Obituário

Morre o jornalista Paulo Pestana, colaborador do Correio Braziliense

Pestana assinava crônicas no Correio Braziliense em dois suplementos. No jornal, ele trabalhou em diversas editorias, de repórter especial a editor executivo

 Jornalista Paulo Pestana -  (crédito:  Luis Nova/Esp.CB)
Jornalista Paulo Pestana - (crédito: Luis Nova/Esp.CB)
postado em 11/03/2024 08:31 / atualizado em 17/03/2024 10:46

Morreu nesta segunda-feira (11/3) Paulo Pestana, jornalista e cronista que escrevia para o Correio Braziliense. Até domingo, assinou crônicas em dois suplementos do jornal. Em Brasília desde 1973, trabalhou em alguns dos mais importantes órgãos da imprensa brasileira, como a Rádio Nacional, a Rede Globo e o jornal O Estado de S. Paulo. Pestana também foi mentor da campanha de Ibaneis Rocha (MDB) ao governo do Distrito Federal, em 2018. 

"Uma perda muito grande. Um excelente articulador, profissional excepcional. Perco um dos meus principais mentores políticos", disse o governador Ibaneis Rocha.

No Correio, onde trabalhou por anos, passou por várias editorias, ora como repórter especial, ora como editor executivo. Em seu blog hospedado no portal do Correio Braziliense, se definia como um insistente torcedor do América, "mostrando que é possível viver sem alegrias", brincou. Ele passou mal ontem à noite e foi levado para um hospital da Asa Norte. Pestana morreu por choque de dengue.

O velório de Paulo Pestana será realizado na terça-feira (12), às 9h, na Capela 1, do Campo da Esperança na Asa Sul. O corpo será cremado em Valparaíso.

Paulo Pestana (E) e o secretário de Comunicação do GDF, Weligton Moraes, ao lado dos jornalistas Carlos Alexandre e Ana Maria Campos, nos estúdios da TV Brasília
Paulo Pestana (E) e o secretário de Comunicação do GDF, Weligton Moraes, ao lado dos jornalistas Carlos Alexandre e Ana Maria Campos, nos estúdios da TV Brasília (foto: Ana Dubeux/CB/D.A.Press)
 

Veja as últimas crônicas publicadas pelo jornalista no Correio: 

A música na revolução - crônica publicada na Revista do Correio no domingo (10/3)

Viver é ter histórias para contar. A vida de Tirso Saenz foi assim, quase uma saga, com muitas dessas histórias, que começa numa família musical, passa pela educação formal nos Estados Unidos, transforma-se ao servir a revolução socialista de Cuba e sossega ao lado da mulher, Maria Carlota, em Brasília.

Sossega, mas não muito. Seu Tirso Saens morreu aos 92 anos quando lançava a segunda edição do livro O ministro Che Guevara — testemunho de um colaborador, no Rio de Janeiro, cheio de memórias. O trabalho diário tinha acabado, mas a defesa intransigente da revolução cubana continuou até o fim.

Morando no Lago Norte nos últimos anos, ele aproveitava a aposentadoria depois de uma vida dedicada ao trabalho pela ideologia que acreditava, contando histórias, principalmente sobre sua relação com Che Guevara. Os detalhes ainda estavam frescos na memória.

Não foi um revolucionário de primeira hora, não desceu a Sierra Maestra para depor Fulgêncio Batista, embora deplorasse o ditador. Mas serviu à revolução com fervor, tanto que o pai — que havia impedido a desejada carreira musical — lamentou-se ao ver o filho sem poder dormir mais que três horas por noite de tanto trabalho.

Mas depois de uma vida inteira dedicada à revolução cubana, Tirso Saenz deixou de lado as crises do petróleo e das matérias-primas minerais e voltou a se dedicar ao que mais gostava: música. Mais precisamente, boleros, paixão juvenil que não abandonou nem depois de ter vivido tantas décadas.

Tudo poderia ser diferente se o pai, músico, não tivesse vendido o piano da casa depois de passar um ano tocando fora do país, longe da família, algo deprimido. Achava que a vida dos filhos seria melhor se fossem doutores. Tirso se formou engenheiro químico, voltou a Cuba comandando uma multinacional, entrou no ministério do governo cubano e fez a revolução.

A música nunca saiu do radar. Nas viagens oficiais, ele sempre achava um jeito de dar uma canja e entreter colegas de delegação, cantando os clássicos da canção cubana, temas que ajudaram a definir a música popular ocidental.

Em Brasília, realizou um sonho: gravou um disco, Recuerdos, com o melhor que os compositores cubanos já fizeram. Contigo em la distancia, de Cesar Portillo; Dos gardenias, de Isolda Carrillo; Quizás, quizás, quizás, de Oswaldo Farrés; de origem puramente cubana, juntam-se à argentina El dia que me quieras, de Gardel e La Pera, num desfile latino apresentado com a voz suave, que coube perfeitamente nos arranjos e produção de Jaime Ernest Dias.

O disco pode ser ouvido em todas as plataformas de streaming, graças ao trabalho de Gustavo Vasconcellos, um baterista de rock que decidiu abrir a gravadora GRV para promover artistas independentes e amantes da música.

As histórias que Tirso Saens colecionava e relatava com inegável prazer a quem se dispusesse a dividir uma dose de rum estão registradas em livros e até em algumas entrevistas. A admiração ao líder Che Guevara permaneceu intacta até o fim, mas Tirso Saenz foi além: nunca teve que endurecer; bastava cantar para mostrar toda sua ternura.

Passará ou passarinho? - crônica publicada no Divirta-se Mais de sexta-feira (8/3)

Bartô sempre gostou de desenhar passarinho. Nunca precisou de fazer curso para retratar todo tipo desses bichinhos tão delicados que não têm nem sinônimos para a denominação geral: é passarinho, e pronto.

Cada um tem seu nome, claro — sabiá, sanhaço, canário; uns mais bravos, outros mais mansos — mas na essência são os mesmos bichos, cobertos por penas coloridas ou não, caso do pássaro-preto, ou graúna, ou assum preto, ou melro, o mesmo animal, dependendo da região em que canta.

Para Bartô, todos merecem ser retratados, o que ele faz com talento e uma técnica autodesenvolvida, selecionando os lápis que usa em cada quadro, devidamente registrados ao lado da assinatura. São obras disputadas pelos amigos, que não imaginam um sujeito tão falador e contador de casos se dedicando a uma atividade tão lúdica e solitária.

Ele já perdeu a conta de quantos passarinhos retratou, usando a prodigiosa memória, observando as saltitantes aves que pousam no quintal de sua casa ou captando detalhes em fotos. Com alguma imaginação é possível ouvir os piados saindo da imagem.

Que ninguém pense que o nosso desenhista é um São Francisco que, conforme as imagens, vivia cercado pelos passarinhos. De santo Bartô não tem nada, embora seja incapaz de fazer mal a alguém que não mereça. Se merecer... aí o sangue sertanejo se encontra com o espírito do conterrâneo Lampião e não tem passarinho que o segure.

Mas de uns tempos para cá o pessoal tem desconfiado que o santo de Assis tem iluminado o rapaz. Dia desses ele recolheu uma rolinha em dificuldade; parecia desnutrida, pernas fracas e plumagem rala. Foi colocada numa gaiola e ganhou tratamento vip, com comidinha no bico e carinho no cocuruto.

Vez por outra, Bartô colocava a rolinha na palma da mão para cuidados extras, até que a bichinha - acredita-se que é uma fêmea - começou a se recuperar. Ela já voava, mas não ia longe, se contentava com os limites do terreno, comia na tigelinha, até que um dia deu de pousar nos ombros do Bartô, como faziam os passarinhos da imagem do santo.

Houve uma recaída e a rolinha teve que voltar para a gaiola, em novo tratamento intensivo, mas voltou a se recuperar, ganhando novamente a liberdade de escolher por onde voar e piar. Todo o processo foi registrado em vídeo pelo telefone do Bartô, talvez como forma de se defender dos descrentes.

Recentemente, a rolinha — que ainda não ganhou um nome — voltou depois de passear um pouco pelas redondezas e foi novamente instalada na gaiola. Desta vez não houve problema de saúde, já que está recuperada.

Mas o superprotetor papai Bartô está preocupado com a violência das chuvas; não quer que a bichinha se molhe e nem que tenha que voar entre raios e trovões. Acredita que, mesmo presa, a rola está feliz, porque canta o tempo todo. E jura que, quando ele chega perto, os olhinhos brilham.

Os amigos acreditam que quando a seca chegar Bartô vai arrumar outra desculpa para manter o passarinho por perto. Desconfiam que ele não vive mais sem a rolinha.

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