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Regiões do Distrito Federal não tem cobertura verde uniforme

Mesmo sendo uma das regiões com maior número de árvores, o DF não conta com uma cobertura uniforme. O Correio foi a alguns pontos do território candango e constatou a diferença. Novacap busca reverter a situação

Ronaldo diz que arborização do Sudoeste melhora qualidade de vida -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Ronaldo diz que arborização do Sudoeste melhora qualidade de vida - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Brasília é uma das capitais mais arborizadas do Brasil — o índice de área verde é quatro vezes maior que o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde, de 12 m² por habitante. Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte são exemplos de regiões privilegiadas no quesito e que favorecem a estatística. No entanto, há, ainda, localidades que vivem uma realidade distinta, como Itapoã, Sol Nascente e Estrutural. Hoje, são 5,5 milhões de árvores e o objetivo do governo do Distrito Federal é chegar a 6 milhões, cobrindo todo o DF, nos próximos anos.

Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB (FAU-UNB), opina que são necessários planos diretores locais e ações das administrações regionais dirigidos à arborização. "Não há razão para ter bairros áridos e cinzas, e a maioria dos bairros de Brasília é cinza", lamenta.

De acordo com o professor, a capital federal tem sido ultrapassada em arborização por cidades como, Porto Alegre, Goiânia, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Belo Horizonte e Campinas. "Nós já estivemos nos primeiros lugares, mas temos caído nesse ranking nacional. A expansão urbana de Brasília não é arborizada até agora. Por isso, é muito importante o investimento", afirma. "Onde existe um grande poder econômico, há mais áreas verdes, mais arborização", completa Flósculo.

Símbolo de vida

Carlos Rossetti, professor do Departamento de Engenharia Florestal da UnB e pesquisador de ciências ambientais, chama atenção para a importância da arborização no DF. "As árvores são um símbolo de vida, de qualidade de vida, de beleza estratégica e cênica, que deve ser considerada como um todo, de maneira integral", reflete.

É necessária uma medida educativa, na óptica do especialista. "Precisa de um aparato instrumental, pessoas treinadas e recursos tecnológicos para conseguir manter a arborização cada vez mais presente. Investimento em pesquisa, tecnologia e educação, tudo isso facilita para que a arborização seja respeitada e que também seja uma meta do governo", comenta.

Esses benefícios são percebidos por Cristina Pierre, 47 anos, moradora da Asa Norte. Para ela, viver em um ambiente arborizado é como respirar a natureza. "Amo esses lugares — cheios de árvores —, faço trilhas constantemente e não há palavras para descrever o quão bom é morar em locais como esses. Eu acordo e ouço os pássaros cantando, isso é muito legal. Fico olhando as árvores e como elas são cheias de vida, é como se fosse uma terapia", descreve.

Morador de uma das regiões mais verdes do DF, o Sudoeste, Ronaldo Lima, 41, também relembra benefícios que essa condição traz. "Em frente à minha residência existem diversas áreas verdes. Isso deixa o clima muito agradável. Sem contar que conseguimos nos conectar com a natureza. Outro dia, eu estava vendo araras na frente da minha casa, isso é incrível", conta.

  • Ronaldo diz que arborização do Sudoeste melhora qualidade de vida
    Ronaldo diz que arborização do Sudoeste melhora qualidade de vida Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Anna lamenta Itapoã não ter árvores como a área central de Brasília
    Anna lamenta Itapoã não ter árvores como a área central de Brasília Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Marcos Gonçalves questiona porque o Sol Nascente ainda tem poucas áreas verdes
    Marcos Gonçalves questiona porque o Sol Nascente ainda tem poucas áreas verdes Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  •  Para Cristina Pierre, da Asa Norte, árvores têm efeito terapêutico
    Para Cristina Pierre, da Asa Norte, árvores têm efeito terapêutico Kayo Magalhães/CB/D.A Press
  • Sol Nascente sofre com a poeira
    Sol Nascente sofre com a poeira Kayo Magalhães/CB/D.A Press

Carência

Morar em uma região pouco arborizada é muito complicado e, com tantas construções, o ar fica impuro. É como avalia Anna Luyza da Silva, 19, moradora do Itapoã. "Deveriam existir campanhas incentivando o plantio de árvores, pois elas são essenciais para as pessoas. Além da melhora na qualidade de vida, as árvores embelezam a paisagem, diz Anna. "Não temos parques cheios de árvores como nas áreas centrais de Brasília. Isso seria muito legal para ir com a família ou amigos.", destaca.

Sol Nascente é uma das regiões mais carentes de verde do DF, segundo a Novacap. Marcos Gonçalves, 47, reclama da situação. "Não temos árvores para dar uma quebrada no calor. Isso é um fator que prejudica a qualidade de vida das pessoas da cidade", menciona.

O morador avalia que a cidade tem estrutura suficiente para o plantio de árvores. "Se você observar a maioria das ruas do Sol Nascente, temos locais vazios onde poderiam ser colocadas plantas ou algo verde. Na minha opinião, falta um pouco de vontade por parte de todos. Essa iniciativa mudaria a vida das pessoas que moram na região", enfatiza.

Projeções

Para equilibrar a balança, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) lançou, em fevereiro, o Programa Anual de Arborização de 2024. A meta é arborizar todas as regiões administrativas. Este ano, a previsão é de 100 mil árvores nativas do Cerrado, especialmente os ipês. Até o momento, foram plantadas 20 mil mudas no Itapoã, Paranoá e Noroeste.

De acordo com a Novacap, o trabalho será retomado em outubro, com a previsão de chegada do período chuvoso, e finalizado em dezembro. "Estamos trabalhando junto aos órgãos, às administrações regionais e à comunidade a fim de identificar demandas e realizar estudos da viabilidade técnica para um resultado positivo", afirma o órgão.

*Estagiários sob a supervisão de Malcia Afonso

 

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postado em 05/08/2024 06:00
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