Jardins

A origem das flores que enfeitam espaços públicos no DF

Toda a arborização de áreas públicas de Brasília é mantida pela Novacap, em viveiros com espécies do Cerrado

No período chuvoso, são plantadas sálvias, cravos, camomila e espécies rasteiras -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
No período chuvoso, são plantadas sálvias, cravos, camomila e espécies rasteiras - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
postado em 27/02/2024 06:00

Canteiros floridos e arborização abundante são características marcantes de Brasília. Espécies arbóreas, arbustivas, herbáceas e decorativas tornam a relação com os espaços públicos na cidade muito mais agradável, trazendo imagens de beleza para a população, além de proporcionarem uma sensação térmica mais agradável. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) é a responsável pela manutenção e plantio de jardins nas áreas públicas da cidade.

O Correio visitou um dos dois locais da empresa para a produção das mudas que futuramente enfeitarão áreas públicas do Distrito Federal. A reportagem foi ao lugar de onde elas saem, o Viveiro 1, construído em 1962. Já as mudas arbóreas, entre elas as nativas do Cerrado, como ipê, pequi, fisocalima, jacarandá-mimoso e tarumã, inaugurado 10 anos depois, são criadas no Viveiro 2.

As flores da Novacap são levadas para as rotatórias — os chamandos balões — e também a canteiros e jardins públicos Aquelas que não necessitam de muita luz — as umbrófilas, como espada-de-são-jorge, jiboia, lírio-da-paz, entre outras— seguem para vasos e jardins internos estatais. "Fazemos a manutenção de jardins internos de órgãos públicos do Governo do DF e federais. Acabamos de fazer um jardim no Supremo Tribunal Federal. Também fazemos manutenção em residências oficiais", conta a chefe da Divisão de Agronomia do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Janaína Gonzales.

Ela comenta que uma muda de árvore leva de quatro a cinco anos para estar pronta e ser destinada a plantio. Já as flores têm um ciclo bem menor, de 40 a 60 dias. "As flores têm uma rotatividade maior do que as árvores. Elas ficam em um canteiro por um período de quatro a seis meses. No viveiro, trabalhamos com 40 espécies. Como estamos no período chuvoso, plantamos sálvias, cravos, camomila, herbáceas e rasteiras", diz Janaína.

A chefe da divisão conta que a área de umbrófilas da Novacap, tem cultivos de singonhos, imbés e marantas. Na das flores, há cerca de 600 mil mudas. Entre elas, sálvias-vermelhas, cravos, torênias e petúnias, com florações adaptadas ao período da seca. No setor dedicado às palmeiras, crescem jerivá, guariroba e buriti — próprias do Cerrado e que um dia embelezarão algum canteiro ou jardim público.

A especialista diz que semanalmente são plantadas 100 mil mudas de flores, a mão, um processo que envolve 57 empregados e 100 reeducandas do sistema prisional. Leide Daiana é uma delas.

"Eu fiquei presa durante cinco anos e pedi a Deus um lugar onde gostasse de trabalhar. Gosto muito daqui. A gente se apega às plantas. Aqui, eu me sinto bem e completa", declara Leide. "Mesmo tirando a tornozeleira, vou querer continuar aqui. Nunca pensei que trabalharia com plantas. Minha mãe sempre teve muitas plantas, mas nunca me interessei ", conta ela.

O Viveiro da Novacap é destaque nacional pela qualidade dos resultados que obtém. Prova disso é que, recentemente, recebeu visitas de enviados das prefeituras do Recife e Macapá. Órgãos públicos de qualquer estado podem fazer agendamentos, via Sistema Eletrônico de Informações (SEI), para conhecer os plantios da companhia. Escolas e outras organizações têm a Ouvidoria do Governo do Distrito Federal (GDF) para essa solicitação.

Arborização

No último sábado, foi lançado o Plano Anual de Arborização do DF, com o plantio de mudas em canteiros da nova quadra do Guará. O objetivo é que, ao longo do ano, 100 mil dessas futuras árvores sejam espalhadas pela capital federal. "O plantio vai ocorrer principalmente nas regiões administrativas, onde há uma defasagem de espaços arborizados", informa Janaína.

Esse processo ocorrerá durante períodos chuvosos, por isso, deverá ser concluído até meados de março e retomado em outubro. "As sementes são todas coletadas pela equipe responsável. 60% são do bioma Cerrado e, os outros 40%, mudas adaptadas, como sapucaia e oiti, as duas da Mata Atlântica", completa a chefe.

O Correio apurou que outra equipe, a da Divisão de Implantação de Áreas Verdes (Diave), aceita solicitações das administrações regionais para atender a lugares que precisam de árvores. A própria população pode fazer esse pedido, desde que seja para ambientes públicos, contatando a ouvidoria do GDF ou o telefone 162.

Problemas

Janaína adverte que os cidadãos estão impedidos de plantar em áreas públicas sem autorização da Novacap. "Quando o técnico vai ao local, ele faz um levantamento analisando a árvore, o porte, desenvolvimento das raízes, se vai prejudicar calçadas, se vai atingir a rede de energia ou se há projeto para implementar uma rede no local", detalha. Após o plantio, fica mais difícil retirar a árvore. "Por isso, se quer plantar, solicite à administração regional ou à ouvidoria do GDF. A Novacap fará uma vistoria", orienta.

Outro problema apontado por ela é o furto de mudas em áreas públicas do DF. "A gente orienta a população que não o faça. Existe toda uma pesquisa e um trabalho, às vezes de anos, para produzir aquela muda. É um bem público de toda a população. Não para alguém se apropriar. Isso prejudica o nosso trabalho", lamenta.

Segundo Janaína, Brasília é uma das poucas capitais onde esse inconveniente é constante. Em Curitiba, de acordo com ela, lugares públicos são adornados com plantas mais caras e exóticas que os moradores respeitam e não tocam.

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