Investigação

Teatro do crime: ex-segurança enganou policiais e trabalhou para o tráfico

Diogo Aparecido Barbosa Santos foi preso ao transportar R$ 1 milhão em cocaína de Goiânia (GO) para Brasília. Ele criou intimidade com policiais, administrou grupos de WhatsApp das forças de segurança e se passava por policial penal e militar

Ex-segurança foi preso pela Cord -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Ex-segurança foi preso pela Cord - (crédito: Material cedido ao Correio)

Com uma rede de disfarces e mentiras, Diogo Aparecido Barbosa Santos, preso ao transportar R$ 1 milhão em cocaína de Goiânia (GO) para Brasília, montou uma engenharia social para criar vínculos com policiais, captar informações sigilosas e participar de grupos operacionais na internet. A estratégia era sustentada por uma camuflagem tão convincente que enganava até mesmo pessoas próximas do criminoso. Diogo se dizia policial penal, policial militar do Estado de Goiás e, por vezes, segurança de autoridades. Segundo a Polícia Civil (PCDF), a farsa era essencial para o esquema de transporte de drogas.

Diogo foi preso em uma operação desencadeada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), na segunda-feira (27/1), ao ser abordado em um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na BR-060. No porta-malas do carro em que estava, ele escondia 22 tabletes de cocaína que seriam entregues em um edifício localizado em Samambaia. Com ele, estavam uma mulher e uma criança de 7 anos, filho dela.

Homem se passava por policial
Homem se passava por policial (foto: Material cedido ao Correio)

No momento da abordagem, Diogo vestia o uniforme do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Goiás. O Correio apurou que o criminoso integrou a equipe de profissionais da área e prestou serviço na cidade de Águas Lindas (GO), mas deixou o cargo no ano passado. Dessa vez, ele usou os trajes de maneira estratégica.

Disfarces

A reportagem obteve acesso à ata da audiência de custódia com detalhes sobre o depoimento da mulher que o acompanhou na viagem de Brasília para Goiânia. Ela afirma conhecer Diogo há 10 anos, mas só começaram a se relacionar há dois meses. Nesse período, ele se apresentava como policial militar lotado na Companhia de Policiamento Especializado (CPE/PMGO).

Embora nunca tenha o visto com a farda da corporação, ela disse que ele postava fotos nas redes sociais em ambulâncias do Samu. No domingo (26/1), Diogo ligou para a mulher pedindo que ela o acompanhasse até a capital goiana, pois lá ele passaria por um curso do Samu. Alegando cansaço, solicitou que ela dirigisse. Os dois saíram de Samambaia e seguiram para Goiás no mesmo dia.

O primeiro destino em Goiânia foi a casa de uma parente de Diogo, mas o imóvel estava vazio. A mulher ficou com o filho no imóvel e Diogo disse que iria para o curso e passou a tarde fora. Na manhã de segunda, eles retornaram para Brasília. Segundo a moça, Diogo fez questão de pegar as bagagens e arrumá-las no porta-malas. Reiterou que desconhecia de drogas no compartimento.

Acessos

O Correio apurou que Diogo se dizia, ainda, policial penal de Goiás e, mesmo sem ser integrante das forças, chegou a administrar e integrar grupos de WhatsApp de policiais. Entre eles: os grupos denominados Polícia 24 horas, Stives Padrão e Apoio e Ocorrências. Ele atuou na segurança de um ex-deputado de Águas Lindas.

As trocas de mensagens nesses grupos envolvem a publicação de operações, presos, foragidos, perseguições, entre outros. Tudo isso de fácil acesso a Diogo, que esbanjava nas redes sociais fotos tiradas com outros policiais. Uma forma, segundo as investigações, de mostrar “camaradagem” e intimidade.

Em 2016, Diogo foi preso e denunciado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) por se passar por agente penitenciário na Unidade Prisional do Sucupira e do Fórum da Comarca de Valparaíso de Goiás. No documento do MP, consta que um dos policiais penais auxiliou Diogo para atuar falsamente no cargo. Ele, inclusive, usava uniformes dos agentes, portava armas e usufruiu de produto de crime contra o patrimônio.

Na época em que foi preso, apresentou um documento falso e se declarou policial penal. De acordo com o MPGO, a usurpação da função pública era para angariar prestígio pessoal e conquistar a confiança de proprietários de estabelecimentos comerciais que contratavam os serviços dele de segurança clandestina no DF e Entorno.

O delegado Luiz Henrique, da Cord, conduziu a operação que prendeu Diogo. Segundo ele, a droga transportada avaliada em R$ 1 milhão simboliza que o criminoso era uma pessoa considerada de alta confiança dos traficantes contratantes. “Para alcançar essa condição, (o autor) fez muitos transportes anteriormente”, pontuou.

Na segunda-feira, Diogo foi preso e autuado em flagrante por tráfico interestadual de drogas e posse de munição de calibre restrito. A Justiça decretou a prisão preventiva dele em audiência de custódia.

 

Darcianne Diogo
postado em 28/01/2025 23:12 / atualizado em 28/01/2025 23:12
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