 3.914/2006 DF e compromete a vida privada das pessoas que passam a ter suas rotinas monitoradas sem seu consentimento e vendidas a qualquer um que pague pelo relatório.

Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), publicada em 2018, tem como fundamentos o respeito à privacidade e a inviolabilidade da intimidade. Esse tipo de monitoramento indiscriminado por empresas privadas sem supervisão do Poder Público é ilegal, pois podem ser deturpadas e instrumentalizadas para outras finalidades.

A implantação dessas câmeras de forma descontrolada, além de gerar insegurança às autoridades públicas que podem ter suas rotinas devassadas, representam também uma violação da autodeterminação informativa, pois a população sequer sabe da existência delas.

“Importante destacar que a Polícia Judiciária entende que sistemas de videomonitoramento são importantes ferramentas coadjuvantes na segurança pública. Contudo, desde que autorizadas e supervisionadas pelo Poder Público conforme preconizado por lei. A vida privada das pessoas não pode ser mercantilizada sem justa-causa na internet sem a ciência ou consentimento da população”, destacou o delegado.

Os investigados responderão por exercício ilegal de atividade, divulgação de segredo e falsidade ideológica. Durante a investigação, constatou-se que pelo menos 2.000 pesquisas de carros no DF foram efetivadas. Agora iremos avançar na investigação para saber quais foram os carros pesquisados, quem comprou essas informações, bem como a razão dessas pesquisas.

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