TRÂNSITO

Ciclistas vítimas de atropelamento no SIA pedem justiça

Advogado dos cinco ciclistas atropelados na sexta-feira (5/4) trabalha para que o condutor responda por tentativa de homicídio dolosa. Polícia diz que um pedestre também foi vítima

"É triste, ele já cometeu o mesmo crime e está solto", disse Hebert Geovane Alves, 26 anos - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

"Lembro da hora em que estávamos caminhando na calçada e, daí, só vimos o baque e o barulho do carro vindo 'pra' cima". Com o olho roxo, uma fratura na face, outra no ombro, dores no peito e nas costas, Erlano Giovanni Santos, 26 anos, contou ao Correio os momentos de aflição que viveu, ao lado de cinco amigos, na noite da última sexta-feira (5), quando foram atropelados por Allan das Chagas Araújo, 32 anos, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) enquanto voltavam para casa depois do trabalho. 

O motorista está preso na Papuda. Nessa segunda-feira (8/9), quatro dos cinco ciclistas prestaram depoimento na 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) e fizeram exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML).

Os ciclistas vieram da Bahia para trabalhar como garçons na churrascaria Nativas e moram no mesmo alojamento. Juntos, faziam o mesmo caminho diariamente, no Cruzeiro. Eles foram atropelados poucos minutos após entrarem na pista. "O carro pegou todo mundo de uma vez só, empurrou a gente na grade e, depois, saiu arrastando eu e o Antônio Carlos, que foi o nosso amigo mais ferido", lembrou Henrique. Segundo ele, o veículo estava em alta velocidade e, em nenhum momento, receberam socorro do motorista. Disse que o condutor tentou deixar a cena, mas um outro colega, que estava junto, mas não foi atingido, conseguiu contê-lo. Henrique foi arrastado, sofreu escoriações na orelha e, durante a entrevista, queixava-se de dor no peito.

Os colegas estão abalados, principalmente pela situação de Antônio Carlos Rodrigues, 30, que sofreu fraturas em várias partes das duas pernas e passou por cirurgia nessa segunda-feira (8/9), no Hospital de Base. O advogado das vítimas, Roani Pereira do Prado, informou que Antônio colocou pinos e deve passar por nova cirurgia. Por isso, não há previsão para alta. "Estamos trazendo a família dele da Bahia para cá. Alugamos um lugar para ficarem, porque ele vai precisar de acompanhamento todos os dias", detalhou o advogado.

"É triste, ele já cometeu o mesmo crime e está solto, mas, agora, é esperar pela Justiça", desabafou Hebert Geovane Alves, 26, que quebrou o braço, sofreu um corte na cabeça e levou cinco pontos. Abatido, relatou que permaneceu no hospital das 23h de sexta-feira às 16h de sábado. Também foi atingido Adriano Miranda, 50. Todos estão afastados do trabalho.

Investigação

O delegado responsável pelo caso, Victor Dan, da 3ª DP, disse que a investigação analisará filmagens e ouvirá testemunhas para confirmar as informações sobre ingestão de bebida alcoólica, alta velocidade e omissão de socorro, além de checar com o Detran-DF a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), desde 2015. Victor Dan acrescentou que um pedestre também foi atingido. "Até o momento, pelos indiciamentos realizados, ele pode pegar de três a oito anos de reclusão", assinalou. A pena poderá sofrer alterações conforme o avanço do caso. 

O advogado das vítimas afirmou ao Correio que está trabalhando para que Allan seja julgado por cinco tentativas de homicídio dolosas (quando há intenção de matar). "Os fatos são graves. Estamos falando de um acusado que já teve condenação, referente ao mesmo ato, e que tem outros problemas", declarou Raoni.

Antecedentes

O autor do atropelamento no SIA é reincidente. Allan foi condenado, em 2012, por homicídio culposo. Em março daquele ano, na BR-020, ele atropelou um caminhoneiro que estava no acostamento da rodovia fazendo reparo no veículo. A vítima foi socorrida, mas morreu no dia seguinte. 

Allan das Chagas Araújo, esta  preso por atropelar 5 ciclistas no Setor de Industria
Somando as penas por seus crimes, Allan já cumpria mais de 14 anos (foto: Redes Sociais)

O nome de Allan consta em outras ocorrências policiais. Em duas delas, em abril de 2019, ele foi flagrado pela polícia alcoolizado dirigindo uma motocicleta, na Asa Sul, e pegou oito meses de cadeia. Em outro processo, de 2022, ele respondeu por tráfico de drogas, e foi condenado a sete anos de prisão.

De acordo com o relatório da Vara de Execução Penal (VEP), considerando todas as condenações, Allan cumpria, atualmente, uma pena total de 14 anos e sete meses, em regime semiaberto. Ele não deveria estar fora de casa depois das 22h, mas atingiu os ciclistas por volta das 22h20. 

O Correio procurou a defesa de Allan, mas, até o fechamento desta edição, não houve retorno.

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 09/04/2024 06:00
x