CB.DEBATE

Dengue: projeção indica que o DF deve registrar 400 mil casos em 2024

No primeiro painel do evento Dengue — uma luta de todos, os debatedores discutiram a busca de soluções para a epidemia, a eficácia das medidas de prevenção, o uso dos dados disponíveis para planejar ações e problemas de saúde que podem surgir em pacientes com a doença

Com mediação dos jornalistas Adriana Bernardes e Carlos Alexandre de Souza, os participantes foram o professor e pesquisador da UnB Breno Adaid; o coordenador científico da Sociedade de Infectologia do DF,  Alexandre Cunha; e a coordenadora do Serviço de Neurologia do Hospital Sírio-Libanês, Luciana Barbosa -  (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Com mediação dos jornalistas Adriana Bernardes e Carlos Alexandre de Souza, os participantes foram o professor e pesquisador da UnB Breno Adaid; o coordenador científico da Sociedade de Infectologia do DF, Alexandre Cunha; e a coordenadora do Serviço de Neurologia do Hospital Sírio-Libanês, Luciana Barbosa - (crédito: Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Alternativas para o controle do Aedes aegypti, o comprometimento neurológico que pode acometer pacientes com quadros mais graves da doença e as projeções de incidência para este ano, que são preocupantes, foram os principais tópicos abordados no primeiro painel do CB.Debate Dengue — uma luta de todos, realizado nessa quinta-feira (29/2), no auditório do jornal.

Com mediação dos jornalistas Adriana Bernardes e Carlos Alexandre de Souza, os participantes foram o professor e pesquisador em ciências do comportamento da Universidade de Brasília (UnB) Breno Adaid; o coordenador científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre Lima Rodrigues Cunha; e a coordenadora do Serviço de Neurologia do Hospital Sírio-Libanês, Luciana Mendonça Barbosa. 

Todos os debatedores enalteceram a iniciativa do Correio, como forma de buscar soluções, mobilizar o poder público e a sociedade. "Achei fantástico. Vi vários outros pontos de vista. Todo mundo está realmente preocupado. Ninguém veio passar pano quente", comentou Breno, entusiasmado com o evento dessa quinta-feira (29/2). 

Alexandre destacou que esse tipo de evento é de grande relevância para a conscientização das pessoas. "Para o controle da dengue, é preciso envolvimento de toda a comunidade e a população precisa estar bem informada, desde a proteção até o tratamento", afirmou.

"É importante tanto no aspecto preventivo, relacionado ao comportamento da sociedade, quanto no aspecto de chamar atenção para a destinação de recursos à saúde, porque ainda há uma limitação muito grande na assistência", observou Luciana.

Prognóstico preocupa

A discussão foi aberta por Breno Adaid. Observar os padrões de comportamento dos casos de dengue é fundamental para projetar dados e planejar os próximos passos para lidar com a epidemia. Esse é o entendimento do pesquisador, que apresentou dados preocupantes. Ele mostrou gráficos que apontavam, em novembro do ano passado, a previsão de aumento de infecções acima do ocorrido em anos anteriores.

"Pela ótica dos dados, já havia um prelúdio ruim que, sabíamos, poderia piorar, porque, historicamente, piora nesta época. Então, as autoridades tinham elementos para começar ações de combate e de prevenção de forma mais intensa", criticou. Nas duas primeiras semanas de janeiro, por exemplo, houve a primeira aceleração significativa de casos. "Já começamos esse período típico de aumento muito mal", lamentou.

Quanto ao pico, o pesquisador elencou que existem duas fases — aceleração, na qual o DF se encontra, e desaceleração. "Os casos que estão em aceleração entram em um pico quando atingem seu nível mais alto e, assim, estabilizam", informou.

Como investiga o acumulado de casos semanalmente, Breno observa oscilações maiores nos números. Na penúltima semana de fevereiro, houve uma diminuição na quantidade de infecções. No entanto, segundo ele, trata-se de uma subnotificação, tendo em vista que houve redução nas testagens. "Hoje, analisando séries passadas e contando com dados atuais, consigo estimar entre 300 e 400 mil casos para 2024", alertou.

Em resposta a uma dúvida da plateia, Breno explicou que é possível ocorrer a queda de casos antes de se chegar ao pico. "Porém, isso depende de questões climáticas e do papel de prevenção do Estado e da população", ressalvou.

Novas tecnologias

O coordenador científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre Lima Rodrigues Cunha, enfatizou que a prevenção adotada atualmente não é suficiente e não obteve sucesso em nenhum lugar do mundo. "A gente sabe que dengue tem uma participação grande no controle do poder público, com fiscalização, campanhas informativas, e da população, a comunidade tem que estar envolvida para não deixar criadouros, esvaziar água parada, mas é impossível erradicar o mosquito da dengue com essas medidas", afirmou. "Se o poder público e a população fizerem o melhor trabalho do mundo, existem criadouros que são inalcançáveis", advertiu. 

Ele apresentou alternativas de enfrentamento biológico ao Aedes aegypti. Alexandre explicou que existem duas tecnologias que ainda não foram implementadas em nível nacional, mas são perspectivas para o futuro. "Uma delas é a bactéria Wolbachia, que infecta outros insetos e consegue atingir o Aedes macho e, quando ele está infectado, o vírus da dengue não consegue se proliferar dentro dele", detalhou.

Segundo ele, esse mosquito infectado, ao se acasalar com a fêmea, terá descendentes estéreis, que não vão transmitir a doença. "Na Austrália, por exemplo, conseguiram erradicar, onde o projeto foi pioneiro", conta. "E não há nenhum risco biológico. São mais de 10 anos de estudos com o Wolbachia", acrescentou Alexandre.

Outra estratégia é a tecnologia "Aedes do Bem", desenvolvida pelo laboratório Oxitec, na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Nela, os embriões da fêmea não passam do estágio de larva. "O mosquito não consegue evoluir. Isso já foi testado e provado que é eficaz", destacou.

Alexandre finalizou ponderando que um dos embargos para que essas soluções sejam adotadas é o custo elevado, principalmente pelas dimensões continentais do país.

Dano à saúde

A coordenadora do Serviço de Neurologia do Hospital Sírio-Libanês, Luciana Mendonça Barbosa, trouxe para a mesa as possíveis complicações neurológicas causadas, geralmente, pelas formas mais graves da dengue.

"Embora sejam raros, a gente tem visto alguns casos de comprometimento neurológico por conta da doença que, normalmente, são associados à dengue grave. São pacientes em contexto hospitalar e, quando eles não estão, é indicado que sejam internados e monitorizados", ressaltou Luciana. A especialista complementou que o grande aumento de ocorrências de dengue faz com que esses tipos de sintomas apareçam mais.

De acordo com ela, é preciso ter atenção a alguns sinais, como quadros de confusão, sonolência e crises epilépticas. Outro aspecto são sintomas que acontecem na fase de recuperação — cerca de uma ou duas semanas após os primeiros —, como alterações visuais e de sensibilidade, sendo que essa última pode evoluir para fraqueza muscular. Em todas essas situações, o recomendado é procurar ajuda médica.

Luciana também apontou alguns cuidados para que o quadro não evolua para complicações neurológicas. "Ter o diagnóstico e ficar atento aos sinais de alarme. Se começar a não conseguir se hidratar bem em casa, ter náusea, vômitos, diarreia, sintomas de pressão baixa — como se levantar e ter mal-estar —, é importante que essa pessoa seja avaliada. Familiares precisam estar atentos também, porque, às vezes, o próprio paciente não percebe", alerta.

Veja o primeiro painel:

 

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postado em 01/03/2024 06:00
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