
O deputado distrital Fábio Félix (PSol) foi o entrevistado do Podcast do Correio, nesta quarta-feira (5/2). No bate-papo, conduzido pelos jornalistas Adriana Bernardes e Roberto Fonseca, o parlamentar abordou o Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT). "Esse talvez seja o grande debate do ano", afirmou ele, que comentou, ainda, sobre o papel da esquerda na política local e adiantou que colocou seu nome à disposição do partido para tentar uma vaga no Congresso Nacional em 2026.
"Esse plano define praticamente tudo na cidade, e é algo sobre o qual precisamos ouvir a população. Ele define desde onde ficará a parada de ônibus até onde será construído um posto de saúde, se haverá condomínios, quantos andares os prédios poderão ter. É crucial porque impacta o acesso à habitação e à definição de áreas comerciais. Esse talvez seja o grande debate do ano. O desafio da CLDF será garantir um amplo debate, evitando que o projeto seja aprovado às pressas no Legislativo", explicou.
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Fábio Félix também fez uma análise sobre o espaço que a esquerda ocupa no cenário político e destacou as metas do Psol para as próximas eleições. Ele revelou, inclusive, que colocou seu nome à disposição da legenda para disputar uma vaga como deputado federal. "Acredito que o cenário está aberto para mudanças. Estamos no fim do segundo mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB), o que abre espaço para novas disputas políticas. Não acredito que o DF seja necessariamente de direita. Será uma disputa acirrada. Queremos fortalecer o PSol, que é um partido em crescimento, aumentar nossa bancada e levar alguém ao Congresso Nacional. E eu coloco meu nome à disposição para esse desafio", adiantou o deputado.
Ao comentar sobre as recentes eleições municipais, que tiveram um grande predomínio de políticos de centro-direita, Félix refletiu sobre o papel da esquerda. "Será que as pautas da esquerda estão encontrando ressonância na população? Eu acredito que as eleições municipais sempre foram marcadas por pragmatismo e, muitas vezes, oportunismo. Mas essas eleições devem nos levar a uma reflexão: precisamos entregar aquilo que a população espera. Não é fácil, mas é necessário organização para atender às expectativas das pessoas de forma prática."
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Resistência
O deputado também criticou os retrocessos nos direitos humanos e da população LGBTQIAPN+ na nova gestão de Donald Trump nos Estados Unidos. "Retiraram a sigla LGBT dos sites oficiais do governo. Fazer isso não elimina a existência dessa população, mas essa influência internacional foi terrível e precisamos construir uma resistência global para evitar retrocessos civilizatórios. Hoje, o discurso é contra pessoas trans; amanhã quem será o próximo alvo?", alertou.
Félix aproveitou para abordar os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAPN+ no Distrito Federal. "Nós existimos e, nos últimos 10 anos, vivemos uma revolução cultural de aceitação, fruto da nossa luta. Quando eu me assumi como homem gay, enfrentei muitas dificuldades. Não dávamos as mãos aos nossos parceiros em público, não falávamos sobre nossa orientação sexual e éramos confinados a guetos. Hoje, sou casado no papel com meu marido. Esse é um avanço, resultado de anos de luta. Apesar disso, ainda vivemos em um ambiente de violência e medo, mas com um pouco mais de dignidade", afirmou.
O parlamentar destacou que, em breve, serão divulgados dados oficiais sobre as denúncias recebidas pela Comissão de Direitos Humanos do DF ao longo de 2024. "Isso me preocupa muito porque foram inúmeros casos de violência em espaços públicos e estabelecimentos comerciais, como bares, restaurantes e até no metrô. Tivemos um caso de agressão verbal contra um homem gay em um bar, que acabou na delegacia. Essa violência gratuita precisa ser combatida", alertou.
Félix também falou sobre as dificuldades enfrentadas no ambulatório trans do DF, que atualmente conta com cerca de 200 pessoas na fila de espera. "O ambulatório trans, que funciona no Hospital Dia, na Asa Sul, oferece atendimento com psiquiatras, endocrinologistas, clínicos gerais e enfermagem. Embora já atenda uma parcela significativa da população trans, é insuficiente. Precisamos ampliar o serviço e contratar mais profissionais", apontou.
População de rua
O deputado comentou, ainda, sobre a situação da população em situação de rua ressaltando que se trata de um problema social complexo, que exige políticas integradas de diferentes secretarias. "Essa questão não se resolve com um decreto ou uma canetada. É preciso um grupo de trabalho, formação, qualificação, equipes de intervenção e políticas habitacionais permanentes. Hoje, temos um déficit habitacional de mais de 100 mil moradias no DF. Precisamos enfrentar essa realidade para avançar no cuidado com a população em situação de rua", concluiu.