Aniversário de Ceilândia

A "quebrada" como ela é: Ceilândia Muita Treta é fenômeno nas redes

Grupo que relata os problemas da cidade nas redes sociais conversa com o Aqui, conta um pouco da história do Ceilândia Muita Treta e dos momentos marcantes

"O bagulho tá louco na quebrada". Para quem mora em Ceilândia, ouvir essa frase remete ao grupo que traz os problemas da região administrativa com uma pegada humorística nas redes sociais - (crédito: Carlos Vieira/CB)
postado em 27/03/2024 06:00

"O bagulho tá louco na quebrada". Para quem mora em Ceilândia, ouvir essa frase remete ao grupo que, há mais de 10 anos, traz os problemas da região administrativa com uma pegada humorística nas redes sociais. O Ceilândia Muita Treta foi criado por Naldo Lopes, 37 anos, que começou tudo em 2012. "Trabalhava em um mercado e, no meu tempo livre, acabei criando a 'Expansão do Setor O' (nas redes), em que falava das mazelas, memes e notícias do local onde morava", comenta.

"Só que chegou um momento em que pessoas de outros locais começaram a pedir para falar sobre suas localidades. Isso fez com que tivesse a ideia de criar uma página para Ceilândia", afirma Naldo. Segundo ele, a ideia do nome veio de quando ia para outras regiões do DF e dizia de onde era. "A primeira resposta era um 'vixe'. Na hora, me veio uma música do Apocalipse 16 e daí surgiu o Ceilândia Muita Treta", recorda.

Naldo diz que, no começo, o público tinha uma ideia de que a página era algo para falar sobre os crimes que aconteciam na região. "Só que depois entenderam que ela é mais voltada para o meme, só que mostrando os problemas de Ceilândia, um humor misturado com notícias", descreve. O engajamento foi crescendo e, com isso, veio a necessidade de novos membros para o grupo, conforme lembrou o criador da página. "Em 2014, entrou o Davi para me ajudar a gravar os vídeos. Depois, em 2020, veio a Byanca, para gravar os quadros de humor e as divulgações. Em 2022, veio a Naty, que passou a cuidar mais da parte administrativa da página", detalha.

Engajamento

Segundo Naldo, mesmo sendo nascido e criado em Ceilândia, somente depois que criou a página na internet ele começou a entender mais um pouco sobre a região. "Já amava essa cidade, mas depois do 'Ceilândia Muita Treta', passei a amar ainda mais", afirma.

"Tivemos alguns momentos marcantes, como o Palhacinho Muita Treta e o Lobisomem da Ceilândia, que repercutiram nacionalmente. Também teve a caçada ao Lázaro, em que a nossa página foi um dos primeiros veículos de comunicação a chegar", recorda o fundador do grupo, ressaltando que foi a partir desses momentos que percebeu que deveriam se engajar de vez na página.

"Espero que, com o Ceilândia Muita Treta, a gente consiga um parque, a melhora nas vias e ciclovias, um teatro, um cinema, um shopping e muitos outros equipamentos públicos", deseja Naldo.

Memórias

Para comemorar o aniversário da cidade, o Aqui pediu que os quatro integrantes lembrassem de sua infância em Ceilândia, como acham que está agora e como querem que esteja daqui a 53 anos. Naldo Lopes ressaltou que sempre morou no "fundão" de Ceilândia. "O pouco que lembro da minha época de infância é que era uma cidade completamente sem estrutura. Faltava água e energia direto. Com o passar do tempo, a cidade foi crescendo e, atualmente, considero como a mais importante do DF", afirma. "Espero que daqui a 53 anos, ela esteja bem organizada, sem violência, que vire um ponto turístico e pessoas de outras partes do país venham para o DF visitar Ceilândia. Tudo isso para que a cidade se torne ainda mais o que ela é, o coração do DF", acrescenta.

Byanca Lapa, 23, lembrou das brincadeiras de infância na rua. "Brincávamos muito de pique-esconde e pique-pega. Hoje em dia, não vejo tanto mais isso. Por causa da tecnologia, os jovens estão mais conectados ao celular. Além disso, os pais também não confiam tanto em deixar seus filhos na rua, por medo da violência", lamentou. "No futuro, espero que Ceilândia vire um ponto turístico, tenha mais educação e que invistam em mais lazer, principalmente para as crianças, que são o nosso futuro. A gente sempre quer o melhor para a nossa 'quebradinha'", ressaltou.

Luiz Davi, 23, contou que cresceu morando entre o Setor O e a QNQ. "Via uma cidade muito perigosa, pois vivíamos conflitos entre as quadras. Ver o que Ceilândia mudou de lá para cá, dá orgulho. Só que ela pode crescer ainda mais", avaliou. "Somos cercados pela polícia, quando deveríamos estar cercados pela educação, que é o que falta para combater a criminalidade que nos assombra", destacou. "Daqui a 53 anos, espero que Ceilândia seja muito mais limpa, educada e que a gente tenha conseguido tirar esse rótulo de cidade criminalizada", comentou.

Naty Silva, 28, reforçou que, desde criança, via Ceilândia com a cultura nordestina muito enraizada. "Hoje em dia, a tradição se mantém muito forte, temos o forró, os 'véi' do dominó, as feiras", destacou. "Espero que daqui a 53 anos essas culturas se mantenham, mas sejam reconhecidas de verdade pelo governo. Além disso, espero que os 'véi' do dominó tenham dominado o mundo e que Ceilândia tenha uma caixa d'água três vezes maior do que a atual", brincou Nathy.

 

 


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