Além do acesso a uma alimentação saudável, saber de onde a comida vem também faz bem. Hortas comunitárias são a oportunidade de levar educação ambiental e segurança alimentar para comunidades, escolas, unidades de saúde e outros espaços de uso público do Distrito Federal. O engenheiro agrônomo e gerente de agricultura urbana da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Rogério Lúcio Viana Júnior, explica que esses espaços são um fenômeno mundial e que surgiram como uma solução para a produção de alimentos sem agrotóxico e de baixo custo.
"Também são uma forma de propiciar segurança alimentar e geração de renda em comunidades mais carentes, que aprendem sobre sustentabilidade. Estimula-se, com as hortas, a captação da água da chuva e a reciclagem de resíduos orgânicos, que barateia ainda mais os custos da horta e controla o fluxo de materiais para os aterros sanitários", acrescenta o gerente.
Rogério explica que a Emater trabalha no âmbito educativo, na orientação e estímulo na construção de hortas. Ele conta que a empresa já apoiou o desenvolvimento delas em locais como unidades escolares, de saúde e socioeducativas.
Iniciativa pedagógica
O professor de geografia da Secretaria de Educação do DF Georlando Alves Menezes, 55, sempre teve contato com o trabalho rural, por meio de sua família, de Quixadá (CE). Ele é o criador do Projeto Germinar, iniciativa pedagógica que atende alunos do Centro de Ensino Especial 2, na 612 Sul, onde leciona, e de outras unidades educacionais públicas e privadas, agendadas previamente.
Nos fundos da escola onde trabalha, 50 mil metros quadrados são destinados para o plantio de diversas espécies de hortaliças, frutíferas e de ervas medicinais. “O foco é a complementação da merenda escolar e tratar da relação ensino e aprendizagem, onde os alunos terão conhecimento de educação ambiental, sustentabilidade e importância da conservação do meio ambiente”, explica Georlando, que criou o projeto em 2005.
No canteiro das hortaliças, coentro, cebolinha, alface, manjericão, espinafre, agrião, tomate e pimentas de cheiro, malagueta e dedo de moça brotam dos canteiros suspensos ao lado do pátio da escola, assim como ervas , como mastruz, hortelã, tomilho e rúcula. “A horta ensina a importância de uma alimentação saudável, sem defensivos químicos, o que vai refletir nas qualidades de vida e de saúde das pessoas”, aponta o docente.
“É um projeto que atende o interesse público, mas ainda carece de recursos públicos para alavancar a iniciativa e levá-la como modelo para outras unidades escolares”, informa o professor, que, junto a outro professor da unidade, Antônio Francisco da Silva Melo, 47, tiram dinheiro do próprio bolso para que o Projeto Germinar continue existindo.
Antônio é encarregado da agrofloresta que fica logo ao lado da horta. Nela, gengibre, açafrão da terra (cúrcuma), coité, taioba, graviola, abacate, acerola, abacaxi, café são algumas das espécies que formam um verdadeiro mosaico de culturas no espaço. “A primeira coisa é o clima. Temos uma escola baixa, onde faz calor, e, quando a pessoa entra nesse ambiente, ela encontra um lugar 5 graus frasco. Também temos a biodiversidade que é uma riqueza de alimentos orgânicos e de sabores que a mãe natureza proporciona”, responde ao ser perguntado sobre a importância da criação da agrofloresta.
Só de bananas são sete variedades: naniquinha, roxa, marmelo, ourinho, prata nanica, prata grande e maçã. Na roça, milho, feijão, fava e mandioca são mais algumas das espécies que Antônio cuida com muito carinho. “Como não é monocultura, temos uma grande diversidade de comida em um espaço pequeno, sem contar a variedade de animais, entre insetos e pássaros, que começaram a aparecer com o desenvolvimento da agrofloresta. É um microecossistema que se cria”, diz com orgulho. É tanta variedade de espécies, que Antônio não conseguiu precisar a quantidade exata para a reportagem.
Referência para a ONU
A horta comunitária Girassol, localizada na Quadra 12 do Morro Azul, em São Sebastião, é uma das maiores em área urbana do Distrito Federal. Ela começou após um episódio triste de um surto de hantavirose, doença transmitida pela urina, saliva e fezes de ratos silvestres, que ocorreu em 2005, na cidade. No local onde hoje é a horta, o lixo acumulado foi um dos responsáveis pela tragédia que matou moradores de São Sebastião.
Após a limpeza do local, a administração regional deixou o cuidado do terreno a cargo da comunidade, que decidiu fazer ali uma horta. Com apoio e orientação da Emater, a iniciativa começou com apenas dois canteiros. “De lá para cá, só cresceu. Hoje, temos 10 pessoas envolvidas diretamente com a horta, fora os voluntários que nos ajudam com cursos de capacitação”, informa Hozana Alves do Nascimento, 52 anos, presidente do Instituto Horta Girassol.
A horta fez e faz tanto sucesso que chamou a atenção até da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2017, o órgão internacional selecionou quatro hortas brasileiras consideradas exemplo de agricultura urbana. A Girassol foi uma delas.
A horta serve alimento para 20 famílias que recebem semanalmente uma cesta de alimentos por meio de pagamento e a uma creche que recebe doações do que é produzido. O excedente é vendido para a comunidade. Banana, mamão, limão, alface cenoura, beterraba, milho, feijão, abóbora, alecrim, pimenta, capim-santo, erva cidreira, hortelã, taioba, ora-pro-nobis e inhame são algumas das espécies cultivadas no local.
“A horta fez São Sebastião ganhar visibilidade. Tudo é orgânico e a água é da nascente. Para mim, a horta é como um quinto filho, que trato com muito amor e cuidado. Com ela, consegui estudar. Hoje, sou técnica em meio ambiente. Um dos meus filhos se formou em agronomia pela Universidade de Brasília e uma filha está no curso de veterinária”, orgulha-se a presidente.
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