
Em meio a protestos, a operação da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) para derrubada de residencias e de um prédio na Rua 2, Chácara 19, da Colônia Agrícola 26 de Setembro, prosseguiu nesta terça-feira (04/2). Em um ato desesperado, o bombeiro civil Fábio Ferreira Barbosa, 39 anos, e a esposa dele, a professora Suzana Pereira da Silva, 42, subiram no telhado de casa para tentar evitar a demolição.
Os dois receberam o apoio da vizinhança, que gritava para que não descessem. A situação ficou tensa quando um manobrista da DF Legal conduziu um trator em direção à construção para intimidar o casal, mas acabou recuando. Apesar do ato de resistência, os dois desceram do telhado, e a casa foi demolida.
A ação começou na segunda-feira e continua nesta quarta-feira (05/2), segundo a secretaria. No primeiro dia, a DF Legal demoliu três edificações em construção e iníciou a remoção de um prédio, além de pouco mais de 500 metros de muro. Na terça-feira, foi dada continuidade à derrubada do prédio em construção e de outras duas edificações. Postes de condução de energia clandestina foram removidos, além de cerca de 100 metros de muros. A pasta informa que a operação continuará hoje, com a demolição do prédio e a remoção de uma estrutura localizada ao lado.
De acordo com Miguel Rodrigues, presidente da Associação de Moradores da 26 de Setembro, o terreno afetado conta com 25 lotes, dos quais quatro estão ocupados por famílias que resistem à desocupação. A ação faz parte de uma série de medidas para coibir parcelamentos irregulares na área, que, segundo a DF Legal, será destinada a equipamentos públicos.
Diálogo
Populares reclamaram da falta de diálogo dos órgãos responsáveis pela derrubada e da ausência de notificações prévias sobre as demolições. "Estava no plantão e, quando soube da operação, corri para casa. Não fui notificado em momento algum. Subi no telhado porque era a única coisa que me restava fazer. Eles me ameaçaram com a polícia de choque, disseram que eu sairia dali preso por resistência. Nunca me senti tão impotente. Desligaram minha água, minha luz, e agora estou aqui, sem saber para onde ir com minha família", lamentou Fábio Ferreira ao Correio.
Ele conta que se mudou para a 26 de Setembro há três anos, com o objetivo de conquistar uma vida melhor para a esposa e os filhos. O bombeiro civil destaca que o sentimento após essa operação é de abandono e indignação. "Se é uma questão legal, por que não me notificaram antes? O mínimo que eu esperava era respeito. Hoje fui eu, amanhã pode ser qualquer um", enfatizou.
Ernanes Carvalho, 41 anos, comerciante local, expressou sua frustração com a forma como a operação foi conduzida. "A gente mora aqui há cinco anos. A minha loja é na frente, mas a casa é no fundo. Eles não me notificaram, não falaram nada. A ordem de derrubada não é para casa, é para o prédio. Estão tirando nossas coisas à força. Minha família está rodando por aí, chorando, sem saber para onde ir", declarou.
O presidente da Associação de Moradores da 26 de Setembro também criticou a ação. "O que causa espanto é que, para derrubar um prédio, tiveram que derrubar todas as casas ao redor. Não somos contra derrubar o que está irregular, mas o que vemos é o sofrimento da comunidade", ressaltou.
A DF Legal informou que a operação faz parte de um esforço contínuo para coibir parcelamentos irregulares. O número de ações de desobstrução mais do que triplicou de 2023 para 2024 na 26 de Setembro, passando de cinco para 16 operações.